Por Samuel Celestino - A Tarde:
Os militantes do PT condenados pelo Mensalão, no Supremo Tribunal Federal, articulam uma mobilização nacional em resposta ao julgamento que os condenou. Perdem tempo e desgastam um partido já aluido e, com ele, o ex-presidente Lula, que, mais uma vez, foi surpreendido (ou não?) pela Operação Porto Seguro da Polícia Federal, que prendeu figurões por ele nomeados entre os quais a chefe do gabinete da Presidência em São Paulo. Da Índia onde se encontra, o ex-presidente disse o que todos costumam dizer, ao receberem informação semelhante: “Me sinto apunhalado pelas costas”. É. Pode ser. Rosemary Noronha foi, por dez anos, secretária de Dirceu e nomeada por Lula para acabar demitida por Dilma, que continua limpando o terreiro que herdou. É impossível que alguém, com tanto tempo ao lado da secretária, não a conhecesse. Se é que não foi lá que apreendeu a pratica da maracutaia.
Com os últimos acontecimentos é muito provável que a manifestação Brancaleone (ver parágrafo abaixo) dos condenados por corrupção não prospere. E que a ideia de formar um exército político esfarrapado seja sepultada. Na semana passada, os políticos mensaleiros se reuniram com cerca de mil petistas, segundo eles “da velha guarda”, para discutir o movimento nacional pretendido. Nomes importantes do partido, inclusive o presidente nacional, Rui Falcão, não compareceram. Certamente receberam ordens de cima. O PT emitiu sinais contrários à manifestação que os condenados pelo Mensalão pretendem ou pretendiam articular.
É possível que boa parte dos leitores deste espaço tenha conhecimento do “Incrível Exército de Brancaleone,” um fantástico e clássico filme de Mário Monicelli, produzido na Itália em 1965. Seu elenco respeitável foi composto por Vittorio Gassman, Gian Maria Volanté e Catherina Sapaak. A “Armata Brancaleone” utilizou os costumes medievais, numa paródia a D. Quixote, de Miguel de Cervantes. O filme conta a história de um mini-exército esfarrapado que percorre a Europa em busca de um feudo. Monicelli usa a sátira para visualizar a decadência social da idade média, especialmente a decadência do mundo feudal com a Igreja católica. É possível transpor, sem muita diferença, o roto exército para o que imaginam os mensaleiros petistas condenados pelo Supremo. Imaginaram percorrer o Brasil em “guerra” contra o STF.
Já usei Brancaleone em outros textos, mas agora é impossível deixá-lo ao lado sem comparar o incrível exército esfarrapado com o que José Dirceu e petistas da velha guarda projetam comandar Brasil a fora, combatendo seus moinhos de vento que, no caso, é o Supremo Tribunal Federal. É perda de tempo, assim como Lula perde prestígio em relação a Dilma, como pode ser notado na última pesquisa da semana que passou. E perde por ter dado espaço a tantos corruptos, tal como aconteceu na última operação da Polícia Federal, a Operação Porto Seguro, que atingiu a chefe do gabinete da Presidência da República em São Paulo, Rosemary Noronha.
O castelo da corrupção está a desmoronar enquanto o ex-presidente faz silêncio. Ademais, o que foi feito com a ABIN, que tinha a obrigação de investigar o que acontece em torno da Presidência da República? Desapareceu. Em seu lugar, assumiram a Polícia Federal e o Ministério Público.
As razões da falência dos mensaleiros e do seu “exército” são de fácil compreensão. A presidente Dilma Rousseff (e mais parte do PT) sabe que o movimento fatalmente descambaria para uma afronta ao Poder Judiciário, ao Supremo Tribunal Federal. Ora, o judiciário é um poder, como os dois outros, soberano e independente, e não seria um grupelho de péssimo currículo que iria comandar um movimento para confrontá-lo. Desde o início desse processo, quando começaram a urdi-lo (partiu de Dirceu) tinha-se com certo que as possibilidades de êxito eram inexistentes e só criariam dificuldades para o partido e a Presidência da República.
*Coluna de Samuel Celestino publicada no Jornal A Tarde desta terça-feira (27)
Comentários:
Postar um comentário