terça-feira, 23 de outubro de 2012

ECONOMIA: Polícia Federal prende presidente do Banco Cruzeiro do Sul

De OGLOBO.COM.BR

Instituição, que teve liquidação extrajudicial decretada pelo Banco Central em setembro, tem rombo estimado em R$ 2,2 bi
Luis Octavio Indio da Costa, presidente do Banco Cruzeiro do Sul - JEFFERSON DIAS / VALOR

SÃO PAULO E RIO – A Justiça Federal decretou na tarde desta segunda-feira a prisão de Luis Octavio Índio da Costa, um dos controladores e ex-diretor superintendente do banco Cruzeiro do Sul, que teve sua liquidação decretada pelo Banco Central no mês passado. O banqueiro foi preso em sua casa, num condomínio fechado, em Cotia, por volta das 17h, e levado para a carceragem da sede da Polícia Federal em São Paulo, na Zona Oeste da cidade. A prisão preventiva de Índio da Costa foi decretada pela 2ª Vara da Justiça Federal, atendendo a pedido da procuradora Karen Louise Janetti Kahn, do Ministério Público Federal (MPF). O pedido baseou-se em inquérito que tramita na Delegacia de Repressão aos Crimes Financeiros, da PF.
“São apurados crimes contra o sistema financeiro, crimes contra o mercado de capitais e lavagem de dinheiro. O preso será indiciado pelos mesmos crimes e, caso seja condenado, poderá cumprir penas de um a 12 anos de prisão e multa”, diz nota divulgada pela PF.
Com mais de 80 anos de idade, Luis Felippe Índio da Costa, pai de Luis Octavio e que dividia o controle do Cruzeiro do Sul, também teve a prisão decretada, só que em caráter domiciliar. Segundo a PF, Luis Octavio deverá ser transferido da carceragem da PF para um presídio do Estado nos próximos dias. Outros dois executivos da área contábil tiveram o pedido de prisão negado pela Justiça Federal, que optou por aplicar medidas restritivas.
Banqueiro pediu desbloqueio de bens
O Cruzeiro do Sul sofreu intervenção do Banco Central em 4 junho deste ano. Em auditorias na instituição, o BC identificara a existência de um rombo contábil de R$ 1,3 bilhão, fruto de operações fictícias de financiamento encontradas no banco. Na esperança de conseguir resgatar o banco, vendendo-o a outra instituição, como acontecera com o PanAmericano, o BC indicou o Fundo Garantidor de Crédito (FGC, mantido pelos próprios bancos) para conduzir a intervenção no Cruzeiro do Sul.
Nesse processo, foram identificadas outras irregularidades nos livros do banco, que no início de setembro apresentava patrimônio líquido negativo de R$ 2,2 bilhões. O Cruzeiro do Sul tinha ainda R$ 3,3 bilhões em títulos emitidos no exterior, que o FGC propôs recomprar com um desconto de 50%. Embora tenha conseguido a adesão dos credores lá fora, a operação de resgate fracassou diante da inexistência de interessados em comprar o banco.
Assim, em 14 de setembro, seguindo recomendação do próprio FGC, o BC decretou a liquidação do banco. Desde a intervenção, contudo, a PF já instaurara inquérito para apurar fraudes na gestão do banco, cujos indícios eram “fortes” de acordo com um executivo que participava do processo.
Na quarta-feira da semana passada, o banqueiro ingressou no Superior Tribunal de Justiça (STJ) com um pedido para desbloquear os seus bens, congelados desde a intervenção no banco, em junho. O pedido foi negado.
Executivo promovia grandes festas
Na noite de segunda-feira, o advogado de Índio da Costa, o criminalista Roberto Podval, disse que ainda não tinha conhecimento da íntegra da decisão, por isso não havia pedido revogação da prisão.
— Estou aguardando para ver a decisão do juiz, para decidir o que fazer — afirmou Podval, pouco antes das 20h.
Antes dos problemas no Cruzeiro do Sul, o nome do banqueiro aparecia com frequência nas colunas sociais. Índio da Costa gostava de promover grandes festas. Na comemoração dos 15 anos de fundação do banco, em 2009, ele promoveu shows exclusivos para os convidados com grandes nomes da música internacional, como o roqueiro inglês Elton John e o americano Tony Bennett, além do compositor italiano Ennio Morricone.
Índio da Costa era conhecido também por namoradas famosas, cuja lista incluía a modelo e apresentadora Daniela Cicarelli e a estilista Cris Barros. Junto com o pai, o advogado Luis Felippe, Luis Octavio comprou o Cruzeiro do Sul em 1993, ao adquirir uma licença que pertencia ao grupo Pullman, fabricante do pão de mesmo nome. Luis Octavio, que começara a trabalhar no mercado financeiro aos 17 anos, adquiriu uma corretora dez anos depois.
Em 2007, o banco abriu seu capital na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa). No ano seguinte, o banco, como muitas instituições de pequeno porte, passou a enfrentar problemas de liquidez em razão da crise financeira internacional. Desde aquela época, corre uma ação na Justiça movida pela massa falida do Banco Santos, que acusa o Cruzeiro do Sul de desvios de recursos.
No dia em que a liquidação foi decretada, 14 de setembro, as ações do banco foram suspensas na Bolsa. Duas semanas depois, em 28 de setembro, foram canceladas. (Colaborou Bruno Villas Bôas)

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