quarta-feira, 25 de julho de 2012

ECONOMIA: Peru e Colômbia são os novos queridinhos dos investidores na AL


De OGLOBO.COM.BR

Com reformas, países mantém altas taxas de crescimento e investimento externo


SÃO PAULO — Durante décadas, a imagem da Colômbia e do Peru, vizinhos sulamericanos do Brasil, estava associada à guerrilha e ao tráfico de drogas. Do ponto de vista econômico, esses países tinham pouca importância aos olhos dos investidores internacionais. Esse quadro mudou radicalmente na última década e atualmente tanto o Peru como a Colômbia são considerados as novas pérolas do investimento externo do continente. Este ano, a previsão dos economistas é que o crescimento econômico de ambos fique em torno de 5%, mais do que devem crescer o Brasil, Estados Unidos e os países da zona do euro.

Na última década, a expansão das economias peruana e colombiana se deu em ritmo chinês, entre 8% e 9%, e agora se ajusta aos novos tempos de crise do euro, desaceleração da economia americana e da própria China. Mesmo assim, ainda fica acima da média desses países.
- Peru e Colômbia, além do Chile, são exemplos de países no continente que estão mantendo padrão de reformas significativo nos últimos anos, com cada vez menos intervenção estatal. O Brasil vai no sentido contrário, por opção do governo - afirma Sergio Vale, economista-chefe da MB Associados.
No ano passado, Peru e Colômbia bateram recorde de investimentos estrangeiros. A América Latina e o Caribe receberam US$ 153 bilhões em capital externo. Desse total, pousaram US$ 13,2 bilhões na Colômbia, enquanto o Peru recebeu US$ 7,7 bilhões. O Brasil, maior economia da região, recebeu US$ 66 7 bilhões.
- Para esses países, o cenário é de continuidade de investimentos estrangeiros. Tanto Peru como Colômbia estão atraindo capital externo num volume equivalente a 5% e 7% do Produto Interno Bruto (PIB) todo ano - diz Luiz Cherman, economista do Itaú Unibanco, especializado em Colômbia e Peru.
A euforia é tanta que entre 24 Bolsas de Valores mais importantes em todo o mundo, a da Colômbia foi a que mais se valorizou no primeiro semestre deste ano. O índice colombiano IGBC, que reúne as ações mais negociadas do pregão, teve valorização de 24,36% no período, enquanto no Brasil o Ibovespa, índice de referência da Bolsa de São Paulo, caiu 4,23% no mesmo período.
Mas por que os dois países andinos tornaram-se tão atraentes para os investidores internacionais? Cherman explica que uma série de reformas, conduzidas na década passada, e que ainda estão em andamento, tiveram resultados muito positivos.
- Ambos se abriram ao comércio internacional, fazendo acordos bilaterais, com tarifas de exportação e importação baixas. Hoje, os EUA são o principal parceiro comercial da Colômbia. Também há acordos com a União Europeia. Em junho, o primeiro-ministro de Portugal, Coelho Passos, visitou o Brasil em missão comercial e estendeu o roteiro até os dois países andinos. Tanto o Peru quanto a Colômbia também criaram sistemas de meta de inflação, semelhantes ao brasileiro. A meta na Colômbia é de 3% ao ano e a do Peru, 2%. E ambos atingiram o centro da meta nos últimos dez anos - explica o economista.
A Colômbia aprovou recentemente a lei da regra fiscal, que estabelece que o déficit público esteja em 1% do PIB em dez anos. Hoje, está em 2,8%.
- Todas as projeções são feitas pelo governo colombiano com base na expectativa do preço do petróleo e do carvão, principais produtos do país. Quando a economia vai bem e o governo arrecada muito, pela lei, ele é obrigado a poupar. Quando a economia não vai tão bem, o governo gasta dinheiro desse fundo para estimulá-la. Os planos estão feitos até 2023, o que dá um horizonte de planejamento fantástico para os empresários que investem no país. É um sistema inspirado no que existe no Chile - diz Luiz Cherman, do Itaú Unibanco.
Além disso, diz o economista, os dois países fizeram reformas da previdência, criando uma previdência privada, e estimulando a poupança.
Outro fator positivo, este mais óbvio, foi a luta dos governos contra os guerrilheiros da Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), na Colômbia, e do Sendero Luminoso, no Peru. Atualmente, só se ouve falar de ações pontuais desses grupos. Desde 2000, o cultivo de coca na Colômbia caiu 65% em área, e o governo recebeu mais de US$ 8 bilhões em ajuda financeira dos EUA para prender traficantes e combater guerrilheiros financiados pela droga. Com isso, a taxa de homicídios no país caiu drasticamente e as Farc estão em rota de fuga.
- No tempo dos atentados feitos pelas Farc e pelo Sendero, o investimento estrangeiro desabou - avalia Cherman.
O economista lembra que, no Peru, a economia ainda é muito dolarizada, com a moeda americana circulando. Por isso, o Banco Central mantém uma atuação forte no mercado de câmbio para evitar flutuações mais fortes.
O presidente Olanta Humala, que se elegeu com um discurso de esquerda, manteve a política econômica de seus antecessores, com regras claras, que tornaram o país atrativo para investimento externo.
- A Colômbia passou por uma séria crise nos bancos no início dos anos 2000, após crises na Ásia, Rússia e Brasil. Muitas instituições quebraram, mas o país saneou seu sistema. O Peru viveu uma hiperinflação. Hoje, isso já ficou no passado - explica Cherman.
Assim como no Brasil, a crescente demanda por crédito na Colômbia e no Peru fez com que os bancos desses países passassem a figurar entre as instituições que mais cresceram na América Latina no decorrer dos últimos cinco anos. E ainda há poucos sinais de que a situação possa vir a colocar em risco o progresso desses países, segundo um relatório divulgado pela agência de classificação de risco de crédito Standard &Poor's.
Pesam favoravelmente em relação à Colômbia o tamanho de sua economia, que é a quarta maior da América Latina, atrás do Brasil, México e Argentina, e a vigésima nona maior do mundo, em termos de PIB. O grande mercado interno é outro ponto favorável: a Colômbia é o terceiro país mais populoso da América Latina, depois do Brasil e do México. O governo definiu cinco setores para investir e estimular o crescimento: indústria extrativa; agricultura; infraestrutura; construção civil e inovação tecnológica.
A Colômbia também é um dos países mais ricos em recursos naturais da América do Sul. Além do petróleo, os principais produtos da pauta de exportação são o carvão – o país tem as maiores reservas da América Latina – café, cana-de-açúcar, ouro, esmeraldas, produtos químicos e têxteis e couro.
O setor de energia prevê investimentos pesados nos próximos anos e o aumento da procura por habitações, especialmente da população mais pobre, abrem um novo horizonte no setor.
Já o Peru atrai os investidores pela riqueza de seus recursos naturais.
- O país apresenta solidez macroeconômica, tem um clima favorável para o investimento e é uma economia adaptada ao processo de globalização, com acesso preferencial aos maiores mercados mundiais - diz o economista Silvio Campos Neto, da Consultoria Tendências.
O crescimento econômico registado na última década no Peru é provavelmente o período de maior êxito de toda a sua história econômica. O país é uma das dez economias do mundo que conseguiram maior crescimento nos últimos anos. E há oportunidades de investimento também no agronegócio; pesca, setor têxtil, minas, energia, saúde, petroquímico, transportes, turismo, e imobiliário.
A Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal) alerta que, assim como com outras economias latino-americanas, a crise na zona do euro afeta a Colômbia e o Peru pelo canal comercial, devido à menor demanda dos países europeus. E a atividade econômica mundial mais fraca (com a crise do euro, a desaceleração na China e o fraco crescimento dos EUA) contribui para uma diminuição dos preços das materias-primas, particularmente metais e minerais, o que terá um impacto negativo nas exportações de bens.
Além disso, diz a Cepal, as economias peruana e colombiana também serão afetadas pelo canal financeiro, através do aumento da volatilidade. Isso já está sendo sentido nas Bolsas de Valores locais, na taxa de câmbio e no fluxo de capitais externos. No entanto, diz a Cepal, tanto o Peru como a Colômbia estão em uma boa posição para enfrentar essas flutuações financeiras externas, graças às significativas reservas internacionais que têm e à baixa divida externa.

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