Por José Roberto de Toledo - O Estado de
S.Paulo
A metáfora da corrida de cavalos para representar a campanha eleitoral é mais
apropriada do que a sua vulgarização pode sugerir. Como no turfe, os candidatos
precisam dosar suas forças e traçar suas estratégias com precisão para não
arrancar antes da hora nem se deixar "encaixotar" no pelotão intermediário.
Tanto um erro quanto o outro pode impedir o maior favorito de cruzar o disco em
primeiro lugar.
Na eleição paulistana, José Serra (PSDB) surgiu nas primeiras pesquisas como
barbada, tão à frente dos demais que só caberia prognóstico para o segundo
colocado da dupla vencedora. Mas o apostador experiente sabe que cânter não
ganha páreo. Galopar garboso na apresentação ao público não é garantia de bom
desempenho quando o chicote começa a vibrar. E a semana não foi nada boa para o
haras tucano.
A um custo ainda difícil de contabilizar, o stud petista tirou um grande peso
da sela de Fernando Haddad. Na última hora, cooptou o PP de Paulo Maluf,
formalizou a aliança com o PSB de Luiza Erundina e ultrapassou todos os rivais
em tempo de propaganda no rádio e na televisão. O apoio malufista se deu em
troca da Secretaria de Saneamento do Ministério das Cidades - responsável por
programas de esgoto e lixo. Sem comentários.
Nas contas dos repórteres Daniel Bramatti e Julia Duailibi, o candidato a
prefeito do PT deve aparecer em 107 inserções de 30 segundos por semana a partir
de agosto. Ou seja, 15% a mais do que Serra e quase 50% a mais do que Gabriel
Chalita (PMDB). Isso significa só uma coisa: Dilma Rousseff e Luiz Inácio Lula
da Silva fizeram a parte deles. Cabe a Haddad mostrar se tem força para
atropelar na reta final ou se é o matungo que os adversários tentam pintar.
A chapa petista-malufista-socialista (e, talvez, comunista, se o PC do B
também aderir) é o melhor exemplo da grande zona cinzenta que é a política
brasileira. Enxergar branco e preto num cenário desses é miragem. Vale lembrar
que Maluf estava mais perto da cocheira tucana até ser seduzido pelo churrasco
de verbas petista. E que o impoluto PR de Valdemar Costa Neto segue firme no
bridão do PSDB paulista.
Esse é o jogo político-eleitoral brasileiro. Joga quem quer, ganha quem pode.
E quem não pode denuncia - pelo menos até passar a poder.
A perda da aliança com o PP não custou apenas algumas inserções comerciais a
Serra. Produziu um desconforto no campo tucano. Segundo o noticiário, Geraldo
Alckmin não quis dar os cargos estaduais reivindicados por Maluf, o que teria
empurrado o ex-prefeito para o colo adversário. Administrativamente defensável,
a atitude do governador ressuscita velhos murmúrios sobre lealdades e traições
que remontam à eleição de 2008, quando ele estava no papel de Serra, e o
correligionário apoiou veladamente Gilberto Kassab, então no DEM.
Nada indica que sejam mais do que fofoca, mas tais intrigas bastam para dar a
impressão de que uma campanha perde confiança, enquanto a do adversário ganha
ritmo. É um jogo psicológico restrito a candidatos, articuladores e assessores -
que, por enquanto, a grande maioria dos paulistanos não está nem aí para a
eleição. Mas é o que alimenta o blá-blá-blá político até a corrida começar para
valer.
Pela lei, a campanha eleitoral só começa em julho. Para o eleitor
desengajado, a largada é em agosto, com a entrada no ar do horário eleitoral
obrigatório. O calendário já condicionou o eleitorado. Raras vezes uma campanha
mobiliza corações e mentes antes de o palanque eletrônico entrar no ar. Uma
dessas exceções ocorreu na sucessão de Lula.
A eleição de 2010 começou a tomar corpo muito antes da propaganda formal. O
principal motivo foi a campanha desabrida que o ex-presidente fez por sua
candidata desde muito antes da votação. A frequência com que Lula repetiu o nome
de Dilma em palanques, inaugurações, discursos e festas de aniversário é inédita
na história moderna do Brasil. A oposição reagiu indignada, esquentou o debate
e, sem querer, ajudou Lula a promover a desconhecida Dilma.
Tudo muito diferente do que nesta morna eleição paulistana. Fora da
Presidência, Lula não teve palanque nem saúde para repetir o nome do
desconhecido Haddad como fez com Dilma. A campanha não empolgou ninguém. Vai
sobrar tudo para a TV. Por isso, os minutos de propaganda ganhos por Haddad via
PP e PSB valem muito mais do que os 8% a que ele chegou no Datafolha esta
semana.
A corrida eleitoral paulistana será curta, sem curvas. Ganha quem alcançar
momentum no final.
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