DO ESTADAO.COM.BR
Eugênia Lopes – O Estado de S. Paulo
Presença do contraventor no Congresso mobiliza parlamentares governistas e da oposição
BRASÍLIA – Em funcionamento há pouco mais de 15 dias, a Comissão Parlamentar
de Inquérito (CPI) do Cachoeira terá seu primeiro grande momento nesta semana,
com o depoimento do contraventor Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos
Cachoeira.
Mesmo diante da perspectiva de Cachoeira permanecer calado durante toda a
audiência, conforme sinalizou seu advogado Márcio Thomas Bastos, os 64 titulares
e suplentes da CPI estão se municiando de dados para tentar extrair o máximo de
informações do empresário de jogos de azar. Animados com o depoimento do
delegado Matheus Mella Rodrigues, delegado da Polícia Federal responsável pela
Operação Monte Carlo, os petistas pretendem apostar suas fichas no
aprofundamento de detalhes da relação de Cachoeira com o governador tucano de
Goiás, Marconi Perillo. A estratégia é tentar arrancar de Cachoeira provas que
compliquem ainda mais a situação de Perillo.
A oposição, por sua vez, tentará focar o depoimento de Cachoeira em suas
relações com a Delta Construções, campeã de obras do Programa de Aceleração do
Crescimento (PAC), com contratos em quase todos os Estados. Os oposicionistas
estão convencidos de que o contraventor era uma espécie de lobista da
empreiteira não só na região Centro-Oeste, mas em todo o País.
Em depoimento à CPI na última quinta-feira, o delegado Rodrigues confirmou
que Cachoeira teve participação na compra de uma casa do governador tucano.
Foram usados três cheques de Leonardo Almeida Ramos, sobrinho do contraventor,
que somavam R$ 1,4 milhão. Além disso, segundo as investigações da Polícia
Federal, Cachoeira teria “cotas” de cargos no governo tucano, com o pagamento
até de mesada de R$ 10 mil para secretários de Estado.
“Há uma impregnação muito forte dessa organização criminosa do Cachoeira no
governo de Goiás”, observou o relator da CPI, deputado Odair Cunha (PT-MG). Os
petistas esperam que, caso o contraventor resolva falar na CPI, Perillo fique
ainda mais encrencado. O objetivo dos parlamentares do partido é aprovar
requerimento da convocação do tucano.
O delegado Rodrigues confidenciou aos integrantes da CPI que o nome do
governador do PSDB é citado 237 vezes em conversas entre integrantes do esquema
de Cachoeira. Já o nome do governador petista Agnelo Queiroz aparece em 58
conversas. “O Perillo não tem muito como correr, como escapar de uma
convocação”, disse o senador Humberto Costa (PT-PE).
“A ação do PT é muito clara: querem pegar o Perillo”, apontou o senador
Cássio Cunha Lima (PSDB-PB). Para defender o governador, os tucanos alegam que a
venda da casa não foi um negócio ilícito. “Se fosse, não seriam três cheques na
conta do governador”, disse o deputado Carlos Sampaio (PSDB-SP).
O roteiro dos partidos políticos para arguir Cachoeira será fechado na
véspera do depoimento do contraventor à CPI. Os petistas montaram um bunker para
discutir as propostas de perguntas e o ritmo da sessão da CPI, que será aberta e
televisionada. “O importante é desvendar a organização criminosa, seus membros e
modus operandi”, disse o deputado Cândido Vaccarezza (PT-SP), um dos mais
determinados a comprovar o envolvimento de Perillo com o esquema ilegal de
Cachoeira.
“Vamos focar na organização criminosa de Cachoeira e sua relação com outros
poderes”, resumiu Humberto Costa.
Os tucanos também pretendem fechar o seu plano de ação na CPI hoje à tarde. A
ideia é estudar as operações Vegas e Monte Carlo para, então, programar a
formulação das perguntas ao contraventor.
Diante da perspectiva de Cachoeira ficar calado na CPI, governistas e
oposicionistas estão também ansiosos em relação ao depoimento de Cláudio Abreu,
que era diretor da Delta na região Centro-Oeste. O depoimento está marcado para
o dia 29. Os objetivos de governistas e da oposição com a ida de Abreu à CPI
são, no entanto, diferentes.
Desconfiados de que Abreu é sócio oculto de Cachoeira em vários negócios, os
petistas esperam que o ex-diretor da Delta confirme o esquema apenas no
Centro-Oeste. A oposição acha, porém, que a Delta Centro-Oeste é apenas “um dos
tentáculos” de Cachoeira na construtora.
“Não acredito ser possível a Delta não ter conhecimento do nível de
envolvimento da Delta Centro-Oeste com o Cachoeira”, afirmou o senador Randolfe
Rodrigues (PSOL-AP). “É preciso ampliar essa investigação e verificar se a Delta
Brasil tinha uma relação com a organização criminosa”, defendeu Sampaio.
Comentários:
Postar um comentário