De OGLOBO.COM.BRMárcia Abos
Ex-presidente recebe prêmio de US$ 1 milhão do Congresso dos EUA
SÃO PAULO - O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso disse neste domingo
estar otimista com a instauração da Comissão da Verdade, criada para investigar
violações aos direitos humanos durante a ditadura militar. Segundo ele, que
participará, quarta-feira, da cerimônia de posse dos membros da comissão, em
Brasília, o objetivo não é buscar vingança, mas sim a verdade e a
reconciliação.
— A Comissão da Verdade foi criada com o mesmo espírito do que foi feito por
Mandela, ao criar os Elders na África do Sul. Será uma busca por verdade e
reconciliação, não vingança — disse.
Segundo ele, o convite da presidente Dilma Rousseff para que os
ex-presidentes brasileiros participem da posse na próxima quarta-feira dá à
comissão a conotação de uma ação de Estado.
Perguntado sobre a possibilidade de convocação do procurador-geral da
República, Roberto Gurgel, para depor na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI)
que investiga as relações de Carlinhos Cachoeira com políticos, o ex-presidente
disse que essa seria uma decisão equivocada.
— Ele participou das investigações. Portanto, a convocação não faz sentido —
respondeu Fernando Henrique.
Prêmio Kluge destaca obra acadêmica
Pelo conjunto de sua obra, Fernando Henrique Cardoso foi agraciado com o
Prêmio Kluge da Biblioteca do Congresso dos Estados Unidos. O anúncio da
premiação foi feito neste domingo. É a primeira vez que um brasileiro vence o
Kluge. Criado em 2003, o prêmio é considerado o Nobel da área de
humanidades.
O Prêmio Kluge já foi concedido a Leszek Kolakowski (2003), a Jaroslav
Pelikan e Paul Ricoeur (2004), a John Hope Franklin e Yu Ying-shih (2006), e a
Peter Lamont Brown e Romila Thapar (2008). Além do prestígio, o Kluge rende aos
ganhadores US$ 1 milhão.
O ex-presidente contou que soube, há uma semana, que era o ganhador deste
ano. E que foi surpreendido pela notícia, pois não sabia que estava entre os
indicados. Desta vez, o ex-presidente foi o único vencedor, ao contrário de anos
anteriores, quando a Biblioteca do Congresso Americano preferiu dividir o prêmio
entre dois pensadores.
— Foi como receber um raio de sol num dia de chuva. É um prêmio de prestígio,
e é sempre muito bom ser reconhecido. O que mais me deixou contente é que esta é
uma premiação que privilegia trabalhos acadêmicos que tenham impacto na vida
prática — comemorou, contando que a premiação será em 10 de julho, numa
cerimônia em Washington.
Sobre o discurso que fará ao receber o prêmio, Fernando Henrique adiantou que
planeja enfatizar exclusivamente a sua vida acadêmica.
— Política é sempre discutível — explicou, dizendo que ainda não sabe o que
fará com o dinheiro da premiação. — Nessa altura da minha vida, o que vale mesmo
é o reconhecimento. Minha família deve ficar muito mais contente do que eu com o
dinheiro. Nunca recebi uma bolada tão grande como essa de uma só
vez.
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