quinta-feira, 17 de novembro de 2011

COMENTÁRIO: Agora, é evitar a recessão

Por ALBERTO TAMER - O Estado de S.Paulo
Com desaceleração mais forte, o PIB apontando para 0% e até mesmo negativo neste trimestre, o governo mudou a política econômica. Mais crédito para as empresas e pessoas físicas e nítidos sinais do BC de nova dedução dos juros para estimular ainda este ano o crescimento, que recua, e supera o clima de recessão.
Parece que está seguindo o que a coluna ousa chamar da "doutrina" Keynes: "Quando as circunstancias mudam, a gente muda também." E como mudaram! Antes, era crescimento de 7,5%, agora, 3% ou até mesmo 2,8% este ano já refletido no nível de emprego industrial.
A equipe econômica decidiu agir porque a crise na Eurozona só se agrava. E age apesar de correr o risco de maior pressão sobre os preços. A inflação preocupa, mas está dentro da meta; a prioridade declarada é voltar a crescer.
Pesquisa da Fundação Getúlio Vargas divulgada ontem mostra que o Brasil vive o pior clima econômico desde 2009, o nível de emprego industrial em outubro São Paulo é o pior nos últimos cinco anos.
Vai se agravar nos próximos dois meses, informa a Fiesp. De janeiro a outubro, foram criadas apenas 85 mil vagas, mas a metade vai desaparecer em dezembro e janeiro com a entressafra do açúcar e do álcool.
Era preciso agir. E a equipe econômica decidiu agir; mesmo com algum atraso, pode chegar em tempo para estimular as compras de fim de ano.
Há o 13.º salário em novembro e dezembro, com mais de R$ 100 bilhões entrando nas mãos de 78 milhões de consumidores, há o novo salario mínimo no próximo ano e a própria ação do governo inspira mais confiança nas famílias.
No fundo, a equipe econômica está repetindo o que fez na crise de 2008, quando aumentou a liquidez, desonerou as indústrias e aumentou a liquidez no mercado, o que elevou o consumo em plena recessão mundial.
O alerta a Brasília para a recessão lá fora, feito na última coluna antes do anúncio das medidas do BC, felizmente está superado. Chamamos a atenção para quem estava atento e agindo. Dizíamos que, tendo em vista a reação à crise de 2008, podíamos confiar na equipe econômica mesmo porque era essencialmente a mesma.
E deu certo. Tudo está sendo feito para evitar um PIB de 0% ou negativo nos próximos meses, risco acentuados pelos últimos indicadores de atividade econômica. Está sendo feito aqui o que a Europa hesita em fazer há 3 anos.
Mas não vai funcionar. Para os economistas mais críticos, as decisões do BC e do governo não vão funcionar porque não chegaram a tempo. Duvidam também da sua eficácia. Será? Duas obervações mais atentas e realistas. Primeiro, as medidas prudenciais em 2009 provocaram uma forte retração do crédito em dezembro de 2010 assim que foram anunciadas.
Nada mais natural portanto que tenham efeito o inverso agora, diz Alexandra Ribeira, da Tendência. Ela estima que o crédito para as pessoas físicas deve aumentar 7,4% este ano e 9,5% no próximo graças às medidas "antiprudenciais" aplicadas agora.
Vem mais. A segunda observação é que as medidas atuais representam apenas um primeiro passo para outras que devem vir ainda este ano. Com o superávit primário 80% já realizado e o aumento da arrecadação neste ano, o governo pode oferecer mais desonerações fiscais com o duplo objetivo de reduzir os preços e estimular a produção, como fez na crise de 2008. Mais ainda, com a cotação das commodities agrícolas recuaram 10,7% em um mês - reduzindo a pressão sobre os preços internos.
Mas, há problemas. Há sim, e muitos. Como assinalou o colega Rolf Kuntz em seu lúcido artigo no Estado, os grandes problemas estão na oferta, na produção industrial, no emprego. A coluna está insistindo à exaustão que não há investimento das empresas, do governo. Ele não só não cresceu, mas deve ter recuado este ano.
O governo mostrou que, quando as circunstâncias mudam, ele muda também. Como a "doutrina" Keynes, quando as circunstancias mudam, ela muda também... Algo que a Europa e até mesmo os Estados Unidos não entenderam até agora.

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