quarta-feira, 3 de março de 2010

MUNDO: Para Hillary, Brasil e EUA têm expectativas diferentes em relação ao Irã

Do UOL Notícias
Camila Campanerut, em Brasília

Em entrevista coletiva concedida no Palácio do Itamaraty, em Brasília, na tarde desta quarta-feira (3), a secretária de Estado norte-americana, Hillary Clinton, afirmou que o governo brasileiro ainda acredita numa resposta positiva às tentativas de diálogo com o Irã em prol da não produção de armas nucleares. “Temos o mesmo objetivo, a mesma meta. Ambos não querem ver o Irã como uma possível potência nuclear”, disse. Hillary lembrou que o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, tem feito, há mais de um ano, tentativas de diálogo com o país asiático, e que, além dos 20% do urânio enriquecido, eles estariam atuando de forma velada, escondendo da comunidade internacional o real tamanho de sua produção nuclear. “Eu acho que o Brasil acredita que há espaço para negociação. Nós achamos que a negociação e o esforço de boa-fé não parecem bem-recebidos pelo Irã”, defendeu a secretária. Já o chanceler brasileiro, Celso Amorim, reforçou o posicionamento brasileiro de dar mais tempo ao governo de Ahmadinejad para evitar sanções e erros cometidos no passado. “Nós ouvimos com muita atenção às percepções dos Estados Unidos. Respeitamos muito e levamos em conta a maneira de ver deles.(...) “Sanções são contraproducentes”, responde. Contudo, Amorim ressalta que vale à pena o esforço para continuar a negociar, para evitar que se repita o que aconteceu com o Iraque, em 2003, quando ficou comprovado que as insinuações norte-americanas sobre a produção nuclear escondida iraquiana acabaram sendo infundadas naquele momento.
Honduras Com relação ao país caribenho, o governo dos Estados Unidos espera do Brasil um reconhecimento de Estado democrático que o país retomou após a eleição direta que sagrou Pepe Lobo como presidente. Todavia, o chanceler brasileiro voltou a optar pela cautela antes de expressar apoio a Honduras.
“Nossas posições são parecidas. Evidentemente, o Brasil deseja ver um futuro de normalidade na região, mas países que, [como o Brasil] tiveram trauma de viver um golpe militar, não podemos tomar estas coisas levemente. Temos acompanhados com muita atenção os gestos do novo presidente de Honduras”, explicou Amorim.
O ministro destacou que o governo brasileiro tem apreciado o trabalho de Lobo em demitir o chefe de Estado Maior, responsável pelo sequestro do ex-presidente deposto Manuel Zelaya e que a aproximação de lideranças ligadas a Zelaya. O ministro voltou a dizer que a ação que mais sensibilizaria o Brasil a reconhecer o governo hondurenho seria a criação de condições para receber Zelaya de volta.
Venezuela
Questionada por um dos jornalistas sobre a atuação americana na Venezuela, Hillary foi categórica. “Posso apenas reiterar o que dissemos: não participamos de nenhuma missão que possa prejudicar de alguma forma a Venezuela. Nos preocupamos e consideramos prejudicial [o que vem ocorrendo]. Estão sendo minadas pouco a pouco as liberdades e isso prejudica o povo venezuelano”, defende.
A ex-senadora por Nova York e ex-primeira dama dos Estados Unidos apontou que seguir os exemplos de Chile e Brasil seria uma boa opção para o governo de Hugo Chávez.
O chanceler aproveitou a deixa para enfatizar a parceria diplomática com o país que não se curvam às políticas norte-americanas. “Concordo muito com o ponto da Venezuela olhar para o sul. Por isso convidamos a Venezuela para integrar o Mercosul , que será positivo em todos os sentidos”, disse.
Atos de cooperação
Hillary Clinton disse que o Brasil é um "parceiro valioso" para os Estados Unidos. Durante a visita ao Brasil, Hillary assinou três atos de cooperação entre os dois países. Um se refere à implementação de atividades de cooperação técnicas em outros países. O segundo é um memorando de entendimento de Brasil e Estados Unidos sobre cooperação em ações relativas a mudanças climáticas. Já o terceiro documento propõe um entendimento dos dois Estados para o avanço na condição da mulher.
“(...) Ambos os governos compartilham o desejo de fortalecer a cooperação no intuito de fomentar o desenvolvimento econômico, aprimorar o atendimento médico e promover a inclusão social em países selecionados cujos principais desafios se situam na área da pobreza, conforme mensurada pelos indicadores de desenvolvimento mundiais(...)”, diz o texto do primeiro ato.
Hillary elogiou ainda o programa de segurança alimentar brasileiro e disse que, nesse quesito, os Estados Unidos são um parceiro estratégico do Brasil.
Visitas
Mais cedo ela visitou o Congresso Nacional. Hillary deixou o Congresso por volta de 9h50, depois de se reunir a portas fechadas com o presidente do Senado, José Sarney (PMBD-AP), o presidente da Câmara, Michel Temer (PMDB-SP), e parlamentares na sala da presidência do Senado.
Segundo relato de parlamentares que participaram do encontro, ela afirmou que o Brasil pode desempenhar um papel "estratégico" no sentido de "mudar" os objetivos nucleares do governo iraniano.
“A ênfase da pauta foi o Irã e abertura do diálogo com o Brasil sobre a questão. Falou um pouco sobre a reforma na saúde, que vem ocorrendo nos EUA, porém não tocou no assunto da compra dos 36 caças”, contou o senador Heráclito Fortes (DEM-PI).
"Ela disse que o Irã não somente está desenvolvendo armas nucleares visando a Israel como também procurando manter uma hegemonia em todo o Oriente Médio", disse Sarney. “Ela pediu para que o Brasil colaborasse na política de não proliferação de armas [nucleares]. Eu tive a oportunidade de dizer que o Brasil é signatário de um tratado nesse sentido”, acrescentou Sarney.
Para Temer, a secretária de Estado saiu da reunião convicta de que o Brasil terá capacidade de ajudar os EUA a dialogar com o Irã.

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