sábado, 10 de outubro de 2009

ARTIGO: A peregrina Dilma vai ao Bonfim

Do blog do NOBLAT
Artigo de Vitor Hugo Soares

Salve a Bahia, Sinhá! E os marqueteiros políticos também!
É preciso tirar o chapéu. Afinal de contas, nem a mirabolante cabeça do cineasta Glauber Rocha, o saber de Octávio Mangabeira, ou mesmo o reconhecido e proclamado estilo matreiro de fazer política de ACM nos tempos áureos de seu domínio local, seriam capazes de conceber ou dirigir as cenas das primeiras horas da visita que a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, iniciou na noite de quinta-feira, em Salvador.
Depois de longo afastamento da larga barra da cidade da Bahia, como definia o poeta Gregório de Mattos, o "Boca de Brasa", a preferida do presidente Lula como candidata à sua sucessão, retornou com a corda toda.
Um festival de surpresas, "até mesmo para os baianos mais acostumados com essas coisas", como assinalou nesta sexta-feira um atento observador político local, ao analisar a performance da ministra.
Dilma, porém, jura não estar em campanha - ao pisar outra vez o conflagrado solo político da Bahia nesses primeiros movimentos que antecedem 2010.
Mal desembarcou no aeroporto de Salvador, ela fez apenas uma breve parada no hotel para se preparar "comme il faut" para seu primeiro compromisso.
Bem de acordo com os tempos que correm: um ato tipicamente político-eleitoral, com fachada de acontecimento social. Assim foi a festa de aniversário do ex-dirigente máximo do PCdoB no Estado, o comunista Haroldo Lima, atual presidente do Conselho Nacional de Petróleo (CNP), a que Dilma compareceu.
O ultra sofisticado centro de eventos Trapiche Adelaide ficou coalhado de ministros, secretários de Estado, parlamentares de todas as tonalidades - da direita ao centro e esquerda -, empresários e figurões variados dos governos petistas de Lula, no país, e de Jaques Wagner na Bahia.
Uma tenda ampla, onde Dilma (seguramente recomendada por marqueteiro dos bons e dos mais requisitados, ou um santo forte do Planalto), onde a visitante operou o seu primeiro "milagre" baiano.
Ela foi filmada e fotografada dividindo a mesma mesa com dois sorridentes personagens que viviam aos tapas e trocas de insultos até horas antes da ministra chegar: o governador Jaques Wagner (PT) e o ministro da Integração Nacional, Geddel Vieira Lima (PMDB), ferrenhos adversários na postulação ao Palácio de Ondina em 2010.
Há quem diga que na tenda do Trapiche se deu uma bem sucedida tentativa com vistas ao palanque duplo na Bahia, assunto do qual os petista locais não querem nem ouvir falar.
Podem ter que engolir, mas isso é coisa que se verá bem mais adiante, depois que a correnteza passar e os ânimos estiverem de fato serenados, se é que isso acontecerá além das aparências.
O mais surpreendente, no entanto, estava reservado para algumas horas depois da festa que rolou animada até altas horas da manhã.
Às 7h da manhã Dilma Rousseff já estava "inteiraça", no adro da Igreja do Bonfim, como observou um passante local. Toda vestida de branco, dentro dos preceitos do Candomblé na sexta-feira baiana, consagrada a Oxalá, para assistir a primeira missa do dia no templo católico.
Minutos antes, no adro, como na cerimônia famosa da Lavagem, eis a ministra cercada de mães, filhos e filhas de santo.
Ali a ministra Dilma Rousseff, que acaba de ser declarada curada de um câncer linfático pelos cientistas e médicos do hospital paulista Sírio Libanês, recebeu um banho ritual de folhas de aroeira, consideradas as melhores para "abrir caminhos fechados". Foram misturadas outras folhas destinadas a reforçar o pedido.
Depois veio a apoteose da sexta-feira, 9, no Bonfim: a missa no templo lotado de fiéis, rezada e animada pelo padre Edson Menezes, pároco que conduziu tudo como um ato "religioso e político eleitoral" como raramente visto em terras e terreiros baianos, apesar de todo o seu sincretismo.
Diante de uma contrita ex-guerrilheira e atual poderosa ministra petista de Lula, acompanhada do governador petista de origem judaica, Jaques Wagner e da primeira-dama Fátima Mendonça, uma baiana cem por cento, o pároco caprichou nos gestos e palavras do sermão, como o melhor dos cabos eleitorais que Dilma jamais imaginou encontrar, nas circunstâncias.
Padre Edson deu vivas e pediu palmas aos fiéis "para a peregrina Dilma, que também subiu a colina para agradecer como fazem os baianos".
E as palmas vibraram com força diante do altar. Ainda molhada do banho de folhas do Candomblé, com medidas do santo de todas as cores nas mãos, Dilma, emocionada, agradeceu a cura e beijou a imagem do santo. Mas não recebeu a hóstia da comunhão distribuída aos fiéis pelo padre e seus acólitos.
Missa encerrada, a visitante saiu, ainda cercada de palmas, abraços, bilhetes com pedidos pessoais ou apelos por uma pose para fotografia, que ela atendeu, sempre solícita.
Afinal, o que mais poderia querer um marqueteiro, ou uma postulante ao Palácio do Planalto?

Vitor Hugo Soares é jornalista

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