segunda-feira, 14 de maio de 2018

DIREITOS HUMANOS: Embaixada do Brasil pede acesso a registros da CIA sobre ditadura militar

OGLOBO.COM.BR
POR KARLA GAMBA

Documento da agência americana mostra que Geisel sabia e autorizou execuções

Geisel ao lado de Jimmy Carter, ex-presidente dos EUA - Arquivo

BRASÍLIA — O governo brasileiro pediu aos Estados Unidos documentos e registros da Agência Central de Inteligência (CIA) sobre o período da ditadura militar no Brasil. A informação foi confirmada pelo ministério das Relações Exteriores (MRE) ao GLOBO.
Segundo fontes do Palácio do Planalto, o presidente Michel Temer determinou ao ministro Aloysio Nunes, que encontra-se em viagem fora do país, que solicitasse os documentos. A solicitação foi encaminhada pela Embaixada do Brasil em Washington ao governo norte-americano, nesta segunda-feira.
O pedido do governo brasileiro foi elaborado a partir de uma solicitação feita por Ivo Herzog, filho do jornalista Vladimir Herzog, assassinado durante a ditadura militar. Em uma carta enviada ao ministro Aloysio Nunes, das Relações Exteriores, na última sexta-feira, Ivo Herzog pediu que o governo brasileiro solicitasse os documentos que registram a participação de agentes do estado em torturas e assassinatos ocorridos à época.
A carta foi enviada após a revelação de um memorando da CIA, que sugere que o ex-presidente, general Ernesto Geisel, sabia e autorizou execução de opositores durante a ditadura militar.
— A família Herzog vem solicitar manifestação do ministério das Relações Exteriores solicitando ao governo norte americano a liberação completa dos registros realizados pela Agência Central de Inteligência (CIA) que documentam a participação de agentes do estado brasileiro em operações para torturarem ou assassinarem cidadãos brasileiros — diz Ivo Herzog na carta.
No documento revelado na semana passada, o ex-diretor da CIA William Egan Colby descreve, em 11 de abril de 1974, para então Secretário de Estado dos EUA Henry Kissinger um encontro em 30 de março de 1974 entre Geisel e os generais Milton Tavares de Souza e Confúcio Danton de Paula Avelino, respectivamente os chefes de saída e chegada do Centro de Inteligência do Exército (CIE), à época. Na reunião também estava o general João Baptista Figueiredo, chefe do Serviço Nacional de Inteligência (SNI). Figueiredo, inclusive, sucedeu Geisel na presidência em 1979.
Durante o encontro, segundo o documento, o general Milton Tavares de Souza, que estava deixando a chefia do CIE, informa a Geisel sobre a execução sumária de 104 pessoas feita pelo CIE durante o governo do presidente Emílio Garrastazu Médici, e pede autorização para continuar a “política” de extermínio no novo governo.
Na reunião, Geisel pediu para pensar durante o fim de semana para decidir se continuava ou não com a “política”. Em 1º de abril, segundo o memorando, o presidente disse ao general Figueiredo que a “política deveria continuar”. No entanto, Geisel orientou que “apenas subversivos perigosos fossem executados”. Ele e Figueiredo concordaram que todas as execuções deveriam ser então aprovadas por Figueiredo.

Comentários:

Postar um comentário

Template Rounders modificado por ::Power By Tony Miranda - Pesmarketing - [71] 9978 5050::
| 2010 |