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POR MARINA BRANDÃO / ANA PAULA RIBEIRO
Cenário eleitoral indefinido faz moeda subir e Ibovespa recuar 1,78%

- Akos Stiller / Bloomberg
RIO e SÃO PAULO - A indefinição no cenário político eleitoral azedou o humor dos investidores nessa segunda-feira. A moeda americana fechou em alta de 1,57% ante o real, cotado a R$ 3,421, na maior cotação desde dezembro de 2016. No mercado de ações, a pressão também foi forte. O Ibovespa recuou 1,78%, aos 83.307 pontos. O risco-país também operava em alta, mostrando maior aversão dos investidores estrangeiros em relação ao Brasil.
A perda de valor dos ativos brasileiros está relacionada ao entendimento de que o quadro eleitoral, a seis meses das eleições, continua indefinido e pulverizado, sem um consenso ao redor de um político que possa defender as reformas desejadas pelos agentes do mercado financeiro.
— O principal fator para essa queda é o cenário interno. Tem uma pressão causada pela incerteza em relação à corrida eleitoral. Não tem um nome de consenso e os apoios estão muito fragmentados — avaliou Rafael Passos, analista da Guide Investimentos.
A queda da Bolsa no mercado interno ocorreu em um ambiente de alta no exterior. O Dow Jones subiu 1,17% e o S&P 500 avançou 1,45%.
Além da Bolsa em queda e do dólar em alta, o risco-país medido pelo CDS (credit default swap) avançava 1,31% no final da tarde, a 169 pontos, mostrando a maior aversão a risco do investidor estrangeiro. Segundo operadores, foi esse grupo que vendeu ações e pressionou o dólar. As corretoras que mais venderam papéis nesta aegunda-feira foram a dos bancos UBS e JP Morgan, que possuem um número elevado de clientes fora do país. As compradoras foram a do Itaú e Concórdia.
Julio Hegedus Netto, economista-chefe da Lopes & Filho Consultoria, concorda com a avaliação de que a incerteza no cenário eleitoral contribuiu para o estresse desta segunda. Segundo ele, apesar da prisão do ex-presidente Luiz Inacio Lula da Silva, no sábado, os investidores ainda não veem qual seria o candidato de centro mais competitivo e com chances de vencer em outubro.
— É uma piora devido ao mercado interno. Há uma indefinição muito grande no cenário político e isso estressa o mercado. Além disso, há a sessão no Supremo Tribunal Federal (STF), que também está no radar — disse, sobre a sessão que deve avaliar um pedido de liminar contra o cumprimento de pena do ex-presidente, após decisão em segunda instância.
DÓLAR NA CONTRAMÃO
O dólar aqui subiu mesmo com a moeda perdendo força no exterior. O "dollar index" recuava 0,29% próximo ao horário de encerramento dos negócio sno Brasil. Contra os emergentes, pesa o fato dos Estados Unidos terem anunciado medidas contra a Rússia, além da guerra comecial entre Estados Unidos e China.
— Embora as bolsas americanas tenham operado em terreno positivo, há uma clara busca por segurança, principalmente depois de o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciar sanções à Rússia. A queda do rublo acabou contaminando a cesta de moedas emergentes, que caíram de maneira geral — avalia Cleber Alessie, operador de câmbio da corretora H. Commcor.
O rublo russo registrou sua maior queda diária em mais de dois anos nesta segunda-feira, e ações das maiores companhias russas também recuaram em uma reação preocupada de investidores à nova rodada de sanções americanas contra empresários e autoridades da Rússia.
ESTRANGEIROS NA VENDA
Todas as ações tradicionalmente mais negociadas fecharam em queda. As preferenciais (PNs, sem direito a voto) da Petrobras recuaram 3,52%, cotadas a R$ 20,53, e as ordinárias, 2,88%, a R$ 22,90. Recuo também entre os bancos, que possuem o maior peso na composição do Ibovespa. As PNs do Itaú Unibanco e do Bradesco caíram, respectivamente, 2,22% e 3,78%.
As ações da Eletrobras ficaram entre as maiores perdas do Ibovespa, após mudança no Ministério de Minas e Energia, com a ida de Moreira Franco para a pasta. As preferenciais recuaram 6,73% e as ordinárias registraram desvalorização de 9,55%. Com as mudanças no ministério, investidores veem maior dificuldade em aprovar a privatização da estatal neste ano.
— As mudanças não agradaram. Além da mudança do ministro, saiu Paulo Pedrosa, secretário-executivo, que era quem estava a par dos temas como a privatização. Essas mudanças geraram incerteza sobre esse processo — afirmou Passos, da Guide.
Já o destaque da alta foi a Marfrig, que disparou 17,81%, a R$ 7,39, após aquisição da americana National Beef Packing Company, nos Estados Unidos. Na máxima, as ações da empresa chegaram a subir 20,10%.
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