quarta-feira, 13 de setembro de 2017

LAVA-JATO: Juiz manda para STF caso de 'bunker' de Geddel por envolvimento de irmão deputado

OGLOBO.COM.BR
POR EDUARDO BRESCIANI

Lúcio Vieira Lima (PMDB-BA) pode ter ligação com os R$ 51 milhões apreendidos

O deputado Lúcio Vieira Lima, irmão de Geddel, durante a sessão da Comissão de Reforma Política na Câmara dos Deputados - André Coelho / Agência O Globo

BRASÍLIA - O juiz Vallisney de Souza Oliveira, da 10ª Vara Federal de Brasília, encaminhou nesta quarta-feira (13) ao Supremo Tribunal Federal (STF) o caso do "bunker" do ex-ministro Geddel Vieira Lima (PMDB-BA). O envio decorre da suspeita de que o deputado Lúcio Vieira Lima (PMDB-BA), irmão de Geddel, possa ter ligação com os R$ 51 milhões apreendidos no apartamento em Salvador (BA). Vallisney pediu que o caso seja enviado ao ministro Edson Fachin, relator da Lava-Jato.
"Conclui-se que, embora não existam indícios de participação do deputado Lúcio Vieira Lima nos fatos anteriores à apreensão dos valores, até agora somente vinculados às pessoas de Geddel Vieira e Gustavo Pedreira, o certo é que a partir de agora, diante da existência de sinais de provas capazes de levá-lo a eventual indiciamento no delito de lavagem de dinheiro, delito este que até o que se sabe possui relação com o anterior (fraudes na Caixa Econômica Federal – Operação “Cui Bono”), o processo não poderá prosseguir neste Juízo, sem antes haver uma cognição pelo Supremo Tribunal Federal sobre todos as questões referentes aos procedimentos diretos e circunstanciais a esta apuração", afirma o juiz em sua decisão.
DIGITAIS DE GEDDEL
Indícios reunidos pela Polícia Federal (PF) reforçam a associação dos R$ 51 milhões a Geddel Vieira Lima e complicam ainda mais a situação do ex-ministro da Secretaria de Governo do presidente Michel Temer. A PF elencou quatro novas situações que colocam Geddel numa posição delicada:
1) As digitais do ex-ministro colhidas no apartamento onde houve a busca estavam impressas no próprio dinheiro e material que acondicionava as notas;
2) Uma segunda testemunha ouvida após a operação policial confirmou que o espaço havia sido cedido a Geddel, corroborando o que disse o dono do imóvel;
3) Uma segunda pessoa é suspeita de auxiliar o político baiano na destinação das caixas e malas de dinheiro;
4) A PF identificou risco de fuga depois da revelação da história da maior apreensão de dinheiro vivo já registrada no Brasil.
MISTÉRIO CONTINUA
A origem dos R$ 51 milhões ainda permanece misteriosa. A suspeita da PF é que parte do dinheiro se trata de propinas para viabilizar a liberação de crédito do FI-FGTS a empresas. Geddel é suspeito de receber R$ 20 milhões em propinas. O peemedebista foi vice-presidente de Pessoa Jurídica da Caixa Econômica Federal entre 2011 e 2013, indicado pela então presidente Dilma Rousseff. Ele também foi ministro no governo Lula.
O caso é analisado na Justiça Federal em Brasília. O ex-ministro foi preso preventivamente em 3 de julho dentro da Operação Cui Bono, suspeito de atrapalhar investigações. Ele obteve o direito de cumprir prisão domiciliar, determinada pelo Tribunal Regional Federal (TRF) da 1ª Região. Geddel deixou o Presídio da Papuda, em Brasília, no dia 13 de julho, e segue em seu apartamento em Salvador sem tornozeleira eletrônica. O dispositivo está em falta na secretaria de administração penitenciária da Bahia.
Os fatos novos, surgidos na Operação Tesouro Perdido, que apreendeu os R$ 51 milhões, podem motivar uma nova prisão de Geddel, independentemente do benefício obtido no TRF. Para isso, a PF ou o MPF podem fazer pedido nesta direção à Justiça Federal em Brasília.
RELAÇÃO ANTIGA
O GLOBO revelou na noite de quarta-feira que a PF já havia reunido indícios de que a relação do ex-ministro com o edifício onde foram apreendidos os R$ 51 milhões é mais antiga do que se sabia até então. Na terça-feira, a PF cumpriu o mandado de busca e apreensão no apartamento de número 201 num edifício residencial em Salvador, considerado um "bunker" usado por Geddel para guardar os R$ 51 milhões. Os policiais federais descobriram que o ex-ministro, um dos integrantes do PMDB mais próximos ao presidente Michel Temer, alugou há cerca de cinco anos o apartamento de número 202 do mesmo edifício, fazendo a transferência dos pertences para o 201 depois de o imóvel inicialmente usado pelo político baiano ser vendido.
As informações foram registradas em relatório da PF que pediu à Justiça Federal em Brasília a expedição de mandado de busca e apreensão no apartamento, localizado na Rua Barão de Loreto, no bairro Graça. O Ministério Público Federal (MPF) concordou e o juiz Vallisney de Souza, da 10ª Vara Federal, autorizou a busca, cumprida na terça-feira. A PF chamou a operação de Tesouro Perdido. No local, os policiais encontraram oito malas e seis caixas que guardavam dinheiro vivo. Foram necessários carros-fortes, 14 horas e sete máquinas de contagem de dinheiro para quantificar os R$ 42 milhões e US$ 2,688 milhões encontrados no suposto "bunker" de Geddel.
O aluguel do apartamento 202, como consta em relatório da PF, foi efetivado pelo ex-ministro da Secretaria de Governo do presidente Temer há cinco anos para guardar pertences do pai. O imóvel foi vendido e hoje está ocupado. Assim, o material que estava no local foi transferido para o apartamento 201, cedido a Geddel pelo dono do imóvel, Sílvio Silveira, ainda conforme a PF. Em depoimento à polícia nesta quarta-feira, Sílvio confirmou ter cedido o apartamento ao ex-ministro para guardar pertences do pai, Afrísio Vieira Lima, morto em janeiro de 2016.
A PF já desconfiava que encontraria dinheiro vivo no apartamento, como consta no relatório que embasou a decisão da busca e apreensão. Vizinhos ouvidos por policiais do setor de inteligência relataram ter visto Geddel levar as malas ao apartamento. Os policiais também esperavam encontrar documentos relacionados aos supostos crimes investigados na Operação Cui Bono.
Em nota, a defesa de Geddel disse que somente se manifestará quando tiver acesso aos autos.

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