terça-feira, 4 de julho de 2017

LAVA-JATO: Juiz diz que prisão é necessária para evitar que Geddel cometa outros crimes

FOLHA.COM
POR JAILTON DE CARVALHO

Ex-ministro teria recebido R$ 20 milhões de suborno do operador Lúcio Funaro

O ex-ministro da Secretaria de Governo, Geddel Vieira - Ueslei Marcelino 22/11/2016 / Reuters

BRASÍLIA - O juiz Vallisney de Souza Oliveira, da 10 ª Vara Federal, afirma que a prisão preventiva do Geddel Vieira Lima é necessária para cortar os vínculos do ministro com a corrupção no governo federal, com as tentativas de calar testemunhas e, também, para impedir que despareça de vez com os R$ 20 milhões de suborno que teria recebido do operador Lúcio Bolonha Funaro só em uma das supostas fraudes com dinheiro da Caixa Econômica Federal. O ex-ministro, um dos mais próximos aliados do presidente Michel Temer, foi preso nesta segunda-feira na Bahia.
Segundo o juiz, até hoje os R$ 20 milhões da propina ainda não foram localizados. No despacho, o juiz cita um histórico de recentes crimes que Geddel vinha cometendo num desafio aberto às investigações da Polícia Federal e do Ministério Público Federal sobre ele e outros supostos cúmplices.
Na lista de motivos para a prisão de Geddel estão:
• a pressão que ele teria feito sobre Raquel Funaro, mulher de Funaro,
• a queda de braço com o ex-ministro Marcelo Calero, com quem protagonizou o primeiro escândalo do governo
• tratativas da liberação de um empréstimos de R$ 2,7 bilhões para J & F comprar a Alpargatas em 2015, quando já tinha deixado a Caixa.
A atuação de Geddel no caso foi revelada por Funaro em um dos depoimentos que prestou à Polícia Federal depois que decidiu colaborar com Justiça em busca de um acordo de delação premiada.
"Ou seja, em data recente mesmo fora do cargo na CEF, Geddel Vieira Lima demonstrou poder de influenciar operações bancárias, estando presente a necessidade da prisão para assegurar a ordem pública", sustenta Vallisney.
Geddel é ex-vice-presidente de Fundos de Governo e Loterias na Caixa. Pelas investigações, no período em que esteve no cargo, o ex-ministro se associou a Funaro, ao ex-deputado Eduardo Cunha e outros para facilitar a concessão de financiamentos para determinadas empresas em troca de propina. Só da JBS, do empresário Joesley Batista, ele teria recebido R$ 20 milhões. Funaro seria um dos intermediários do pagamento.
Segundo o juiz, a polícia ainda não descobriu onde estão os R$ 20 milhões do suborno, "havendo risco de serem escondidos/escamoteados". Ao todo, o ex-ministro teria recebido R$ 29 milhões de Funaro. Ele teria "manipulado" financiamentos para a JBS, Grupo Constantino, Oeste Sul Empreendimentos Imobiliários S.A, Comporte Participações, Marfrig, Seara, J&F Investimentos, Bertin, Big Frango e Dinâmica Segurança Patrimonial.
Vallisney considerou "gravíssimas" as recentes ligações de Geddel para Raquel Funaro "com o intuito de verificar do ânimo do marido preso em firmar acordo de colaboração premiada". A pressão foi relatada em dos depoimentos prestados por Funaro à Polícia Federal. Para comprovar o que estava dizendo, o operador entregou a polícia extratos e contas telefônicas e imagens de mensagens em que Raquel fala sobre a conversa com o ex-ministro.
"Em liberdade, Geddel Vieira Lima, pelas atitudes que vem tomando recentemente, pode dar continuidade a tentativas de influenciar testemunhas que irão depor na fase de inquérito da Operação Cui Bono, bem como contra pessoas próximas aos coinvetigados e réus presos Eduardo Cunha, Henrique Eduardo Alves, Lúcio Bolonha Funaro", afirma o juiz.


Vallisney lembra que Geddel já deu demonstração de que é capaz de usar a influência política para em busca de favorecimento pessoal e cita como exemplo a briga dele que levou a demissão do ex-ministro da Cultura Marcelo Calero.
Na condição de secretário de Governo, o segundo cargo mais importante na hierarquia do governo Temer, Geddel tentou forçar Calero a mudar um laudo técnico do Iphan para liberar a construção de um prédio numa área histórica em Salvador. A liberação da obra beneficiaria Geddel, dono de pelo menos um apartamento no prédio embargado. Na disputa entre os dois ministros, Temer mandou Calero transferir a decisão do caso para a Advocacia-Geral da União, que já teria posição sobre o assunto. A decisão também favoreceria Geddel.
Para o juiz, Geddel usou de sua "publica e notória influência para obter decisão administrativa que beneficiaria empreendimento em que havia adquirido imóvel particular". A partir de uma ação preliminar da Polícia Federal, a Procuradoria-Geral da Repúblico chegou a analisar se os indícios seriam suficientes para pedir abertura de inquérito contra Temer, o ministro da Casa Civil Eliseu Padilha e Geddel, entre outros. A Procuradoria-Geral entendeu, no entanto, que as provas apontavam contra Geddel que, depois de deixar o governo, seria investigado pela primeira instância da Justiça Federal.

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