sexta-feira, 7 de julho de 2017

CRISE: Dois diretores deixam o BNDES por divergência com Paulo Rabello

OGLOBO.COM.BR
POR DANIELLE NOGUEIRA

Motivo foi crítica de presidente do banco à redução de crédito subsidiado. 'Soube pelo jornal. Ele nunca conversou com a gente sobre o assunto', diz Vinícius Carrasco

Vinícius Carrasco pede demissão. Ele era diretor da área de Planejamento e Pesquisa do BNDES - Custódio Coimbra/6-5-2016

RIO - Os diretores do BNDES Vinícius Carrasco, da área Planejamento e Pesquisa, e Cláudio Coutinho, da área de Crédito, Financeira e Internacional, pediram demissão na manhã desta sexta-feira. A decisão foi tomada após entrevista do presidente do banco, Paulo Rabello de Castro, ao jornal "O Estado de S. Paulo", publicada hoje. Na entrevista, Paulo Rabello critica a Taxa de Longo Prazo (TLP), que passaria a ser usada em empréstimos do banco de fomento a partir de 2018, com objetivo de reduzir o crédito subsidiado às empresas.
Carrasco e Coutinho, que haviam sido convidados pela ex-presidente do BNDES Maria Silvia Bastos Marques, participaram ativamente da construção da fórmula da TLP. Para que ela passe a vigorar, é necessário aprovar no Congresso a Medida Provisória 777, que trata do assunto. O relator da MP, o deputado Betinho Gomes (PSDB-PE), defende uma versão da taxa que não “aniquile” o setor produtivo e sinaliza com mudanças.
Na entrevista concedida ao "Estado de S. Paulo", Paulo Rabello, que assumiu o BNDES há pouco mais de um mês, dá a entender que a fórmula pode ser revisada. Ele afirma que “num momento muito agudo (de alta desses juros), um projeto de longo prazo pode não resistir financeiramente à TLP”. Na sua avaliação a Taxa de Juro de Longo Prazo (TJLP), que é usada hoje em boa parte de em financiamentos do BNDES dá mais previsibilidade aos empresários.
— Soubemos da opinião do Paulo Rabello de Castro (sobre a TLP) pelo jornal. Ele nunca conversou com a gente sobre o assunto. Diante disso, pedi demissão. Eu acredito nesse projeto (da TLP) e avalio que minha missão no banco foi cumprida — afirmou ao GLOBO Vinícius Carrasco.
O ex-diretor contou que pediria sua demissão em algum momento, já que fora convidado por Maria Silvia. Mas frisou que a divergência com Paulo Rabello sobre a TLP acelerou a decisão. Ainda mais por ter tomado conhecimento da posição do presidente do banco pela mídia.
— O país tem que virar a página do crédito subsidiado. A MP 777 é fundamental. É um projeto que foi amplamante debatido pela Fazenda, pelo Planejamento, pelo Banco Central e pelo BNDES — disse Cláudio Coutinho. — Aqui no BNDES, eu e Carrasco estávamos à frente dessas discussões. Paulo Rabello vinha mantendo a política da gestão passada. Diante dessa posição (sobre a TLP), me sinto na desobrigação de permanecer no banco.
NOVA TAXA RETIRARÁ SUBSÍDIOS
A TJLP está em 7% ao ano. Como a Selic, taxa básica de juros, está em 10,25%, o crédito concedido pelo BNDES é subsidiado. A partir de janeiro de 2018, porém, conforme anunciado no fim de março pela então presidente da instituição Maria Silvia, o banco deixaria de usar a TJLP em novos contratos e passaria a adotar a TLP, mas próxima ao juro de mercado. Mas seria feita uma transição de cinco anos, até que ela a nova fórmula fosse plenamente implementada.
Pela fórmula original, a TLP é igual à NTN-B de cinco anos. Este é um título remunerado pela inflação medida pelo IPCA mais um juro fixo. E esse juro varia conforme a demanda do mercado, que leva em conta o risco de insolvência do país e a própria Selic. Na prática, os contratos do BNDES passariam a variar conforme a inflação, pois o juro da NTN-B seria definido quando da assinatura do documento e não mudaria ao longo de todo o financiamento, mesmo os de longo prazo.
O governo defende que, ao reduzir o crédito barato, seria aberto espaço para reduzir os juros básicos de forma estrutural. No dia do anúncio da nova taxa, Maria Silvia disse que "hoje, metade do país tem crédito direcionado e a outra metade paga juro mais alto para permitir um estoque de crédito a taxas menores". A mudança da TJLP para a TLP permitiria que, ao longo do tempo, toda a economia brasileira tivessa taxas menores, segundo ela.
— Houve toda uma preocupação com o prazo de transição. Era um projeto bem embasado — diz Carrasco.
O economista é professor adjunto de Economia da PUC-Rio, mas está licenciado. Ele afirmou que não sabe ainda o que fará após deixar o banco. Já Coutinho fez carreira na iniciativa privada. Antes de ser convidado para integrar a diretoria do BNDES, sua primeira experiência no setor público, era sócio da gestora Mare Investimentos. Ele vendeu sua fatia na empresa antes de assumir o cargo no banco de fomento e acredita que voltará ao mercado financeiro quando a quarentena acabar.
A proposta de mudança da TJLP para a TLP como taxa de referência nos empréstimos do BNDES havia desagradado o empresariado. Nos bastidores, essa alteração vinha sendo apontada como uma das razões para a pressão pelo afastamento de Maria Silvia. Os empresários também acusavam a ex-presidente de represar crédito em plena recessão. O BNDES desembolsou R$ 88,3 bilhões em 2018, menor volume desde 2007. Maria Silvia pediu demissão do banco em 26 de maio.

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