quinta-feira, 6 de julho de 2017

ANÁLISE: Temer e Janot duelam no terreno da política

Por Vera Magalhães - ESTADAO.COM.BR

A discussão sobre o recebimento ou não da denúncia formulada pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, contra o presidente Michel Temer por corrupção passiva deixou o campo jurídico e se transformou de maneira inequívoca em uma disputa política entre os dois.
Desde que a denúncia chegou à Câmara dos Deputados, a quem cabe autorizar que o Supremo Tribunal Federal decida se a recebe ou não, Janot deixou seu gabinete e se lançou numa defesa pública, despida de arrazoados jurídicos, de sua ação ao negociar o acordo de colaboração judicial com Joesley Batista e demais delatores da JBS e propor a abertura de inquérito contra Temer.
O linguajar adotado por Janot nessa jornada pública de defesa de suas ações em nada lembra aquele adotado nas contendas no plenário do STF. O procurador-geral cunhou a já célebre frase “enquanto houver bambu haverá flecha” em entrevista no fim de semana e ontem, em nova participação na imprensa, disse que se sentiu de “estômago embrulhado” ao ouvir o audio da conversa entre Temer e Joesley.
Essa presença do algoz diante dos holofotes dificulta a tarefa de Temer de convencer ao menos 172 deputados a votarem pelo arquivamento da denúncia, pois, ao traduzir em linguagem que a população entende sua versão dos acontecimentos o procurador aumenta a pressão popular sobre a Câmara, que se mostra bastante dividida entre dar apoio ao governo ou adotar seu instinto de autopreservação eleitoral.
Janot deve adotar a mesma linha palanqueira e “falando para o povo” quando for defender a denúncia na CCJ da Câmara. E não deve cessar por aqui seu “road show” midiático em defesa de sua atuação.
Procuradores ligados ao PGR já usam seus perfis nas redes sociais para mostrar o balcão de negócios montado pelo presidente para se segurar na cadeira. Comparam as notícias dando conta da explosão na liberação de emendas com outras que apontam a paralisação de serviços da Polícia Federal para mostrar o desvio de finalidade do governo.
A defesa apresentada por Temer mistura argumentos jurídicos e políticos para tentar desconstruir a denúncia de Janot. O que o presidente não contava é que o próprio procurador fosse a campo misturar argumentos jurídicos e políticos para sustentar que sua conduta como presidente é de dar náuseas.

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