quinta-feira, 9 de fevereiro de 2017

MUNDO: Governo Trump já acelera deportações de imigrantes nos Estados Unidos

FOLHA.COM
FERNANDA SANTOS
DO "NEW YORK TIMES", EM PHOENIX (ARIZONA)

Guadalupe García de Rayos, 35, apresentou-se periodicamente na representação do Departamento Federal de Imigração e Alfândegas em Phoenix por oito anos — exigência desde que ela foi flagrada em blitz em 2008 no parque aquático onde trabalhava, usando número falso de Seguridade Social.
Todos os anos desde então, ela entrou e saiu de reuniões em que seu caso passava por uma revisão breve e ela respondia a algumas perguntas.
Mas este ano foi diferente.

Genna Martin - 28.jan.2017/Associated Press

Na quarta-feira (8), agentes da imigração a prenderam e iniciaram procedimentos para deportá-la para o México, país que ela não vê desde que partiu, 21 anos atrás.
Quando uma van que a transportava deixou o prédio da Imigração, manifestantes estavam à espera. Eles cercaram o veículo, gritando "Libertação, não deportação".
A filha de Rayos, Jacqueline, segurava um cartaz que dizia "Nem mais uma única deportação". Outro manifestante, Manuel Saldaña, amarrou-se às rodas dianteiras da van e disse: "Vou ficar aqui pelo tempo que for preciso".
Rayos era uma de vários detidos que estavam no furgão. Não ficou claro se as autoridades pretendiam levá-los ao México ou a um local de detenção.
Rayos foi detida dias depois de a administração Trump ter ampliado a definição de "estrangeiro criminoso", um qualificativo que, segundo defensores dos direitos de imigrantes, pode facilmente ser aplicado à maioria dos imigrantes ilegais nos Estados Unidos.
"Estamos vivendo em uma nova era — uma era de guerra aos imigrantes", disse o advogado de Rayos, Ray A. Ybarra Maldonado, na quarta-feira depois de deixar o prédio da agência federal de imigração, conhecido por sua sigla, ICE.
O governo Barack Obama priorizou a deportação de pessoas vistas como uma ameaça à segurança pública, que tinham vínculos com gangues criminosas ou que tivessem cometido crimes graves ou uma série de delitos menores.
Rayos não se enquadra em nenhum desses critérios, razão por que pôde permanecer nos Estados Unidos mesmo depois de um juiz ter emitido uma ordem de deportação contra ela, em 2013.
Tudo isso mudou com a chegada do presidente Donald Trump. Um dos 18 decretos que ele assinou desde chegar ao poder, em 20 de janeiro, estipula que imigrantes ilegais condenados por qualquer delito sejam alvos prioritários de deportação – mesmo os que ainda não foram acusados criminalmente, mas que se acredite que tenham cometido "atos que constituam um delito criminal imputável".
Yasmeen Pitts O'Keefe, uma porta-voz do ICE, disse em comunicado à imprensa que Rayos "está detida pelo departamento de Imigração e Alfândega com base em uma ordem de remoção emitida pelo Escritório Executivo do Departamento de Justiça para a Revisão de Imigração".
Após a detenção de Guadalupe Rayos, seu advogado, Ray Maldonado, encaminhou um pedido de suspensão de deportação, mas o comunicado do ICE não faz menção ao pedido nem à cronologia de sua deportação.
Advogados de dois dos maiores grupos nacionais de defesa dos direitos civis disseram que, desde que Trump chegou ao poder, Rayos talvez seja a primeira imigrante ilegal a ser detida em uma reunião programada com autoridades imigratórias.
Milhares de outros correm esse risco quando se apresentam para suas verificações periódicas de status imigratório, em grande medida porque agora agentes federais têm o poder de decidir quem constitui ou não uma ameaça à segurança pública, disseram os advogados.
"É exatamente esse o problema preocupante do decreto de implementação imigratória interna emitida por Trump", disse Cecillia Wang, vice-diretora jurídica da União Americana de Liberdades Civis (ACLU), entrevistada na quarta-feira.
Trump, disse ela, "liberou esses agentes para perseguirem imigrantes, sem levar em conta seus laços com os Estados Unidos e a contribuição que tenham feito ao país".
Guadalupe Rayos tinha 14 anos quando deixou a cidade de Acambaro, numa parte pobre do Estado mexicano de Guanajuato, e atravessou ilegalmente a fronteira americana, indo para Nogales, no Arizona, a três horas de carro de Phoenix.
Ela se casou com outro imigrante ilegal e teve um filho e uma filha, que já são adolescentes.
 
Steve Helber/Associated Press

Ela estava trabalhando no parque aquático Golfland Sunsplash, em Mesa, próximo a Phoenix, no Arizona, quando agentes do xerife do condado de Maricopa invadiram o local em 16 de dezembro de 2008, prendendo-a e detendo vários outros funcionários por suspeita de roubo de identidade e uso de documentos forjados para conseguir emprego.
A operação foi uma das primeiras desse tipo ordenada pelo então xerife Joe Arpaio sob os termos de uma lei estadual que autoriza a imposição de sanções a empregadores que contratam imigrantes ilegais, cientes de que o são.
Rayos passou três meses numa cadeia do condado e mais três meses em um centro de detenção de imigrantes, como contou a um repórter.
Em 2013, um tribunal de imigração ordenou sua deportação para o México, mas o caso dela ficou em suspenso desde que as autoridades federais — sob a administração Obama— decidiram não aplicar a ordem de deportação.
Ela foi presa não por ter entrado ilegalmente nos Estados Unidos, o que é um delito civil, mas por ter sido criminalmente condenada pelo uso de um número falso de Seguridade Social, um subterfúgio frequentemente utilizado por imigrantes ilegais à procura de trabalho no país.
"Tenho fé em Deus", disse Rayos, fazendo força para não chorar.
Ela se dirigiu para os portões que cercam o prédio do ICE, seguida por Garcia e um pequeno exército de voluntários, o mesmo grupo que promoveu vários protestos contra Joe Arpaio no auge da perseguição movida pelo xerife contra os imigrantes irregulares.
Os voluntários gritavam "No estás sola" —"você não está sozinha".

Tradução de CLARA ALLAIN

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