terça-feira, 6 de dezembro de 2016

MUNDO: Negócios dos filhos devem causar confusão para a Presidência de Trump

UOL
Matt Flegenheimer, Rachel Abrams, Barry Meier e Hiroko Tabuchi*

Stephen Crowley/The New York Times
Donald Trump e sua família participam de cerimônia de inauguração do Trump International Hotel, em Washington

Quando Donald Trump hospedou um líder estrangeiro pela primeira vez como presidente eleito, no mês passado, a lista de convidados incluía um item curioso: Ivanka, a filha de Trump, que observou enquanto seu pai e o primeiro-ministro do Japão, Shinzo Abe, conversaram em um sofá branco com vista para Manhattan.
A cerca de 10,7 mil km da Trump Tower, em Tóquio, acontecia outra reunião exclusiva: uma exposição privativa durante dois dias dos produtos de Ivanka Trump, cheia de tesouros da marca Trump, como uma amostra do vestido rosa-claro que Ivanka usou para apresentar seu pai na Convenção Nacional Republicana.
Ivanka Trump está concluindo um acordo de licenciamento com a gigante das roupas japonesa Sanei International, disseram as duas partes ao jornal "The New York Times". O maior acionista da matriz da Sanei é o Banco de Desenvolvimento do Japão, que é totalmente propriedade do governo japonês.
As discussões sobre o acordo estão em andamento há cerca de dois anos, segundo a empresa de Ivanka. Nesse período, ela se tornou uma espécie de fascinação local.
As circunstâncias salientam o notável emaranhado que aguarda a família Trump, seu expansivo império empresarial e os que interagiram com a família nos EUA e no exterior --uma teia de complicações que certamente continuará mesmo que Donald Trump faça valer sua promessa de afastar-se das operações de sua companhia.
Desde sua eleição, Trump desdenhou da sugestão de que manter suas empresas na família poderia criar problemas. Embora ele tenha insistido que não enfrenta uma exigência legal de transferir a empresa, a Organização Trump disse que está preparando uma "transferência imediata da administração" aos três filhos mais velhos de Trump: Donald Jr., 38, Ivanka, 35, e Eric, 32, juntamente com uma equipe de executivos.
Na semana passada, o presidente eleito disse no Twitter que faria um anúncio com os filhos em 31 de dezembro sobre "deixar totalmente minha grande empresa para me concentrar plenamente na direção do país".
Mas uma análise das histórias profissionais dos três filhos mostra que a família Trump, as empresas Trump e a política Trump estão entrelaçadas, levantando dúvidas significativas sobre quão importante poderá ser um muro erguido entre Donald Trump e seus herdeiros na Organização Trump.
Oficialmente, os três irmãos são vice-presidentes executivos para desenvolvimento e aquisições. Na prática, eles serviram como guarda avançada do pai: as polidas faces públicas da próxima geração dos Trump, realizando reuniões iniciais com parceiros prospectivos e reportando-se ao pai.
Desde que os três entraram nos negócios, pouco depois de cada um se formar na faculdade, as linhas se misturaram.
Quando o investimento de Donald Trump Jr. em uma empresa de painéis de concreto na Carolina do Sul vacilou nos últimos anos, deixando-o pessoalmente responsável por um empréstimo de mais de US$ 3 milhões (cerca de R$ 10,4 milhões), a Organização Trump ajudou a socorrê-lo.
Antes que Eric Trump, que supervisiona os campos de golfe de Trump e uma vinícola na Virgínia, enfrentasse questionamento em um processo legal de membros do clube na Flórida, seu pai assinou uma carta dizendo que os sócios insatisfeitos seriam "expulsos".
Ivanka Trump usou a folha de pagamentos, a informática e os recursos humanos da Organização Trump para sua marca pessoal. O domínio de seu site foi registrado por advogados da Organização Trump.
O treinamento começou cedo na família.
John Marshall Mantel/The New York Times
Detalhe do interior do Ivanka Trump Fine Jewelry, em Madison Avenue, Nova York

Desde que podem se lembrar, os filhos visitaram locais de trabalho, como Donald Trump havia feito com seu pai, Fred. Eles participaram de reuniões com executivos e autoridades do governo.
Mas quando Trump Jr. tentou estabelecer sua própria identidade empresarial ele se inspirou no manual de seu pai e às vezes em sua folha de pagamentos.
Sua incursão na indústria fabril na Carolina do Sul talvez ofereça a visão mais clara dos negócios independentes de Trump Jr.
Em 2010, Trump Jr. ajudou a fundar uma empresa no deprimido subúrbio de North Charleston chamada Titan Atlas Manufacturing, que fabricava painéis moldados para casas pré-fabricadas.
O executivo-chefe da Titan Atlas era um velho amigo chamado Jeremy Blackburn, que, antes da formação da empresa, admitiu seu acordo em um processo legal que havia participado de um esquema para fraudar um empresário que afirmava ter perdido US$ 1 milhão. Em um e-mail, Blackburn disse que não tinha feito nada errado.
Juntamente com o projeto de North Charleston, Trump Jr. e Blackburn tentaram fazer negócios no México e na Colômbia, viajando com executivos da Organização Trump e da Yun Capital, uma firma de investimentos envolvida em projetos da Organização Trump no exterior. Em 2011, a Yun Capital registrou a marca JB Development em nome de Blackburn, segundo registros oficiais.
Em 2012, a Titan Atlas estava atolada em dívidas, provocando um processo de uma firma de advocacia de Filadélfia que havia contratado para representá-la. A firma afirmou que lhe deviam US$ 400 mil em honorários.
Depois que Blackburn pediu falência pessoal, a firma de advocacia voltou sua atenção para Trump Jr., emitindo uma intimação para que ele depusesse sobre os ativos da Titan Atlas.
A Organização Trump saltou em sua defesa. Alan Garten, o advogado geral da organização, ameaçou abrir uma queixa disciplinar sobre um advogado da firma se ele tentasse incluir Trump Jr. no caso.
A firma de Filadélfia seguiu com o processo, apesar da ameaça. Na véspera do depoimento de Trump Jr., porém, um acordo confidencial foi feito.

Kate Thornton/The New York Times
Titan Atlas Manufacturing, em North Charleston, que Donald Trump Jr. ajudou a fundar

Levantando a marca do pai e a sua própria
A imagem de Ivanka Trump como empresária cheia de estilo, e agora mãe, há muito sustentou sua marca, levando os produtos Ivanka Trump a lojas do Alabama ao Kuait e definindo-a como a segunda Trump mais famosa.
Na frente doméstica, um dos empreendimentos de Ivanka teve menos sucesso.
Em 2007, ela abriu a joalheria Ivanka Trump Fine Jewelry na Madison Avenue em Nova York, a poucos metros da Trump Tower. Seus irmãos tinham dado orientação, pelo menos rapidamente, durante uma visita antes da inauguração, ao notar um desalinho estrutural em um banheiro.
Como muitos outros empreendimentos Trump, a firma de joias era um acordo de licenciamento. Os anéis e colares da coleção Ivanka Trump vinham de uma sociedade com um atacadista de diamantes sediado em Nova York.
Em 2011, quando a loja de Ivanka migrou para um espaço no SoHo, os problemas cresceram. O sócio dela, a Madison Avenue Diamonds, que operava a Ivanka Trump Fine Jewelry, foi processado por um antigo fornecedor, KGK, que afirmava ser credor de mais de US$ 2 milhões. Os advogados do sócio acusaram a KGK de incorporar pedras falsas nas joias da marca Trump, dizendo que alguns artigos de ouro "às vezes deixavam verde a pele das usuárias".
Na época em que o problema foi descoberto, escreveram os advogados, a Ivanka Trump Fine Jewelry tinha vendido 119 das mais de 250 peças problemáticas, "potencialmente criando um desastre de relações públicas" que colocaria em risco o negócio.
A KGK ganhou o processo por motivos não relacionados às pedras, cuja autenticidade nunca foi comprovada ou reprovada em tribunal. O fornecedor negou as denúncias em documentos jurídicos.
Y. David Scharf, um advogado da Madison Avenue Diamonds, disse que "amplos esforços foram feitos para remover os artigos desconformes do mercado" e todos os pedidos de troca foram aceitos.
A loja do SoHo fechou discretamente no ano passado.
"Nós a fizemos grande de novo"
Segundo a maioria dos relatos, o filho mais moço de Donald Trump e Ivana Trump tem sido um condutor eficiente da Vinícola Trump na Virgínia, que ganhou a aclamação local por seus vinhos, espumantes ou não.
Eric Trump, que supervisiona os campos de golfe da família, também mostrou que fica à vontade com os conflitos.
Pouco depois de a Organização Trump ter comprado um balneário de luxo e campo de golfe em Jupiter, na Flórida, em 2012, alguns sócios do clube moveram um processo afirmando que a empresa tinha violado seus direitos ao impedir sua entrada nas instalações, entre outras questões. A Organização Trump disse que não fez nada errado e o caso ainda não teve uma decisão.
Mas no balanço, segundo o depoimento de Eric Trump, a propriedade prosperou sob a direção da família.
"Pegamos algo que tinha dado muito errado e a fizemos grande de novo", disse ele.

* Colaboraram na reportagem Susanne Craig, Michael Barbaro, Maggie Haberman, Steve Eder, Richard C. Paddock e Chris Dixon. Kitty Bennett, Doris Burke e Jeremy B. Merrill colaboraram na pesquisa

Tradutor: Luiz Roberto Mendes Gonçalves

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