sexta-feira, 22 de julho de 2016

LAVA-JATO: Odebrecht tentou pressionar Antígua para ilha não colaborar com Lava-Jato

OGLOBO.COM.BR
POR THIAGO HERDY, ENVIADO ESPECIAL / RENATO ONOFRE

País abrigou o ‘banco de propina’ da empreiteira; pressão não teve efeito e cooperação foi adiante

Agentes da Polícia Federal na sede da Odebrecht em São Paulo, em fevereiro - Edilson Dantas / Agência O Globo / 22-2-2016

CURITIBA e SÃO PAULO - Um dos administradores das contas de propina da Odebrecht no exterior e delator da Lava-Jato, Luiz Augusto França disse em depoimento ao Ministério Público Federal (MPF) que a Odebrecht tentou pressionar as autoridades de Antígua, na América Central, para que não colaborassem com a Lava-Jato.
A informação está em documento anexado em processo público que tramita na 13ª Vara Federal Criminal em Curitiba e apura eventuais crimes cometidos por integrantes da empreiteira. De acordo com o delator, o pedido não teve efeito e as autoridades de Antígua acabaram colaborando com as investigações no Brasil. Atualmente, o MPF registra 108 pedidos de cooperação internacional com 36 países, alguns deles conhecidos paraísos fiscais. (Confira no mapa).
França era um dos administradores das contas da Odebrecht no exterior, em especial no Meinl Bank Antigua, cuja participação de 51% foi adquirida para operar uma rede de contas de offshores, que o MPF acredita ter sido usada para pagar agentes políticos pelo mundo. Nas mãos dos agentes da Odebrecht, o banco movimentou US$ 1,6 bilhão, dos quais aproximadamente 70% seria relacionado a operações da empresa brasileira, segundo cálculos dos delatores. A colaboração dos três administradores das contas foi homologada há 10 dias pelo juiz Sérgio Moro.
Com o avanço das investigações no Brasil, no segundo semestre do ano passado, França disse ter recebido um pedido do funcionário da Odebrecht Luiz Eduardo Soares para que “fosse colocado em contato com autoridades da Antígua para tratar das investigações da Lava-Jato no Brasil”. Para o MPF, Soares é a pessoa identificada em anotação no celular de Marcelo Odebrecht com a sigla “LE”, que o executivo diz dever “ir para fora já” e trabalhar com outro executivo, Hilberto Silva, para “fechar todas as contas sob risco”.
‘IMPACTO NEGATIVO’
Segundo ele, em setembro do ano passado Soares foi apresentado ao primeiro ministro de Antígua, Gaston Browne, ocasião em que ele teria sido informado que “haviam sido feitas muitas operações no sistema financeiro antiguano e que a investigação no Brasil poderia acarretar impacto negativo na ilha”.
“A pretensão de Luiz Eduardo (Soares) era que as autoridades de Antígua não colaborassem com as autoridades brasileiras, embora isso não tenha sido falado expressamente”, afirmou França em depoimento ao MPF. De acordo com o delator, foram realizadas outras reuniões entre Luiz Eduardo e as autoridades daquele país para tratar do tema.
Segundo o depoente, foi constituída uma comissão pelas autoridades de Antígua para analisar o caso, mas as investigações não foram prejudicadas no Brasil e os pedidos de cooperação internacionais feitos pelo país acabaram atendidos.
TRANSAÇÕES ARMAZENADAS
Outro delator do caso, Vinícius Veiga Borin, explicou aos investigadores que os dados das tranferências bancárias do Meinl Bank Antigua, pela legislação local, ainda podem estar armazenados na inestituição financeira. De acordo com Borin, o banco tem que armazenar todos os dados por no mínimo seis anos. Ele afirmou que a Odebrecht, sendo disso, cogitou encerrar o banco para apagar os rastros da transação.
Na terça-feira, a empresa informou aos procuradores da força-tarefa da Operação Lava-Jato que está avançando bem no processo de recuperação dos arquivos digitais, que pertenciam ao chamado Setor de Operações Estruturadas. Os dados são peça-chave na negociação do acordo de colaboração que Marcelo Odebrecht tenta.
A Odebrecht informou que não comenta o assunto.

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