POLÍTICA: Pressionado, PT promete apoio a pacote fiscal, mas não deve punir infiel

FOLHA.COM

RANIER BRAGON

VALDO CRUZ

DE BRASÍLIA

Após nova reunião tensa, recheada de reclamações contra o governo e o PMDB, a bancada de deputados federais do PT decidiu na tarde desta quarta-feira (6) declarar apoio integral ao pacote de ajuste fiscal do governo Dilma Rousseff.

Apesar de aprovar o chamado "fechamento de questão" em favor dos projetos, a bancada deixou claro na reunião a portas fechadas que não pretende punir eventuais traições – a Folha apurou que são esperados pelo meno sete votos contrários na bancada petista, que tem 64 integrantes.

Segundo petistas contrários ao projeto, houve um "apoio para inglês ver".

A nova reunião foi uma exigência do PMDB, que condicionou o apoio às medidas de restrição de benefícios trabalhistas e previdenciários de Dilma a uma posição inequívoca do PT.

Após a decisão dos petistas, a bancada do PMDB anunciou que pretende votar a favor do ajuste. "Cobramos um posicionamento claro do PT, de que o ajuste é necessário. Isso feito, vamos votar a favor do ajuste", disse o líder peemedebista na Câmara, Leonardo Picciani (RJ). Ele deu a declaração após reunir a bancada com o líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE).

Na terça, o PT havia decidido apoiar o pacote após quatro horas de reunião, mas sem obrigar o voto favorável.

Pelo estatuto do partido, quem desobedecer o chamado "fechamento de questão" sofre punições internas que podem chegar, em casos extremos, à expulsão da sigla. Isso aconteceu, por exemplo, no início do primeiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, quando a então senadora Heloísa Helena (AL) e mais três deputados federais foram expulsos após se recusar a votar a favor da reforma da Previdência.

A Folha apurou, entretanto, que para vencer as resistências internas e se chegar a um consenso, ficou acordado que não haverá punições aos votos contrários. Ainda não está claro ainda se a Executiva do PT avalizou o "fechamento de questão", requisito previsto no estatuto.

DESGASTE

Parte dos deputados do PT é contra o ajuste por temer desgaste em suas bases eleitorais. "Não somos beija-mão do Palácio do Planalto, mas também não seremos linha auxiliar da oposição", afirmou o deputado Reginaldo Lopes (PT-MG), em um dos intervalos da reunião, ao explicar porque a bancada, apesar das resistências, iria apoiar Dilma.

Realizado em um dos plenários da Câmara dos deputados, o encontro foi tenso. Do lado de fora era possível ver deputados gesticulando bastante e, em alguns momentos, discursos eram feitos em tom bastante inflamado.

Foi possível, por exemplo, escutar parte da fala do deputado Luiz Couto (PT-PB): "Querem jogar o PT na parede. (...) Querem torturar, depois matar, acabar", discursou. A possível referência é ao PMDB, partido que tem patrocinado rebeliões contra Dilma sob o comando do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ).

Principal ação legislativa do segundo mandato de Dilma Rousseff, o pacote de ajuste fiscal elaborado pelo ministro Joaquim Levy (Fazenda) passa pelo seu teste de fogo no plenário da Câmara. A primeira das medidas provisórias, a 665, começou a ser votada nesta terça e terá sua análise retomada nesta quarta.

Seu principal ponto é o aumento do tempo de trabalho para que possa ser solicitado, pela primeira vez, o seguro-desemprego. O governo queria elevar esse período de seis para 18 meses. Mas o Congresso, na análise prévia à votação pelo plenário da Câmara, já reduziu esse prazo para 12 meses.