terça-feira, 19 de maio de 2015

CASO PETROBRAS: Auditor da Petrobras fez lista de diretores, gerentes e ex-gerentes suspeitos

OGLOBO.COM.BR
POR VINICIUS SASSINE

De 35 nomes, petroleira identificou ‘bandeiras vermelhas’ em oito por risco de envolvimento em desvios
Triagem. Sede da Petrobras: ao menos um nome foi excluído da certificação do balanço para que auditor externo se sentisse “confortável” - Carlos Ivan/Agência O Globo/11-4-2014

BRASÍLIA - A pedido da PwC, que auditou o balanço contábil da Petrobras de 2014, a estatal elaborou uma lista com nomes de diretores, gerentes e ex-gerentes que deveriam ser substituídos na certificação das demonstrações financeiras, em razão de achados tidos como suspeitos. Em reunião do Conselho de Administração da Petrobras em 27 de fevereiro, cujo áudio foi obtido pelo GLOBO, o diretor de Governança, João Adalberto Elek Júnior, detalhou o pente-fino feito numa relação de 35 nomes encaminhada pela PwC. O diretor listou oito pessoas para os quais “aparecem algumas bandeiras vermelhas”. Entre eles estão um diretor licenciado da Petrobras, um gerente na ativa e um diretor na ativa na BR Distribuidora.
Após a explicação inicial, o então presidente do conselho, Guido Mantega, quis saber os nomes, e o diretor citou Armando Tripodi, ex-chefe de gabinete da presidência na gestão de Sergio Gabrielli e gerente de Responsabilidade Social; Diego Hernandes, ex-gerente de Recursos Humanos; José Eduardo Dutra, licenciado por motivos de saúde da Diretoria Corporativa da estatal; Luis Alves de Lima Filho, diretor da Rede de Postos de Serviço da BR Distribuidora; Paulo Otto, então ouvidor-geral da estatal; Rubens Teixeira, então diretor financeiro da Transpetro; e Wilson Santarosa, então gerente de Comunicação da Petrobras. A reportagem não conseguiu identificar o oitavo nome.
Na lista, há gestores indicados por partidos e políticos. É o caso do diretor da Rede de Postos da BR, indicado pelo senador Fernando Collor (PTB-AL) — dentro da Operação Lava-Jato, o parlamentar é investigado no STF por suspeitas de lavagem de dinheiro e evasão de divisas.
Paulo Otto foi indicado ao cargo de ouvidor-geral pelo ex-ministro José Dirceu, motivo de queixas de conselheiros em reuniões do conselho da Petrobras, como revelado pelo GLOBO no último dia 13. Ele foi demitido do cargo no dia 15.
Wilson Santarosa foi demitido pelo atual presidente da Petrobras, Aldemir Bendine, em março. O ex-sindicalista ficou 12 anos no cargo, indicado pelo ex-presidente Lula e por Dirceu. Teixeira, indicado pelo PRB, deixou o cargo na Transpetro em março.
O diretor ressaltou que não se tratava de denúncia nem de “julgamento de atitudes”, mas só da ressalva para a possibilidade de substituir esses certificadores. Para tratar do assunto, considerado “delicado” pelo diretor, Elek pediu para falar apenas na presença de conselheiros. Os diretores deixaram a sala de reunião.
Ele disse que um comitê especial avaliou os nomes para identificar certificadores que poderiam gerar “desconforto” aos auditores responsáveis pela análise externa do balanço contábil. Para isso, foram coletados telefones celulares, iPads e computadores das pessoas listadas. Elek explicou que foram encontrados registros como encontros frequentes com pessoas citadas na Lava-Jato, visitas recebidas e ligações telefônicas trocadas. No telefone de um funcionário, o pente-fino detectou o agendamento de um almoço com Fernando Soares, o Fernando Baiano, suposto operador do esquema de desvios de recursos da Petrobras a políticos do PMDB.
— A sugestão do comitê é que, independentemente do que apareça mais adiante, que se inicie de imediato a identificação de potenciais substitutos para nomes que venham a ser considerados não confiáveis — disse Elek, que sugeriu a criação de um “estoque de nomes”.
PETROBRAS E BR NÃO COMENTAM
Após ouvir os nomes, conselheiros questionaram se “já aparecem registros de alguma coisa”. Elek respondeu:
— Já aparecem registros do tipo: encontros frequentes com pessoas relatadas dentro do processo da Lava-Jato, encontro, visita que recebeu, vários telefonemas que receberam. Temos aí a evidência documental. Não é denúncia. São evidências de que houve contato, o que pode retirar o conforto do auditor.
Numa reunião de 26 de março, foi detalhada o pente-fino feito nos 35 nomes indicados pela PwC: 333 equipamentos analisados, 15 milhões de documentos extraídos, testes com 1.230 palavras-chave. Ainda naquela reunião se falava em “oito nomes em que não haveria conforto para serem certificadores”, dos quais três deixaram a companhia no intervalo entre uma reunião e outra. Ao menos um nome foi efetivamente substituído na certificação.
Os detalhes da lista de Elek não constaram da ata da reunião de 27 de fevereiro. A diretoria de Governança foi criada na Petrobras em novembro, como resposta às descobertas de desvios e propinas feitas pela Lava-Jato. Elek assumiu o cargo em janeiro. Procuradas pela reportagem, Petrobras e BR Distribuidora disseram, por meio das assessorias de imprensa, que não comentam “informações supostamente oriundas de vazamentos ilegais”. O GLOBO não conseguiu localizar os funcionários que se desligaram da estatal.
VEJA TAMBÉM

Comentários:

Postar um comentário

Template Rounders modificado por ::Power By Tony Miranda - Pesmarketing - [71] 9978 5050::
| 2010 |