terça-feira, 9 de dezembro de 2014

LAVA-JATO: Documentos revelam que Camargo Corrêa pagou R$ 886 mil a empresa de José Dirceu

OGLOBO.COM.BR
POR O GLOBO


No mês em que fechou acordo com ex-ministro, construtora ganhou contratos de R$ 4,7 bilhões da Petrobras
Ex-ministro da Casa Civil José Dirceu - André Coelho / O Globo
SÃO PAULO - A Operação Lava-Jato, da Polícia Federal, apreendeu na sede da Camargo Corrêa, em São Paulo, um contrato da empreiteira com uma das empresas do ex-ministro e deputado cassado José Dirceu, condenado no julgamento do mensalão. O documento foi publicado pelo site da revista “Época”, mas ainda não consta dos autos dos processos na Justiça Federal de Curitiba. Assinado em 21 de fevereiro de 2010, o contato previa prestação de consultoria na “integração dos países da América do Sul” e análise de aspectos sociológicos e políticos do Brasil.
Segundo o contrato, Dirceu deveria ainda divulgar o nome da empresa dentro e fora do Brasil, ministrar palestras e participar de conferências, além de estar à disposição da empreiteira sempre que solicitado para os serviços mencionados. O contrato, marcado como sigiloso, previa o pagamento de R$ 75 mil por mês. Os comprovantes apreendidos mostram que a JD Assessoria recebeu R$ 886,5 mil. O primeiro pagamento foi retroativo, equivalente a três meses de consultoria.
Procurada pelo GLOBO, a Camargo Corrêa confirmou a existência do contrato com Dirceu, mas informou que não faria comentários. A assessoria de Dirceu também confirmou o documento, mas afirmou que o objeto do contrato nada tinha a ver com a Petrobras, mas com serviços que o ex-ministro prestaria fora do país. Alegou sigilo contratual para não comentar sobre como foi feita a prestação de serviços.
Em 2010, quando foi contratado pela empreiteira, Dirceu já atuava como advogado e consultor. Ele foi ministro da Casa Civil no governo Lula até 2005. Em 2007, foi um dos denunciados no mensalão, por crimes como corrupção ativa, lavagem de dinheiro e peculato. O ex-ministro foi considerado chefe do esquema ao lado de outros petistas, como José Genoino. Ou seja, ao ser contratado pela empreiteira, já era conhecida sua participação no esquema de compra de votos no Congresso Nacional.
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CONTRATO FIRMADO EM 2010
No mesmo endereço, a Polícia Federal apreendeu contratos assinados entre a Camargo Corrêa e outras empresas de consultoria. Entre elas, estão a Treviso, de R$ 18 milhões, e a Piemonte, de R$ 6,1 milhões. As duas empresas pertencem a Júlio Gerin Camargo, que contou ao Ministério Público Federal que vários contratos foram assinados apenas para justificar a saída de dinheiro dos consórcios que prestavam serviços à Petrobras. O dinheiro destinado aos políticos do PP eram depositados em contas controladas pelo doleiro Alberto Youssef, no Brasil, em Hong Kong e na China.

A Camargo Corrêa está no grupo principal das empreiteiras investigadas na Operação Lava-Jato. O contrato com Dirceu foi firmado em abril de 2010. Em fevereiro, a empresa havia fechado contratos milionários com a Petrobras para as obras da Refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco. Apenas um deles chegou a ter 16 aditivos. No total, foram 383 aditivos contratuais.
O valor da obra alcança pelo menos US$ 18,5 bilhões. Além de acusada de ser uma das articuladoras do cartel de empreiteiras que dividiam as obras da Petrobras, a Camargo Corrêa é a única a ter um executivo de primeiro escalão apontado como beneficiário de propina. Júlio Camargo, da Toyo Setal, afirmou, em delação premiada, que pagou R$ 2 milhões a Eduardo Leite, vice-presidente da Camargo Corrêa. Parte desse dinheiro, teria sido depositado na conta da mulher do Leite. Júlio Camargo disse ainda que pagou compras feitas por Leite em Miami. Os advogados de Leite negam as acusações.
Em depoimento à Justiça Federal do Paraná, o doleiro Alberto Youssef, que assumiu ser o operador da distribuição da propina de obras da diretoria de Abastecimento da Petrobras, afirmou que Paulo Roberto Costa só assumiu o posto na estatal, em 2004, depois que parlamentares travaram a pauta do Congresso, deixando o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva enlouquecido. Costa era uma indicação do PP, presidido pelo então deputado José Janene. Cabia ao então ministro da Casa Civil ajudar a acalmar os ânimos e restabelecer os trabalhos na Câmara dos Deputados e no Senado.
Na Operação Lava-Jato, é dado como certo que Dirceu foi quem colocou Renato Duque na diretoria de Engenharia e Serviços da Petrobras. Pedro Barusco, gerente da área e braço-direito de Duque, assinou acordo de delação premiada com o Ministério Público Federal para contar o que sabe. Segundo Costa, a área levava 2% da propina na Diretoria de Abastecimento, e Duque comandava a arrecadação, entre 2% e 3%, da propina cobrada na Diretoria de Serviços.
Augusto Mendonça Neto, da Toyo Setal, afirmou que Duque mandou depositar parte da propina diretamente na conta do PT. E contou que o dinheiro vivo para entregar aos políticos chegava de carro-forte ao escritório da empresa, na Chácara Santo Antonio,em São Paulo.
As contas de Duque no exterior já foram identificadas; a principal delas seria na Suíça, onde os procuradores da Lava-Jato já negociaram colaboração das autoridades.

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