terça-feira, 19 de agosto de 2014

TRAGÉDIA: Fabricante de avião alertava para riscos

Da FOLHA.COM
RICARDO GALLO
MARIANA BARBOSA, DE SÃO PAULO

Um alerta que consta no manual do avião que caiu com Eduardo Campos aponta para o risco de o jato mergulhar abruptamente durante procedimento feito em subidas e arremetidas.
O procedimento apontado pela Cessna, fabricante do jato Citation 560 XL, é o recolhimento dos flaps – dispositivo que, acionado, aumenta a área das asas para dar mais sustentação ao avião em baixas altitudes, como em pousos ou decolagens.
Segundo o alerta, se os flaps forem recolhidos quando o avião estiver acima de 370 km/h, o nariz pode ser jogado para baixo, o que, na prática, pode tornar o avião difícil de controlar. Isso acontece por um efeito aerodinâmico nos estabilizadores horizontais – pequenas asas na cauda. É uma particularidade dos Citation.
Os flaps são recolhidos assim que o avião ganha altitude; pode ser após uma decolagem ou de uma arremetida, mesmo procedimento que o Citation PR-AFA fez antes de cair, em Santos. Não está claro se isso aconteceu. A Aeronáutica investiga as causas do acidente.
Em entrevista à Folha no sábado (16), o brigadeiro Juniti Saito, comandante da Aeronáutica, disse que "os flaps estavam recolhidos".
Para evitar o problema, a Cessna criou um inibidor que impede o avião de jogar o nariz para baixo em alta velocidade – informação que também está no manual. Não se sabe, tampouco, se o inibidor do jato de Campos falhou.
Segundo um piloto de Citation, o alerta sobre o mergulho está no manual como meio de prevenção se o sistema de proteção falhar.
Editoria de Arte/Folhapress 
PRECEDENTE
O alerta para o Citation foi incluído no manual em 2004, como um procedimento obrigatório, depois da investigações de um incidente na Suíça dois anos antes. No incidente, sem mortes, o avião estava acima de 2.740 metros ao dar um mergulho; e só se estabilizou em 914 m.
A Folha procurou a Cessna, que não falou sobre o manual. Disse que o alerta consta em arquivo produzido pela Flight Safety, organização baseada nos EUA autorizada pela Cessna a dar treinamento a empresas e pilotos que operam aviões feitos por ela.
A reportagem reforçou o pedido para que a empresa se posicionasse sobre a informação do manual, mas não obteve nova resposta.
Arquivo PSB/2014
Eduardo Campos com a família em parque
ACIDENTE
O candidato do PSB à Presidência da República, Eduardo Henrique Accioly Campos, 49, morreu no dia 13 de agosto em acidente aéreo em Santos, litoral paulista, onde cumpriria agenda de campanha. O jato Cessna 560 XL, prefixo PR-AFA, partira do Rio e caiu em área residencial. A Aeronáutica investiga a queda.
Dois pilotos e quatro assessores também morreram, e sete pessoas em solo ficaram feridas. Os restos mortais removidos do local do acidente foram para a unidade do IML (Instituto Médico Legal) em São Paulo. Na noite de sábado (16), o corpo de Campos chegou ao Recife. Os filhos dele carregaram o caixão usando camisetas com a frase "Não vamos desistir do Brasil", dita pelo candidato na TV.
Cerca de 130 mil pessoas, segundo estimativa da Polícia Militar, acompanharam no domingo (17) o cortejo com o corpo de Eduardo Campos no Recife, após o velório no Palácio do Campos das Princesas. O ex-governador foi enterrado sob gritos de "Eduardo, guerreiro do povo brasileiro", aplausos e fogos de artifício. No velório, Dilma Rousseff (PT) e o ex-presidente Lula receberam vaias da multidão, depois abafadas por aplausos. O senador mineiro Aécio Neves (PSDB) também participou da cerimônia.
Marina Silva ficou ao lado de Renata Campos, viúva do candidato, durante o velório e o enterro. No cemitério, a ex-senadora foi seguida por pessoas que gritavam seu nome e tentavam tocá-la. Os corpos das outras vítimas do acidente foram enterrados em Recife, Aracaju, Maringá (PR) e Governador Valadares (MG).
Governador de Pernambuco por dois mandatos, ministro na gestão Lula, presidente do PSB e ex-deputado federal, Campos estava em terceiro lugar na corrida ao Planalto, com 8% no Datafolha. Conciliador, era considerado umexpoente da nova geração da política.
Campos morreu num 13 de agosto, mesmo dia da morte do avô, o também ex-governador Miguel Arraes (1916-2005). Campos deixa mulher, Renata Campos, e cinco filhos, o mais novo nascido em janeiro. "Não estava no script", disse Renata.

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