terça-feira, 22 de outubro de 2013

POLÍTICA: Radicalizar : a opção de Aécio

Do POLÍTICA & ECONOMIA NA REAL

Disse o respeitadíssimo sociólogo Manuel Castells sobre os protestos de junho passado que foi "a primeira vez que os brasileiros se manifestam fora dos canais tradicionais, como partidos e sindicatos. As pessoas cobram soberania política. É um movimento contra o monopólio do poder por parte de partidos altamente burocratizados" (O Globo, 29/6/13). De fato, aquele sentimento das passeatas permanece assentado na sociedade. Todavia, quase nada foi articulado para que certas demandas sociais fossem atendidas pelos que controlam as instituições (situação e oposição). Note-se, por exemplo, que do lado do governo a estratégia tornou-se tão somente eleitoral. Daí as razões mais profundas do discurso de Dilma sobre a espionagem norte-americana ou o lançamento do programa "Mais Médicos". Este, embora justificável na sua essência, é insustentável diante da ausência de estrutura na área de saúde. Já quando à espionagem, a reação não tem condições de produzir alterações na relação EUA/Brasil. Do lado da oposição, a resposta aos ventos de junho foi igualmente burocrática. Desliza a oposição pelas mesmas propostas de sempre, do denominado "tripé macroeconômico" às críticas relacionadas com a incompetência governamental para realizar concessões e privatizações. Pois é exatamente esta visão burocrática e sem as inovações necessárias ao país que une Dilma ao tucano Aécio.

Radicalizar : a opção de Aécio - 2
A grande dificuldade de Aécio Neves reside em encontrar elementos políticos que sejam suficientemente sedutores do ponto de vista eleitoral e que, ao mesmo tempo, sejam habilitados a diferenciá-lo da presidente-candidata. Até agora, a opção do mineiro é olhar o passado e usar o governo FHC como referência estrutural para efetuar a crítica aos governos petistas. Esta estratégia acaba por cair numa armadilha inescapável : no petismo a estratégia política de Lula-Dilma foi a de incluir milhões do ponto de vista social, coisa que não se viu sob os tucanos liderados por FHC no período pós-real - a estabilização foi o grande fator de inclusão social. O discurso em prol da privatização e da estabilidade tem cunho ideológico, mas não "pega", do ponto de vista eleitoral. Aqui não é o caso de se examinar a essência do tema (se boa ou ruim), mas apenas se perguntar o que o eleitor "ganha de fato" com a privatização. Há ainda a realidade de que a privatização, em alguns casos bem significativos, aumentou proporcionalmente mais os preços dos serviços que sua melhoria operacional, como no caso emblemático da telefonia celular. Discursar sobre eficiência, racionalidade, consistência, etc., é uma coisa, torná-la palpável ao eleitor é outra.

Radicalizar : a opção de Aécio - 3
A opção natural de Aécio Neves, se quiser se configurar como a "verdadeira oposição", é uma estratégia de confronto radical com Dilma e seu padrinho Lula. Caso contrário, sobrará com um discurso ideológico insensível às demandas efetivas do eleitor e, de resto, será "semelhante" à burocrática presidente Dilma. A opção por uma radicalização de Aécio deve encontrar barreiras enormes entre seus aliados, da "Casa das Garças", no RJ, até os marqueteiros munidos de pesquisas por todos os lados. Do lado dos ideólogos, incluso FHC, a tarefa de identificar o candidato com o povo não parece muito promissora às pretensões pessoais dos "pensadores". Talvez estes prefiram as planilhas ao pensamento "eleitoral" - não se sabe. Do lado dos marqueteiros, estes dirão que há nas pesquisas muitos fatores contra uma "radicalização". De outro lado, estes mesmos marqueteiros não mostrarão o que haveria a favor. Vale sublinhar que o problema de Lula, quando da eleição que o levou à presidência, era se mostrar um "moderado". O problema de Aécio é exatamente o oposto e a pergunta é: o que ele radicalizará frente à Dilma-Lula ? O distinto público deseja saber, pois tanto Aécio Neves quanto a dupla petista são parte do mesmo establishment. Um no poder, o outro na oposição. É o que ensina Manuel Castells. O que parece diferente (e talvez não seja) é Campos-Marina. Mas aí o problema é de conhecimento e intimidade entre eleitor e candidatos. No caso de Aécio Neves, sabe-se quem ele é, mas ainda não há reason why para nele votar.

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