quarta-feira, 14 de agosto de 2013

MUNDO: Egito declara estado de emergência após massacre no Cairo

De OGLOBO.COM.BR
COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

Governo admite 95 mortos, mas Irmandade Muçulmana fala em centenas
Jornalista britânico conta pelo menos 73 corpos em dois necrotérios improvisados na capital
Cinegrafista da SkyNews e jornalista do ‘Gulf News’ estão entre os mortos
Forças de segurança realizam operação para dispersar manifestantes em acampamento no Cairo - STR / AFP
CAIRO - O Egito declarou estado de emergência em todo o país durante um mês a partir desta quarta-feira. O anúncio, transmitido pela TV estatal, vem após uma violenta operação da polícia contra acampamentos de partidários do ex-presidente Mohamed Mursi no Cairo, que deixou um número indefinido de mortos. Enquanto a Irmandade Muçulmana denuncia centenas de vítimas, o governo admite 95 mortos e 526 feridos. Um jornalista do “Independent” contou ao menos 73 corpos em dois necrotérios improvisados na capital. Um cinegrafista da emissora SkyNews e um repórter do “Gulf News”, com sede em Dubai, estão entre os mortos. A filha de um dos líderes do movimento islamista foi assassinada junto ao marido, segundo a al-Jazeera. Em reação à violência no Cairo, manifestantes pró-Mursi marcham em várias outras cidades do país.
Nas primeiras horas da manhã, milhares de simpatizantes do ex-presidente islâmico, reunidos há seis semanas nas praças Rabaa al-Adawia e al-Nahda, no Cairo, acordaram com uma megaoperação do Exército. Helicópteros da polícia sobrevoavam as áreas, enquanto escavadeiras retiravam as tendas dos manifestantes.
Por meio de potentes alto-falantes, a polícia avisou aos acampados em al-Nahda que eles tinham a última chance de abandonar o local. Ao contrário das outras vezes, o governo, finalmente, cumpriu a ameaça. Nenhuma barricada foi capaz de deter a ação policial. Uma fumaça foi vista subindo acima dos acampamentos e testemunhas relataram que a polícia disparou gás lacrimogêneo até contra crianças.
- Eles estão destruindo nossas tendas. Não podemos respirar lá dentro e muitas pessoas estão no hospital - disse Murad Ahmed no limite do acampamento, onde guardas da Irmandade Muçulmana colocaram sacos de areia na expectativa de uma batida policial.
Alastair Beach, do jornal britânico “Independent”, postou fotos no Instagram que mostram dezenas de mortos em dois necrotérios da capital, enquanto imagens de agências internacionais exibem corpos carbonizados na praça al-Nahda. Pelo Twitter, o porta-voz da Irmandade Muçulmana Gehad al Haddad estimou 600 mortos e denunciou a brutalidade das forças de segurança.
“A polícia incendiou uma tenda sem se preocupar se havia gente dentro”, escreveu Haddad no microblog, acrescentando que vários manifestantes haviam sido detidos.
A rede SkyNews confirmou a morte de seu cinegrafista Mick Deane, que trabalhava na TV há 15 anos. Ele foi atingido por um tiro e não resistiu ao ferimento. Em nota, a TV descreveu o funcionário como um brilhante jornalista e fonte de inspiração e mentor de vários funcionários na empresa.
O “Gulf News”, um jornal estatal, com sede nos Emirados Árabes Unidos, informou em seu site que a jornalista Habiba Ahmed Abd Elaziz, de 26 anos, foi morta a tiros perto da mesquita Rabaah al-Adawiya. O jornal disse que ela estava de férias e não estava trabalhando na cobertura dos protestos.
Outra vítima do massacre teria sido a filha de Khairat al-Shater, um dos principais líderes da Irmandade Muçulmana. De acordo com as emissoras al-Jazeera e al-Arabya, Asmaa el-Beltagy, de 17 anos, foi assassinada junto ao marido, que acampava com ela em Rabaa al-Adawia. A jovem teria sido baleada nas costas e no peito, segundo relatos de seu irmão.
Em Fayoum, a 130 quilômetros do Cairo, pelo menos nove pessoas foram mortas após combates entre manifestantes e forças de segurança. De acordo com a agência Reuters, partidários de Mursi teriam atacado dois postos policiais na cidade. Em outros municípios, segundo a agência estatal, três igrejas foram queimadas por ação de simpatizantes do ex-presidente. Em Alexandria, Assiut e Minya também há relatos de confrontos. Centenas de pessoas se reuniram do lado de fora do gabinete do governador em Aswan, no sul do país.
As ruas próximas aos acampamentos no Cairo foram bloqueadas e os serviços de trem que ligam a capital egípcia ao resto do país foram suspensos em meio a temores de que manifestantes islâmicos recebessem reforço na capital. Segundo a emissora al-Jazeera, o Banco Central do Egito ordenou o fechamento de todos os bancos ao meio-dia (hora local).
Mais cedo, a agência de notícias estatal afirmara que as forças de segurança tinham começado a implementação de um plano para dispersar os manifestantes - que exigem a restituição do presidente deposto. A remoção à força pela polícia certamente aprofundará a turbulência política do Egito, e foi condenada energicamente pela comunidade internacional.
Mais de 300 pessoas já morreram na violência política desde que o Exército derrubou Mursi em 3 de julho, incluindo dezenas de seus partidários mortos pelas forças de segurança em dois incidentes anteriores.

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