quarta-feira, 14 de agosto de 2013

COMENTÁRIO: O discurso de cada um

Por MERVAL PEREIRA - OGLOBO.COM.BR
Do blog do MERVAL PEREIRA

Sem praticamente abrir a boca, a ex-senadora Marina Silva sobe sem parar nas pesquisas de opinião. Abrindo mais a boca do que o costume, e viajando sem parar, a presidente Dilma recupera alguns pontos de sua popularidade, investindo mais do que nunca em propaganda oficial.
Abrindo pouco a boca em público, mas trabalhando muito nos bastidores, o governador de Pernambuco Eduardo Campos mantém uma atitude dúbia em relação à sua candidatura a presidente em 2014, aguardando que os cenários fiquem menos nebulosos.
O senador Aécio Neves trabalha em silêncio, aprofundando suas características mineiras, fazendo acordos de bastidores que hoje parecem improváveis, mas mais adiante poderão ser viabilizados pelas trapaças da política.
Falando muito, e negociando bastante, o ex-governador José Serra tenta manter-se na disputa, avaliando que as mutações do cenário eleitoral podem levar um dia, quem sabe, a que a maioria do eleitorado se decida por escolher “quem sabe fazer acontecer. Nesse momento, ele se considera o homem certo, e pretende estar no lugar certo.
Precisa decidir primeiro se esse lugar é o PSDB ou se pode ser outra sigla que o acolha e ao seu projeto de disputar pela terceira vez a presidência da República. Por enquanto, o eleitorado que não quer que Dilma se reeleja continua majoritário, e procura um nome novo para substituí-la.
O fato de Marina continuar subindo como conseqüência da onda dos protestos mostra que há uma parcela silenciosa do eleitorado que vê nela a alternativa de uma maneira diferente de fazer política. Mesmo que as grandes manifestações espontâneas tenham refluído, o sentimento de insatisfação continua latente.
Depois da ressaca de junho, as ruas foram ocupadas por grupos políticos organizados, manipulados por partidos tomados de susto com a espontaneidade das multidões, que mostraram sua indignação sem lideranças e rejeitando bandeiras partidárias. As reivindicações de saúde e educação “padrão FIFA”, numa fina ironia, ou de combate à corrupção, continuam valendo, e são elas que levarão à escolha do futuro presidente.
Não adianta grupos ligados ao PT como o Fora do Eixo e seus derivados, e o Movimento pelo Passe Livre tentarem dominar as ruas partidarizando os protestos, por que não dominarão as mentes da classe média, que saiu das ruas devido à violência dos “Black blocs” e outros grupos de ativistas violentos, mas continua querendo mudanças.
Marina Silva pode ter dificuldades para ser o escoadouro dessa insatisfação se não colocar de pé sua Rede de Sustentabilidade. Qualquer partido político gostaria de tê-la como candidata, mas aí terá que fazer acordos com os tais políticos tradicionais, o que retirará, pelo menos em parte, sua legitimidade.
O PSDB espera se transformar em abrigo natural desse eleitorado descontente e sem partido, por sua estrutura partidária mais forte e pelos acordos que estão sendo costurados por baixo do pano. Aécio Neves faz política à moda antiga para ter condições logísticas de levar sua mensagem de renovação na política mais longe.
Seu mote de choque de gestão – que é também o do ex-governador Eduardo Campos – tornou-se subitamente uma resposta adequada aos anseios das ruas. Caberá a ele provar durante a campanha, com as experiências em Minas e outros estados governados pelos tucanos, que a boa gestão é condição prévia para serviços de boa qualidade.
Subitamente a multidão nas ruas passou a exigir qualificação dos serviços públicos oferecidos pelos governos, e a boa gestão pública passou a ser um ativo valorizado pelos eleitores. Resta saber se o PSDB conseguirá representar esse papel, que é também o que pretende desempenhar na campanha presidencial o governador Eduardo Campos, se é que será mesmo candidato.
As denúncias de corrupção nas obras do metrô de São Paulo sem dúvida dificultarão essa tarefa. A presidente Dilma terá que descontar muitos prejuízos para se colocar novamente como boa gestora, depois de quatro anos sem crescimento econômico e derrapadas de diversos calibres na gestão da coisa pública, sendo o trem-bala a mais exemplar, embora menos prejudicial pois cada atraso da concorrência evita gastos desnecessários.
O problema de Marina será quando ela tiver que abrir a boca para dar suas receitas de boa gestão pública. Pode ser que aí comece a perder eleitores.

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