segunda-feira, 4 de março de 2013

ECONOMIA: Incerteza política na Itália repete cenário da Grécia


Da FOLHA.COM
MARIA CRISTINA FRIAS
ENVIADA ESPECIAL A MILÃO

A incerteza causada pelas eleições na Itália, com o crescimento de um movimento radical --cujo desempenho superou as expectativas-- e a possibilidade de um novo pleito, repete uma história já vista em 2012 na Grécia.
Para alguns analistas, é mais um aviso na zona do euro de que, sem crescimento, outros "Grillos" surgirão - uma referência a Beppe Grillo, humorista que concorreu à presidência da Itália.
Às eleições gregas, seguiu-se um aprofundamento da crise financeira.
"Na Itália, o problema não seria das finanças", disse à Folha Marco Fortis, vice-presidente da Fondazione Edison. "A questão é a crise política e a recessão. O país fez a lição de casa e arrumou suas contas", afirma.
Apesar da dívida de quase € 2 trilhões e de a relação dívida-PIB ter chegado a 127%, a Itália tem uma situação muito melhor do que a do resto da periferia do euro.
O país fez o maior superavit entre as principais economias em 2012.
A Comissão Europeia considerou a Itália como de baixo risco de estresse fiscal. O superavit primário é de 2,8% do PIB e o deficit em conta corrente é de apenas 0,5% do PIB.
"Embora alta, a dívida é financiada em cerca de 35% pelos próprios italianos, o que reduz seu risco", disse Fortis.
Em relação ao financiamento público, o esforço do governo deverá ser menor neste ano.
"A Itália já financiou 25% de suas necessidades para este ano. Está em boa posição", disse o economista de um grande banco italiano. "A venda de títulos vai reduzir conforme cair o risco político."
Se o pós-pleito na Grécia acelerou a fuga de capital da periferia do euro e o aumento do custo de funding para os bancos, entre outros problemas, hoje o programa de compra de bonds do BCE (Banco Central Europeu) reduz esses riscos e limita a possibilidade de contágio para a Espanha.
Editoria de Arte/Editoria da Arte


"MADE IN ITALY"
O governo Monti restabeleceu a confiança no país, a quarta economia da Europa, mas não conseguiu promover a retomada do crescimento.
Em termos reais, o PIB per capita em 2013 será inferior ao de 1999, o ano da criação da moeda europeia.
O país não passou por uma bolha no mercado imobiliário e nenhum dos bancos teve os problemas de congêneres americanos no auge da crise. Recentemente o banco Monte dei Paschi di Siena teve problemas com derivativos.
Mas a Itália não consegue ganhar competitividade desde que perdeu uma grande muleta ao entrar para a UE.
"No passado era mais fácil", disse Ferrucio Ferragamo, presidente da Salvatore Ferragamo à Folha.
"Quando o governo via que não estávamos competitivos, desvalorizava a lira. Agora temos de enfrentar a questão e nos questionar por que tantas empresas levaram a sua produção para o exterior, não a nossa, quando o mundo valoriza o 'made in Italy'."
Desde a adoção do euro, o custo do trabalho subiu mais rápido do que em outros países e a produtividade caiu. O desemprego é menor do que na Espanha, mas quase alcança 12% e, entre os jovens, já passou de 36%.
O premiê Mario Monti promoveu reformas, mas ainda tímidas para as necessidades de crescimento do país, segundo empresários.
"As contratações ficaram mais engessadas", disse Paolo Zegna, vice-presidente da Confindustria (Confederação da Indústria Italiana).
Manteve, por exemplo, os contratos chamados de "indeterminados", que dificultam demissões. "Na crise, é possível demitir, mas, muitas vezes, a empresa tem de demitir antes de ficar com graves dificuldades. Falta reduzir impostos ligados ao trabalho. Se um empregado custa dez, cinco vão de taxas."
Monti segue no governo até que se defina um sucessor. "O que preocupa é não ter um governo concreto e forte para promover uma retomada da economia e para se colocar face a Bruxelas", disse Fortis. "Medidas de austeridade foram necessárias, mas sufocaram o consumo das famílias."
Economistas em geral esperam turbulências para os próximos meses, dada a dificuldade criada com o impasse que emergiu das urnas e dos partidos em formarem uma aliança.
Para analistas do Credit Suisse, "uma grande coalizão não teria longa duração. Uma situação similar em 2006 acabou em novas eleições menos de dois anos depois".

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