quarta-feira, 6 de março de 2013

ARTIGO: Pobres ricos

Por GILLES LAPOUGE - O Estado de S.Paulo

Os super-ricos são cada vez mais numerosos e cada vez mais ricos. É o que mostra a revista Forbes. Em 2012, o ano da crise, houve um efeito inesperado: foram registrados 200 bilionários a mais do que no ano anterior. E no entanto, os ricos estão tão angustiados quanto qualquer um. Há alguns dias, está aberta a caça aos ricos.
Pretende-se impedir os banqueiros, os grandes industriais de recolher, como se fossem folhas mortas de outono, bônus, planos de aposentadoria nababescos, opções de ações e verbas rescisórias mirabolantes.
O mais triste é que a guerra contra os ricos foi declarada pelos próprios ricos. "Estes ricos estão doidos!". O primeiro tiro contra os bancos foi disparado pela Suíça, paraíso dos bilionários, que serve de refúgio a nababos e aos escroques do mundo inteiro, país repleto de vacas, de ouro, de lagos, de bancos e de montanhas. E foi a própria população suíça que decidiu proibir, por meio de um referendo, que os ricos continuem se empanturrando de euros e de dólares.
Por coincidência, no dia seguinte à votação dos suíços, a UE apresentou projeto visando a cortar as bonificações nos países europeus. A ideia é estabelecer para os bônus um teto equivalente a 100% do salário base hoje (os bônus do HSBC são nove vezes o salário).
Será uma boa ideia? Seguramente não para a Grã-Bretanha ou para uma pequena parcela de Londres, a chamada City, o centro financeiro britânico, que administra parte das finanças mundiais.
Por coincidência, o ataque lançado em Bruxelas contra os ricos ocorreu quando os bancos britânicos estavam prestes a publicar os seus resultados.
Em 2012, o HSBC, o maior banco europeu, que registrou lucros de 16 bilhões , publicou uma lista dos seus funcionários merecedores de bônus. Duas centenas destes funcionários receberam cada um, além dos seus gordos salários, pelo menos 1,2 milhão. O funcionário mais mimado abocanhou 8 milhões.
Três outros bancos também divulgaram as suas contas: Barclays, Royal Bank of Scotland e Lloyds Banking Group. Sua situação é diferente da do HSBC. Estes três mastodontes das finanças tiveram um ano terrível. Em 2012, eles perderam em conjunto 7,6 bilhões. Mas isto não impediu que premiassem seus funcionários tidos como exemplares com 1,2 bilhão.
O tiro de advertência de Bruxelas contra os bônus provocou uma onda de cólera na City. Boris Johnson, o pitoresco prefeito de Londres, a denunciou como "uma política econômica imbecil". O ministro do Comércio, Michael Fallon, alertou que a ideia de Bruxelas ameaçará centenas de milhares de empregos britânicos.
Naquela noite, os sonhos dos londrinos, pelo menos os da City, foram terríveis. Eles imaginaram milhares de banqueiros esfomeados tomando de assalto os últimos barcos do Apocalipse, para recuperar saúde e fortuna em plagas menos "imbecis".
Os banqueiros da City pretendem atacar as prováveis decisões de Bruxelas na Justiça. Na realidade, a imposição de limites às bonificações poderá violar a Constituição de alguns países da UE, como Áustria, Polônia e Alemanha./TRADUÇÃO DE ANNA CAPOVILLA

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