quarta-feira, 25 de maio de 2011

MUNDO: Ministra das Finanças da França, Christine Lagarde, anuncia candidatura à direção do FMI


De O GLOBO

Reuters


PARIS - A ministra das Finanças da França, Christine Lagarde, disse nesta quarta-feira que será candidata à chefia do Fundo Monetário Internacional (FMI), depois da renúncia do compatriota Dominique Strauss-Kahn neste mês.
- Eu decidi apresentar minha candidatura à direção-geral do FMI - disse Lagarde a jornalistas, acrescentando que foi encorajada pelo apoio que recebeu de uma série de países.
O economista americano John Lipsky assumiu interinamente a direção do FMI depois que o então diretor-gerente Strauss-Kahn renunciou ao cargo. O ex-diretor-gerente do FMI cumpre prisão domiciliar em Nova York enquanto aguarda ser julgado pela acusação de violência sexual contra uma camareira. Chegou a ficar preso em Rikers Island, mas foi solto na sexta-feira passada após pagar US$ 1 milhão de fiança e dar US$ 5 milhões como garantia de que não fugirá.
Várias nações europeias, incluindo a Grã-Bretanha, expressaram apoio a Lagarde como candidata, mas ela pode enfrentar oposição de Brasil, Rússia, China e Áfria do Sul, que gostariam de ver um emergente no principal cargo do FMI. Logo após a renúncia de Strauss-Kahn, Christine disse que ainda era prematuro pensar em uma candidatura.
Os diretores do chamado Bric (grupo de emergentes formado por Brasil, Rússia, Índia e China) e da África do Sul no Fundo Monetário Internacional (FMI) divulgaram uma carta conjunta criticando a insistência da Europa em ter um representante do continente no comando da instituição. Por convenção, a direção-geral do FMI tem sido ocupada por um europeu para que a chefia do Banco Mundial seja ocupada por um americano.
O ministro da Fazenda brasileiro, Guido Mantega, defende uma indicação provisória ao cargo, pois considera que o período de escolha, até o fim de junho, é muito curto para a definição de novos critérios na sucessão de Dominique Strauss-Khan. O Brasil continua se abstendo de indicar nomes para o principal posto no Fundo.
Pela manhã da última terça-feira, a França afirmara que a China apoiava o nome da ministra de Economia francesa, Christine Lagarde, para substituir Dominique Strauss-Kahn.
A carta dos Bric, porém, começa a ser vista como um empecilho à candidatura de Lagarde. No texto, eles pedem o fim da "convenção informal segundo a qual o comando do FMI tem de ser necessariamente da Europa", que prejudicaria a legitimidade da instituição.
Segundo Paulo Nogueira Batista, diretor-executivo do FMI para nove países (Brasil e mais oito), não basta os europeus se unirem para eleger o sucessor de Strauss-Kahn. Ele acredita que nada está definido e que o papel dos EUA será determinante no jogo político deflagrado com a abertura da sucessão:
- Os americanos atá agora não falaram nada. Em 2007 foi assim também, demoraram a se manifestar e acabaram aderindo ao candidato preferido dos europeus, o Strauss-Kahn.
Além de Christine, o presidente do Banco Central do México, Agustín Carstens, também foi lançado candidato à direção do FMI e é muito bem visto nos EUA.
Paulo Nogueira classifica como obsoleto e indefensável o acordo pelo qual o FMI fica com um europeu e o Banco Mundial, com um americano.
- Essa convenção se tornou um problema político para os países desenvolvidos, porque não tem mais sentido. É ilusão americanos e europeus pensarem que vai continuar assim. E, se continuar, eles vão pagar um preço por isso. Isso aqui é para ser um Fundo Monetário Internacional ou um Fundo Monetário do Atlântico Norte, como disseram dois economistas? - critica.
A expressão surgiu em um estudo de Arvind Subramanian e Nicolas Véron publicado no site do Instituto Peterson para Economia Internacional.
O argumento dos europeus de que, com a atual crise na Europa, seria importante que o diretor-gerente do FMI viesse da região não tem, segundo ele, qualquer fundamento: - Ora, desde quando é recomendável que o banco seja controlado pelos devedores? O processo já começa viciado - diz Paulo Nogueira.
A Grécia, que recebeu um pacote de 110 bilhões de euros do Fundo e da União Europeia (UE), por exemplo, alertou ontem que, se não receber a quinta parcela, de 12 bilhões de euros, prevista para junho, vai à bancarrota. Só que a oposição já avisou que não vai aprovar as novas medidas de austeridade, condição para o país receber os recursos.
Segundo Paulo Nogueira, o fato de o FMI ter crescido em importância com a crise financeira global acirrou a disputa pela sucessão. Ele ressaltou ainda que o Brasil defende um processo de escolha aberto, com base no mérito e não na nacionalidade:
- Se, entre todos os candidatos, o melhor for de um país desenvolvido, um europeu, nós poderemos apoiá-lo. O problema é que esse processo é visto como um jogo de cartas marcadas, então muitos candidatos fortes de fora da Europa não se apresentam. O processo já começa viciado pela falta de confiança. E tudo isso repousa na distribuição desigual dos votos. Seria um tremendo retrocesso se os países desenvolvidos quiserem resolver essa eleição em circuito fechado, no âmbito do G-7 (grupo das sete nações mais ricas).
Como candidata, Christine Lagarde carrega uma polêmica. Ela corre o risco de ser processada por abuso de autoridade, mas disse nesta quarta-feira que sua consciência está tranquila sobre uma possível investigação, pois ela teria agido de acordo com a lei.
- Eu tenho toda confiança nesse procedimento porque minha consciência está perfeitamente limpa - disse Lagarde, questionada sobre o caso depois de anunciar sua candidatura para a chefia do Fundo Monetário Internacional (FMI).
- Eu agi no interesse do Estado e em respeito à lei - acrescentou.
Juízes da França devem decidir em 10 de junho se iniciarão uma investigação formal sobre o papel de Lagarde para assegurar um pagamento de 285 milhões de euros ao empresário Bernard Tapie, um amigo e aliado político do presidente Nicolas Sarkozy, para encerrar uma disputa sobre um banco estatal.

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