domingo, 22 de maio de 2011

MEIO AMBIENTE: Barulho de explosão precedeu vazamento de gás em Alagoas, dizem moradores; crianças passam mal

Do UOL Notícias

Em Maceió, Aliny Gama e Carlos Madeiro

Uma grande explosão resultou no vazamento de gás tóxico da empresa petroquímica Braskem, que atingiu centenas de pessoas na região sul de Maceió na noite deste sábado (21). A informação é de moradores dos bairros do Trapiche da Barra e do Pontal da Barra ouvidos pelo UOL Notícias, que ficaram intoxicados com a nuvem de cloro que vazou da sede da empresa. A Braskem negou a existência de uma explosão e disse que ocorreu um “estampido” causado pelo rompimento da tubulação.
Passado o susto e a noite mal dormida, muitos moradores --em especial crianças-- ainda se queixavam de problemas de saúde neste domingo (22). Vômito, falta de ar e tonturas são sintomas comuns entre a população. Com os problemas persistentes, alguns moradores voltaram a procurar o serviço médico na manhã deste domingo.
Os moradores relataram que a chegada da nuvem de fumaça gerou pânico e correria. “Foi uma explosão grande, tremeu tudo. Estão dizendo que não houve explosão, é mentira. Todos aqui ouviram. E a sirene só tocou 20 minutos após a explosão”, afirmou Genivaldo Souza, 64, que mora no Trapiche desde a inauguração da então Salgema, nos anos 70. “Já houve vazamentos, pânico, mas nunca foi como esse”, afirmou.
Morador do sítio Recreio, Valmir Pereira, 39, estava próximo à Braskem alimentando o seu cavalo quando ouviu um barulho forte. “Saí correndo na hora e, ao chegar aqui em casa, percebi a nuvem de fumaça”, disse. “Meu cavalo Paixão está sem comer desde ontem, passando mal. Se ele morrer, vão ter que me pagar, pois ele é meu companheiro de trabalho”, disse.
Muitos também reclamam que o atendimento foi demorado, eles tiveram que socorrer a si mesmos, com muitas crianças vomitando e pelo menos dois adultos desacordados. “A Braskem ainda não veio nos procurar, tá todo mundo revoltado. Fomos nós mesmos que corremos, porque se fôssemos esperar bombeiros, Samu, morreríamos”, afirmou Diogo do Santos, 21, que mora no local desde que nasceu e não se lembra de vazamento semelhante na maior empresa do Estado.
Crianças voltam a passar mal
Mãe de uma criança de sete anos com síndrome de Down, Joelma Silva Oliveira, 28, teve que levar a criança de volta ao HGE (Hospital Geral do Estado) neste domingo. “Ela estava muito cansada, se apresentava depressiva com o que aconteceu. Passaram remédio ontem, mas ela não melhorou”, afirmou a mãe, no momento em que voltava à comunidade após atendimento.
Já Flaviana de Lima Silva, 11, também apresentava problemas de saúde neste domingo, mas não precisou ser internada. “Ela vomitou muito ontem, fomos para o HGE, onde ela recebeu remédio, mas hoje ainda está sentido cansada”, disse Jaqueline da Silva, 26, mãe da criança.
Segundo a Secretaria de Estado da Saúde, 152 atendimentos foram registrados, 130 no HGE e 22 na clínica infantil Dayse Brêda. Apenas um paciente estava em estado grave, mas segundo o HGE, ele já apresentava problemas de saúde anteriormente ao incidente e não haveria relação direta com o vazamento.
Moradores querem transferência
Os moradores do sítio Recreio, área mais afetada pelo vazamento, prometem se organizar e realizar protestos cobrando a remoção da comunidade da área, considerada por eles de risco, já que esse é o segundo grande vazamento ocorrido em 20 anos.
Andréia Silva, 30, assegura que nunca foram procurados pelo poder público para uma possível transferência de local. “Foi um susto muito grande, um desespero. A gente mora aqui porque não tem dinheiro para viver em outro lugar, mas todo mundo sempre teve medo. E agora, com essa explosão, é que a gente não dorme mais direito”, disse.
Maior vazamento da história
Segundo o gerente de Relações Institucionais da Braskem, Milton Pradines, não há ainda explicação para as causas do rompimento da tubulação e vazamento de gás de cloro, mas esse incidente é o que atingiu o maior número de pessoas desde a fundação da empresa, há 35 anos. “Não podemos precisar o volume de gás que escapou da tubulação. Estamos avaliando esses números, mas nunca houve um número tão grande de pessoas afetadas. Tudo está sendo apurado”, afirmou.
O gerente confirmou a existência de um barulho intenso, mas negou a existência de uma explosão. “Foi um estampido. O que a população ouviu foi o barulho da tubulação quando rompeu. Não houve fogo, por isso não foi uma explosão”, disse.
Pradines informou que a empresa já procurou os líderes comunitários das regiões atingidas para prestar assistência, mas confirmou que as vítimas ainda não foram visitadas. “Amanhã [segunda-feira, 24] o departamento de recursos humanos estará com as listas das pessoas que deram entrada no HGE. A partir daí, faremos a visita a todos os afetados. A princípio, não há necessidade de essas pessoas se mudarem do local, não há riscos. Nosso sistema é automatizado”, afirmou.
IMA também investiga

As causas do vazamento de gás tóxico também estão sendo investigadas pelo IMA (Instituto do Meio Ambiente de Alagoas). O órgão aguarda um relatório da Braskem detalhando o acidente, para anexar ao processo administrativo que foi aberto contra a petroquímica.
A Braskem será multada pelo vazamento, segundo informou o diretor técnico do IMA, Ricardo Cesar Barros."Vamos avaliar o grau de danos ocorridos à população e ao meio-ambiente para estipularmos a multa. O valor vai ser de acordo com os danos causados, mas garanto que vai ser pesado." Nesta segunda-feira, o IMA vai coletar amostras da água da lagoa Mundaú, que fica às margens da empresa, para saber se a área também foi atingida.
Ele explicou que os ventos fracos contribuíram para que a nuvem tóxica dissipada no ar ficasse por muito tempo nas redondezas da Braskem afetando parte da comunidade vizinha à empresa. "Muita gente estava se divertindo na praça Pingo d'Água, que é um dos programas de sábado à noite, daquela comunidade, quando o gás de cloro foi tomando conta do ar. O gás se dissipou no ar com rapidez e os ventos fracos demoraram a deslocá-lo para um local não habitado", afirmou.
Em nota divulgada no início da tarde deste domingo (22), a Braskem informou que um funcionário da empresa sentiu-se mal durante a madrugada, por conta do vazamento de cloro, e está internado em um hospital de Maceió. O nome e o estado de saúde dele não foram revelados. "A Braskem está adotando todas as medidas necessárias para a plena recuperação do integrante", diz a nota.

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