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Natália Portinari e Sérgio Roxo
Deputado Felipe Francischini foi indicado pelo PSL para presidente a Comissão de Constituição e Justiça
O deputado Felipe Francischini (PSL-PR) vai comandar a CCJ da Câmara Foto: Divulgação
BRASÍLIA e SÃO PAULO — Indicado pelo PSL para presidir a mais importante comissão daCâmara , a de Constituição e Justiça ( CCJ ), o deputado Felipe Francischini (PSL-PR) é um novato na Casa. Tem 27 anos e é filho do deputado estadual paranaense Fernando Francischini, delegado aposentado da Polícia Federal.
Felipe Francischini formou-se em direito há cinco anos na UniCuritiba. Passou na prova da OAB, mas nunca teve prática jurídica. Seu interesse por política começou em 2009, quando entrou na faculdade, contou ao GLOBO. Suas referências são autores liberais do período iluminista, como John Locke e Voltaire. Defende o Estado laico, e critica a atitude do ministro da Educação, que chegou a pedir que escolas filmassem alunos cantando o hino nacional e lessem uma carta terminando com o slogan de campanha de Bolsonaro: "Brasil acima de tudo, Deus acima de todos."
— Às vezes ele se empolgou demais, mas foi um erro. Muitos países tem isso do patriotismo, mas a carta finalizando com a frase de campanha foi um erro. Um apego que tenho muito grande é do iluminismo — diz Felipe Francischini.
Dois meses depois de ser inscrito na OAB, em 2014, Felipe foi eleito deputado estadual. Em fevereiro de 2015, era um dos espectadores quando professores da rede pública foram à Assembleia Estadual do Paraná protestar contra medidas de austeridade propostas pelo governador Beto Richa (PSDB).
— São um bando de burros também — disse sobre os manifestantes, fala registrada em um vídeo publicado no dia. — Aposta quanto que são petistas filhas da puta? São comprados esse bando de imbecis, por isso está tudo essa merda.
Na época, seu pai era deputado federal empossado e ocupava o cargo de secretário de Segurança Pública do estado do Paraná. Em abril daquele ano, pouco tempo depois de seu filho chamar os professores de "imbecis", Francischini reprimiu uma manifestação da categoria em uma operação que deixou 200 pessoas feridas com balas de borracha e bombas de efeito moral.
Desgastado, o ex-secretário Francischini deixou o cargo poucos dias depois. Em 2019, pai e filho decidiram trocar de lugar. O pupilo foi de Curitiba a Brasília, eleito deputado federal, e Fernando se tornou o deputado estadual mais votado da história do Paraná. Os dois mantêm uma relação próxima e sempre trocam elogios nas redes sociais.
Conhecido como "Rambo curitibano" após o episódio de repressão aos professores, Francischini pai sempre emitiu opiniões controversas, como comemorar massacres em presídios no início de 2017 e endossar ações violentas da polícia de forma geral. Desde sua estreia na vida pública, o filho compartilha frequentemente os posts do pai, especialmente os que ofendem petistas e tratam de segurança pública.
Como deputado estadual, Felipe Francischini diz ter aprovado 50 projetos, principalmente nas áreas de direito do consumidor e segurança pública. Endureceu a lei contra a venda de animais exóticos no estado, por exemplo. Em outubro do ano passado, já filiado ao PSL, protestou contra a demarcação de terras indígenas no Oeste do Paraná. "Não vamos deixar um absurdo como este prejudicar os agricultores de nosso estado", publicou.
— Fiz uma legislação estadual sobre segurança de barragens, prevendo um sistema de aviso de risco de rompimento após o acidente da Samarco. Tem uma outra lei que integra câmeras de pedágio com o sistema de segurança pública do Paraná e, quando o carro passa, diz se o veículo foi furtado ou roubado. Acabei fazendo lei em diversas áreas, especialmente nas áreas de direito ao consumidor e meio ambiente, competências estaduais — afirmou.
O ex-secretário Fernando Francischini é antigo conhecido de Bolsonaro pela atuação na bancada da bala. Foi ele que acertou com Luciano Bivar, presidente do PSL, os termos para filiar deputados como Delegado Waldir (GO), Marcelo Álvaro (MG) e o próprio Jair Bolsonaro no partido. No discurso de filiação, em março de 2018, Bolsonaro disse que, ao lado de Francischini, a bancada da bala poderia se tornar "a bancada da metralhadora" no ano seguinte com a ajuda do PSL.
Logo depois, em abril de 2018, os Francischini saíram do Solidariedade e se filiaram à sigla de Bolsonaro também. Agora, para compensar a ajuda do Francischini pai, Luciano Bivar indicou o filho, alçado a deputado federal, à presidência da comissão mais importante da Câmara dos Deputados. Eleito com base em um discurso de direita, alinhado com o presidente, Felipe nega que vá pautar apenas projetos com os quais esteja alinhado ideologicamente.
— Temos que analisar todos os projetos e ver o que é de interesse dos líderes. Quero que a gente possa discutir o máximo de matérias que sejam do interesse da nação, independente do teor ideológico. A construção que fiz para chegar até aqui foi de diálogo. Tenho minha opinião política bastante firme, mas o Parlamento é um lugar que tem opiniões de todo tipo, então não posso impor minha vontade sobre os outros.
Fã de Eduardo Cunha
Na Assembleia do Paraná, Felipe Francischini chamava a atenção dos colegas pelo perfil discreto e pela admiração que demonstrava por Eduardo Cunha. Costumava dizer que o então presidente da Câmara "manjava muito de regimento" e chegou a ter um porta-retrato em que os dois posavam juntos em seu gabinete.
Em março de 2015, Cunha escolheu a Assembleia paranaense para iniciar o projeto Câmara Itinerante, em que os parlamentares federais realizavam sessões pelo país. Na ocasião, Francischini, que estava no segundo mês do mandato, foi um dos que discursaram. Em menos de três minutos, não poupou elogios ao presidente da Câmara.
— Quero cumprimentar vossa excelência que foi um grande amigo do meu pai na Câmara dos deputados nos tempos em que ambos eram líderes de seus respectivos partidos.
Acrescentou ainda que o Brasil vivia um "momento marcante" pela sua firmeza "na condução do parlamento federal". Quando surgiram as denúncias que levaram Cunha para a cadeia, Francischini deixou o ex-presidente da Câmara de lado.
Também no início do mandato na Assembleia, Francischini, integrante da base de apoio do então governador Beto Richa (PSDB), ficou marcado como integrante do grupo apelidado por adversários de "bancada do camburão". Em fevereiro de 2015, deputados paranaenses usaram um ônibus da polícia para entrar no prédio da Assembleia que estava ocupado por servidores e votar um projeto que mexia nas regras da previdência do funcionalismo estadual.
— É um piá (garoto). Teve aquele questão do camburão e ele ficou marcado por isso. Mas foi um cara que cresceu muito durante o mandato . Acho que ele muito melhor do que o pai dele. Está crescendo - afirma o deputado estadual Anibelli Neto (MDB), que se diz amigo do futuro presidente do CCJ da Câmara.
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