quarta-feira, 15 de outubro de 2014

COMENTÁRIO: O petróleo em vertigem

Por CELSO MING - ESTADAO.COM.BR

Apenas nos primeiros 10 dias úteis de outubro, os preços internacionais do petróleo desabaram apesar dos graves focos de distúrbio geopolítico
Apenas nos primeiros 10 dias úteis de outubro, os preços internacionais do petróleo desabaram. Como está no gráfico abaixo, o tipo Brent, negociado em Londres, caiu 10%; e o West Texas Intermediate (WTI), negociado em Nova York, 13%. Nesta terça-feira, os preços do Brent chegaram aos mais baixos níveis em quatro anos.
Essa derrubada acontece agora, apesar dos graves focos de distúrbio geopolítico, como os que ocorrem na Ucrânia, por onde passam importantes redes de dutos, e no Oriente Médio, com os conflitos com as forças do Estado Islâmico, que envolvem grandes exportadores, como o Iraque. Se o mercado estivesse mais apertado, bastariam esses fatos para provocar efeito contrário, uma disparada de preços. Se não acontece agora, é porque a tendência é de superoferta.
Do ponto de vista do Brasil, é um fator que aponta para dois tipos de tensão. O primeiro deles, é o atraso dos preços dos combustíveis, que fica, em princípio, facilitado com a redução dos preços internacionais. O outro é a possibilidade de derrubada ainda maior das cotações e seu impacto sobre países, sistemas e empresas que produzem a custos mais altos, o que poderia inviabilizá-los.
Hoje, a principal razão de queda de preços é a fragilidade da atividade econômica mundial. Crescimento mais fraco, como o que o Fundo Monetário Internacional (FMI) projeta, implica menor necessidade de energia e, assim, de petróleo.
Nesta terça-feira, saiu o relatório de outubro da Agência Internacional de Energia (AIE) que corta a demanda de petróleo para o quarto trimestre, de 93,9 milhões de barris diários, calculados em julho, para 93,5 milhões. É o mesmo fator que vem derrubando as cotações das outras commodities, especialmente as dos alimentos (veja, no Confira, o caso da soja).
A prazos mais longos, o principal fator de baixa é o robusto aumento da produção dos Estados Unidos, graças à produtividade dos campos do Alasca e à atividade dos poços de gás e petróleo de xisto. A produção de 8,8 milhões de barris diários em setembro ainda é menos da metade da demanda, hoje pouco superior a 19,0 milhões de barris diários, mas tende a conduzir os Estados Unidos para a autossuficiência em cinco ou seis anos.
Muitos analistas imaginaram que a derrubada do petróleo para a altura dos US$ 80 começaria por inviabilizar os sistemas de maior custo de produção. O relatório da AIE publicou uma avaliação que aponta para a direção contrária. Serão pouquíssimas unidades de produção que seriam atingidas pela queda forte das cotações. No entanto, a despencada começa a incomodar os produtores, especialmente o Irã, cujo governo começa a pressionar a Arábia Saudita, principal exportador mundial, a reduzir a oferta.
Essa capacidade de flexibilizar a oferta é o que impede uma projeção mais firme dos preços. A qualquer momento, a Opep tem condições de reduzir as exportações para puxar as cotações para cima.
Preços internacionais relativamente mais deprimidos ajudariam a recompor as tarifas dos combustíveis no Brasil, atrasadas em alguma coisa entre 15% e 19%. Mas é preciso ver também o que acontecerá com o câmbio, uma vez que o petróleo é cotado em dólares.

CONFIRA:
Aí está a evolução das cotações da soja na Bolsa de Chicago.

BNDES e concorrência
O Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) é um organismo que existe para garantir a livre concorrência no mercado. Seu objetivo é impedir a formação de monopólios e cartéis que sufoquem as empresas menores. No entanto, esse ambiente de defesa da concorrência não pode ser sustentado enquanto o BNDES continuar despejando R$ 400 bilhões em empréstimos a juros subsidiados, que criam vantagens decisivas para grandes grupos econômicos.

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