terça-feira, 29 de julho de 2014

COMENTÁRIO: Os podres poderes

Por SAMUEL CELESTINO
Coluna A Tarde:
Do BAHIA NOTÍCIAS
Não há a menor dúvida de que existe uma promiscuidade disseminada no País, como se fora banal, senão natural, envolvendo empreiteiras, partidos e agentes políticos. O pior é que a existência de tal prática não só parece, mas faz parte, do exercício natural do processo político que se enraíza em todas as estruturas do Poder brasileiro. Dá-se conta, o que não é novidade, que dentre as dez maiores empreiteiras que atuam em obras públicas, nada menos do que sete respondem a processos judiciais. Ainda no final da semana, a revista Veja deu à luz a mais um escândalo, envolvendo o Partido Republicano (PR), o Ministério dos Transportes, uma empreiteira e um deputado federal baiano – que tem estado sob holofote nos últimos tempos – João Carlos Bacelar.
No caso específico, o dono da empreiteira, estarrecido, procurou o ministro César Borges, pouco antes de ele deixar o ministério, e relatou a pressão para extorsão de obras na Valec, que atua no País - e, na Bahia, na ferrovia Oeste-Leste, (Fiol, uma obra do sem fim. Por que o PR é dono da capitania do Ministério dos Transportes? Simples. O partido atua na sua estrutura, cobrando das empreiteiras 4% de propina por cada contrato firmado. Dinheiro, como se sabe, do contribuinte. É o partido que indica o ministro e não a presidente Dilma, como aconteceu recentemente com Alfredo Nascimento, ex-ministro que saiu do cargo provavelmente por realizar tramóias, e que retornou, deslocando César Borges, numa outra negociata partidária esta para o apoio eleitoral a candidata à reeleição. 
O empresário Djalma Diniz, ex-deputado e, consequentemente, macaco velho, sabedor do percentual “normal” do achaque, estava sob pressão, ao que afirma a revista, feita pelo deputado baiano, Bacelar. Como é normal propina grossa nos Transportes, Diniz se espantou ao ser encurralado não para entregar 4% ao PR (o “normal”), mas, sim, 8% referentes a dois contratos firmados, um de 719 milhões e, outro, de 514 milhões. Tais contratos foram firmados no início deste ano. Bacelar se defende dizendo que a Veja não publicou as repostas feitas por ele sobre as denúncias.
César Borges, diante da denúncia, procurou a presidente e a ela relatou o que acontecia. Recebeu como resposta que não cedesse. Pelo sim, pelo não, o PR exigiu o ministério de Dilma afirmando que o ex-governador baiano não representava o partido no ministério. E colocou no lugar o mesmo Alfredo Nascimento que tinha sido exonerado do cargo. Um caso ioiô, ou vai-e-volta. A presidente teria ficado entre o “sim” ou o “não”. Mas deu o “sim”, entregou o ministério e ganhou o apoio do Partido Republicano.
O curioso nesta história é que o deputado João Carlos Bacelar teria dito à revista, explicitando a postura do PR como donatário da capitania do Ministério dos Transpores, a seguinte pérola: “Este Djalma (Diniz) é um picareta. Nós conseguimos colocar a empresa dele na Valec, com contratos de mais de um bilhão, e ele ficou de repassar uma parte de volta (ao PR) e não está cumprindo o combinado”. Aí se observa, claramente, como se faz negócios com o governo, seja lá quem esteja no seu comando.
O sistema é torto, como do conhecimento geral, e é operado pelos partidos. Todos estão dispostos a freqüentar a fonte e lá beber a “água santa”. Até que haja, presumivelmente, uma reforma política este jogo continuará extorquindo os cofres públicos, sinônimo de contribuintes, envolvendo empreiteiras, partidos e os políticos de maneira geral. É uma doença, ou praga, que se espraia e a cada dia piora o doente, no caso, o País.
A corrupção acontece de forma escancarada, como no caso acima, com a intermediação dos agentes políticos para assegurar às empreiteiras os contratos de obras públicas, mediante um percentual fixo, que na época de eleição pode ser dobrado. Isto é forma de fazer política? No Brasil é bem assim, com direito de o achaque invadir todos os segmentos da estrutura administrativa dos “podres poderes” republicanos.

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