sexta-feira, 12 de abril de 2013

ECONOMIA: Mesmo com recuo do PIB em fevereiro, Mantega reafirma que BC pode elevar os juros

De OGLOBO.COM.BR
BRUNO ROSA (EMAIL·FACEBOOK·TWITTER)
LINO RODRIGUES (EMAIL·FACEBOOK·TWITTER)

Prévia do Banco Central mostrou que economia recuou 0,52% em fevereiro
Tombini diz que não haverá tolerância com inflação
RIO e SÃO PAULO - O Índice de Atividade Econômica do Banco Central-Brasil (IBC-Br) mostrou que a economia do país recuou 0,52% em fevereiro ante janeiro, de acordo com dados divulgados nesta sexta-feira pela autoridade monetária. O número inclui os chamados ajustes sazonais. O desempenho ficou pouco acima da previsão dos analistas ouvidos pela Bloomberg: na mediana dos economistas, o esperado era recuo de 0,7%. Apesar da retração, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, sinalizou que o BC pode elevar a taxa de juros básica da economia. Mantega disse que a inflação de alimentos não se combate com juros, mas admitiu que a elevação resolveria as expectativas de altas futuras.
— Inflação de alimentos não resolve com juros, porém expectativa resolve com juros. Mas isso não é o ministro da Fazenda que resolve. O que o ministro da Fazenda faz é tomar as medidas no seu campo de responsabilidade, que é continuar estimulando a produção agrícola, diminuindo tributos... Cada um faz a sua parte e não sei, nem quero saber o que vai acontecer com os juros — afirmou o ministro logo após participar de seminário da revista “Brasileiros”, em São Paulo.
Segundo o ministro, o problema maior é que, com a elevação pontual dos preços dos alimentos, o país corre o risco de uma contaminação de setores que não têm aumento de custo, mas querem aumentar os preços. Nesse sentido, defendeu que o governo sinalize, por meio de juros maiores, que os preços não vão continuar subindo. Salientou, porém, que esta decisão cabe ao Comitê de Política Monetária (Copom) que reúne-se na próxima semana.
O presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, por sua vez, afirmou que não haverá tolerância com a inflação e que, neste momento, a autoridade monetária monitora atentamente todos os indicadores:
— No futuro, vamos tomar decisões sobre o melhor curso para a política monetária — disse a jornalistas, em encontro com presidentes de bancos centrais da América do Sul.
Em janeiro, o IBC-Br apontara que a economia cresceu 1,29%, puxada pela recuperação do setor industrial, que avançou 2,6% no mês, segundo dados do IBGE. Mas em fevereiro, os números se inverteram. A produção industrial recuou 2,5% em fevereiro frente a janeiro, praticamente eliminando a expansão de janeiro. Foi o maior tombo desde dezembro de 2008, quando a retração fora de 12,2%. Dos 27 ramos investigados pelo IBGE, 15 mostraram retração, ou seja, mais da metade deles.
O IBGE também informou nesta quinta-feira que as vendas do varejo recuaram 0,4% em fevereiro, frente a janeiro, já com ajuste sazonal. O resultado surpreendeu os analistas, que previam uma alta de 1,2% nas vendas do comércio varejista. Em relação a fevereiro do ano passado, o movimento caiu 0,2%. No segmento de supermercados e varejo de alimentos e bebidas, as vendas recuaram 1% em relação a janeiro e 2,1% na comparação com fevereiro de 2012. Os números fracos refletem a alta dos preços, dizem os especialistas. Na última quarta-feira, foi anunciado que o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que orienta o sistema de metas de inflação do governo, acumulou em 12 meses 6,59%, estourando o teto da meta de inflação perseguido pelo governo, que é de 6,5%.
É por isso que as atenções agora se voltam para o mercado de juros. Na próxima semana, entre os dias 16 e 17 de abril, o Comitê de Política Monetária (Copom) do BC se reúne para decidir se aumenta ou não a taxa básica de juros (a Selic), hoje em 7,25% ao ano. O estouro do teto da meta ampliou a preocupação da equipe econômica com a alta dos preços e reforçou entre os técnicos a ideia de que é preciso deixar claro para o mercado que o governo não é leniente com esse fenômeno. Segundo fontes ouvidas pelo GLOBO, a sinalização poderia ser dada já na próxima reunião do Copom. Há quem diga que a autoridade monetária deverá elevar a Selic principalmente para deixar claro que tem autonomia para agir no combate à inflação.
Esse sinal seria necessário devido às seguidas declarações da presidente Dilma Rousseff sobre a importância de se preservar a atividade econômica. Ela chegou a dizer recentemente que não concorda com medidas de combate à inflação que prejudiquem o crescimento. A frase foi vista pelo mercado como uma pressão para que o Banco Central segure os juros mesmo com a inflação acima de 6% ao ano, para não prejudicar a retomada da economia.
No entanto, assessores da área econômica ponderam que a autoridade monetária teria argumentos técnicos para segurar a alta da Selic. Além de a inflação estar caindo mês a mês — o que aconteceu em março — está menos espalhada pelos preços. Enquanto em fevereiro a dispersão estava em 72,6%, em março baixou para 69%.
Parte do mercado também acredita que a Selic deve subir em 0,25 ponto percentual. Mas o economista-chefe da Confederação Nacional do Comércio (CNC) e ex-diretor do BC, Carlos Thadeu de Freitas, afirma que o mais importante é que a autoridade monetária sinalize seus próximos passos.
— Acredito que o BC tem de dar uma sinalização, mesmo que não haja aumento já na próxima reunião. O BC vai olhar para frente. A queda na indústria, a retração no comércio e o recuo da atividade econômica é passado e reflexo de um ano fraco (2012). Por outro lado, o fato de o desemprego estar baixo significa que é possível elevar os juros sem causar problemas — disse Carlos Thadeu.
Em fevereiro, a taxa de desemprego ficou em 5,6%, de acordo com dados da Pesquisa Mensal de Emprego (PME), divulgados no dia 28 de março. Foi a taxa mais baixa para um mês de fevereiro desde o início da série história, em março de 2002.
O economista acredita que o BC vai olhar a expectativa de preços para 2014. Isso é necessário, completa, pois não haverá a ajuda da queda na conta de luz e da desoneração da cesta básica, como ocorre neste ano.
— A minha aposta é que o BC vai trabalhar para reduzir a inflação, de olho em 2014. Mas esse aumento não precisa ser já na próxima reunião. Basta ele sinalizar. Isso é importante para evitar volatilidade, pois as taxas de juros estão subindo no mercado futuro — destaca Carlos Thadeu.
O diretor de pesquisa econômica do Goldman Sachs para América Latina, Alberto Ramos, também afirmou, em nota, que o desempenho da economia em fevereiro não deve impedir que o BC eleve os juros.
“Nós somos da opinião de que o ambiente de inflação alta e altamente disseminada poderia potencialmente afetar a recuperação. Assim, a melhor contribuição que o Banco Central pode dar para fortalecer a confiança nos negócios e apoiar a recuperação seria ancorar as expectativas inflacionárias e moderar a inflação”, acrescentou Ramos.
Transporte e serviços podem pressionar ainda mais a inflação, diz FGV
Depois das fortes altas de preços de alimentos no primeiro trimestre, o consumidor deverá ver um alívio este mês. O fim do período das chuvas vai coincidir com os efeitos da desoneração da cesta básica, anunciada pela presidente Dilma Rousseff em 8 de março. Itens como açúcar, óleo de soja e carnes terão queda mais acentuada de preços. Mas começam a aparecer novos focos de pressão, caso do leite longa vida. E analistas afirmam que serviços e transportes poderão puxar a inflação.
No atacado, os preços de alguns alimentos começam a ceder. A caixa com 18 quilos de tomate tipo Débora, que chegou a custar R$ 150 no início de abril, já era comercializado a R$ 80 ontem na Ceasa do Rio. O feijão preto deve se beneficiar da chegada do produto importado da China e passar de cerca de R$ 180 (a saca de 60 quilos) para R$ 120 em maio, no atacado, na previsão do presidente da Bolsa de Gêneros Alimentícios do Rio de Janeiro, José de Souza e Silva.
Na Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo (Ceagesp), que é o maior centro de abastecimento de hortifrutigranjeiros do país, a expectativa é de uma “normalização” nos preços. A oferta de tomate, por exemplo, melhorou, e fez o preço cair de R$ 7,80 para R$ 4,20 o quilo. Josmar Macedo, assistente-executivo do Ceagesp, diz que a expectativa é que esse preço caia para R$ 2,50.
No varejo, dados da Fundação Getulio Vargas (FGV) apontam queda de 3,29% do quilo do açúcar refinado nos 30 dias encerrados em 10 de abril. Nos 30 dias encerrados em 1º de abril, a queda era menor, de 2,61%. O frango inteiro passa de uma alta de 1,19% em 1º de abril para uma queda de 0,57% agora. Mas o leite sai de uma alta de 1,36% para 2,82%. Segundo André Braz, da FGV, a alta do leite está relacionada ao clima. Com menos chuvas, as pastagens começam a secar. Para Elson Teles, do Itaú Unibanco, o aumento do leite pode ter relação com a seca na Nova Zelândia, que é grande produtor.
Se a alta da maioria dos alimentos começa a perder fôlego, outros itens poderão pressionar a inflação daqui para frente, como os serviços e as tarifas de transportes. O emprego e a renda em alta, apesar do "PIB anêmico", segundo Paulo Picchetti, da FGV, são algo sem precedente que dificulta projeções, mas vão continuar pressionando a demanda. Juan Jensen, da Consultoria Tendências, lembra que, em São Paulo, o último reajuste das tarifas de ônibus foi em janeiro de 2011, o que significa que em junho, quando serão reajustadas, as tarifas estarão há 30 meses congeladas.
O IBC-Br incorpora estimativas para a produção nos três setores básicos da economia: serviços, indústria e agropecuária. Por causa da defasagem de tempo na divulgação dos dados oficiais pela instituição, o Banco Central leva em conta o IBC-Br para traçar os rumos da política de juros do país.
Segundo a última pesquisa Focus, realizada semanalmente pelo BC com analistas, o mercado projeta que a Selic vai encerrar 2013 a 8,50% e o IPCA, a 5,70%. Já para o Produto Interno Bruto a expectativa é de expansão de 3% este ano.

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