sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

COMENTÁRIO: Aquecido demais

Por Celso Ming - O Estado de S.Paulo

O governo continua comemorando o pleno emprego - no que tem razão. Mas não se mostra nem um pouco empenhado em resolver os problemas criados pelo aquecimento excessivo do mercado de trabalho - e, nisso, mostra mais uma de suas omissões.
O IBGE apontou ontem desemprego no Brasil de apenas 4,6% em dezembro - o mais baixo desde 2002, quando foi adotada a atual metodologia de avaliação do mercado de trabalho.
Dezembro é mês atípico. Completa o período em que quase todo o comércio contrata mão de obra temporária para dar conta das vendas de final de ano. Mesmo levando isso em conta, a situação é de pleno emprego. Corresponde a uma desocupação de 5,3% da força de trabalho num mês "normal".
Não há quem não queira o pleno emprego. Nessas condições, seria preciso que o governo compensasse o aumento dos custos da mão de obra com providências que reduzissem o impacto inflacionário. Mas o que tem feito é quase nada.
Há meses, o Banco Central denuncia a existência de um mercado desequilibrado de mão de obra. Portanto, o governo reconhece o problema, mas ignora o quanto estrangula a capacidade de crescer.
Alguns analistas insistem em que há, no Brasil, espaço enorme para o avanço do PIB da indústria apenas porque há capacidade ociosa que pode ser ocupada sem necessidade de novos investimentos. Esquecem-se de que não basta dispor de instalação industrial. Para elevar a produção, é preciso muito mais: fornecimento adequado de insumos e de matérias-primas; infraestrutura barata e funcional; custos compatíveis; e disponibilidade de mão de obra. Infelizmente, não é o que temos.
Sobra hoje no mercado mão de obra de baixa qualificação, cuja contratação poderia enfeitar estatísticas de emprego, mas derrubaria índices de produtividade.
À parte a falta de mão de obra qualificada, o Brasil enfrenta outro estrangulamento estrutural. O crescimento do emprego é maior do que o da força de trabalho - veja o Confira. De acordo com o IBGE, em apenas um ano (de dezembro a dezembro) a força de trabalho cresceu 1,7% e a população em idade para trabalhar, 1,2%. Enquanto isso, o emprego cresceu 3,1%.
Para que o aumento do custo de mão de obra não provoque inflação, o governo precisaria adotar medidas compensatórias que garantissem redução das despesas públicas. Mas o entendimento é o oposto. Como o ministro Guido Mantega disse quarta-feira, o governo se empenha em tomar medidas anticíclicas. No entanto, seu resultado é aumento do consumo sem crescimento correspondente.
Não há política do governo que busque aumentar a produtividade do trabalho. Também não há políticas que se destinem a baixar o impacto da elevação dos custos produzidos pelo aquecimento excessivo do mercado de trabalho.
Nesse campo, não há remédio de curto prazo. O aumento da produtividade do trabalho exige mais educação, mais instrução, mais treinamento e, eventualmente, desburocratização do processo de imigração de mão de obra qualificada.
Com esse mercado tão estreitado e sem novos esforços de incremento de produtividade, fica comprometida a meta do governo de crescer sustentadamente mais de 3,5% ao ano.

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