De OGLOBO.COM.BR
Foram detidos dois integrantes da banda que tocava na boate e um dos sócios da casa
Empresário Elissandro Spohr, o Kiko, foi encontrado em um hospital de Cruz Alta
Técnicos do Instituto-Geral de Perícias (IGP) chegaram ao local por volta das 7h30m - Félix Zucco / Agência RBS
SANTA MARIA — A polícia prendeu três pessoas investigadas pelo incêndio na boate Kiss, em Santa Maria, no Rio Grande do Sul. Foram presos dois integrantes da banda Gurizada Fandangueira e um dos sócios da casa norturna, Elissandro Spohr, que estava internado.
Os integrantes da banda Gurizada Fandangueira Marcelo de Jesus dos Santos e Luciano Bonila foram presos na cidade de Mata. Marcelo é vocalista e Luciano cuida da montagem do palco.
Mauro Hofman também teve a prisão decreta e deve se entregar à polícia ainda nesta segunda-feira.
A polícia afirmou que os detidos não estavam em casa no momento da prisão e foi preciso fazer muita diligência para encontrá-los.
D acordo com informações do jornal "Zero Hora", o empresário Elissandro Spohr, conhecido como Kiko, foi inicialmente atendido em Santa Maria. No entanto, segundo o advogado Jader Marques, Kiko temia permanecer na cidade e buscou atendimento em Cruz Alta, onde foi encontrado. As outras prisões ocorreram em Mata e em São Pedro do Sul. A polícia também também cumpriu mandados de busca e apreensão. Segundo o G1, quatro mandados de prisão temporária foram expedidos pelo juiz Regis Adil Bertolin durante a madrugada desta segunda-feira. O delegado regional Marcelo Arigony disse que uma pessoa ainda está sendo procurada, mas não revelou a identidade dela.
Elissandro Sphor recebeu atendimento por ter inalado a fumaça que se espalhou pela casa noturna durante o incidente. Segundo o advogado, o sócio estava presente na festa juntamente com a mulher, grávida, no momento em que a faísca de um sinalizador manuseado por um integrante da banda Gurizada Fandangueira atingiu o revestimento de isolamento acústico, no teto da boate. No domingo, em depoimento à polícia, o empresário confirmou em depoimento que o alvará de Plano de Prevenção de Combate à Incêndio estava vencido, mas em processo de renovação.
O delegado Sandro Meirnez contou que as imagens do circuito interno da boate não estariam sendo captadas há cerca de dois ou três meses. - Mas vamos checar esta informação - declarou. O delegado afirmou ainda que a boate Kiss está em nome de “testa de ferro ou laranjas”, que seriam a mãe e a irmã de Elissandro.
Na manhã desta segunda-feira, o governador Tarso Genro falou que “a polícia vai produzir um inquérito exemplar, que possa provocar discussão e mudança legislativa, seja nos âmbitos municipal, estadual ou federal, para que este tipo de coisa nunca mais aconteça”.
Desde o fim da tarde de domingo, o Ministério Público havia informado que estudava pedir a prisão dos donos da boate, de integrantes da banda Gurizada Fandangueira e de outros envolvidos no episódio. No entanto, mais cedo, o delegado Marcelo Arigony havia afirmado que seria prematuro pedir a prisão de quem quer que seja antes de concluir qualquer tipo de perícia.
- Pedido de prisão, neste momento, é temerário e prematuro. Não estamos investigando pessoas, estamos investigando fatos. Eventual responsabilização de pessoas virá se for necessário, depois da comprovação dos fatos - disse o delegado, acrescentando que ainda não sabe quem são os reais proprietários da boate e que podem haver outros empresários como sócios.
Marcelo Arigony disse, nesta segunda-feira, que já foram tomados cerca de 20 depoimentos . Segundo ele, a polícia vai verificar se a perícia confirma a tese que se tem até o momento: a de que o incêndio começou com um sinalizador e o extintor acionado para apagar as chamas falhou. Outro fator que teria contribuído para o alto número de mortos seria o de que a porta de emergência não teria dado vazão para a saída dos jovens.
Na manhã desta segunda-feira, a perícia na casa noturna foi retomada. Os técnicos iniciaram os trabalhos na boate Kiss por volta de 7h30m. Eles recolheram objetos, como sapatos e celulares, que haviam sido deixados por vítimas e sobreviventes na entrada do estabelecimento. Os objetos foram colocados em um saco e levados pra dentro da boate.
Entenda a tragédia
Na madrugada do dia 27 de janeiro, centenas de jovens participavam de uma festa na boate Kiss, no Centro de Santa Maria. O fogo começou durante a apresentação da banda Gurizada Fandangueira. Por volta de 2h30m, um dos integrantes do grupo utilizou um sinalizador luminoso, cujas fagulhas atingiram a espuma de isolamento acústico da casa noturna, provocando o incêndio. As vítimas buscaram rotas de fuga, no entanto, segundo relato de sobreviventes, um grupo de seguranças bloqueou a única saída da boate para evitar que os clientes saíssem sem pagar. Sem conseguir sair do estabelecimento mais de 200 jovens morreram e outros 100 ficaram feridos. A maioria dos mortos foi vítima de intoxicação pela fumaça. Os bombeiros encontraram dezenas de corpos empilhados nos banheiros, onde muitos ainda tentaram se proteger, e em frente à porta da boate. O incêndio, que teve repercussão internacional, é considerado o segundo maior da História do país e a maior tragédia do Rio Grande do Sul.
Com 262 mil habitantes, Santa Maria é uma cidade universitária que fica na região central do estado. A festa, chamada de “Agromerados“, reunia estudantes da Universidade Federal de Santa Maria (UFMS). A maior parte deles tinha entre 16 e 20 anos. De acordo com o Corpo de Bombeiros, o plano de prevenção contra incêndios da boate Kiss estava vencido desde agosto de 2012. (SAIBA COMO FOI O INCÊNDIO)
Localizada na Rua Andradas, a boate Kiss costumava sediar festas e shows para o público universitário da região. A casa noturna é distribuída em três ambientes — além da área principal, onde ficava o palco, tinha uma pista de dança e uma área vip. Segundo informações do site da casa noturna, os ingressos custavam R$ 15.
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