De OGLOBO.COM.BR
*Correspondente
Há quatro anos, produtores rurais lideraram rebelião nacional que praticamente paralisou a economia do país
BUENOS AIRES — Como em 2008, os produtores rurais argentinos decidiram nesta
quinta-feira paralisar as atividades do setor em repúdio a uma medida tributária
oficial. Desta vez, o inimigo dos homens de campo da Argentina é o governo da
província de Buenos Aires, a mais importante do país, que conseguiu aprovar no
parlamento provincial uma reforma impositiva que eleva o imposto imobiliário
rural. Após esta decisão, que vinha sendo discutida há várias semanas, os
produtores convocaram uma greve de nove dias nas província governada pelo
peronista Daniel Scioli, ex-vice presidente de Néstor Kirchner (2003-2007) e
aliado de Cristina Kirchner.
A situação dos produtores, que há quatro anos lideraram uma rebelião nacional
que praticamente paralisou a economia argentina, provocou uma reação social na
capital do país, onde foram realizados panelaços vários bairros, como Recoleta e
Belgrano. Os últimos panelaços argentinos ocorreram justamente em 2008, em meio
à crise entre a Casa Rosada e o campo, na época desencadeada pela implementação
de um decreto presidencial que, na prática, provocou o aumento dos impostos às
exportações de grãos. Segundo meios de comunicação locais, os panelaços
portenhos também foram uma reação aos escândalos de corrupção envolvendo
funcionários do governo, principalmente o vice-presidente, Amado Boudou, que
está sendo investigado, entre outras coisas, por suposto enriquecimento
ilícito.
“O tarifaço é uma confiscação e está sendo implementado num momento em que os
produtores estão enfrentando sérias dificuldades, primeiro pela seca e depois
pelas inundações”, indicou um comunicado da Federação Agrária Argentina
(FAA).
— Vamos retornar às estradas do país — disse o presidente da federação,
Eduardo Buzzi, um dos líderes da rebelião de 2008.
Há quatro anos, os produtores bloquearam as estradas mais importantes da
Argentina e provocaram uma crise nacional que levou a presidente a cogitar a
possibilidade de renunciar ao cargo. Na época, segundo confirmaram fontes da
Casa Rosada, Cristina foi aconselhada por vários presidentes da região, entre
eles Luiz Inácio Lula da Silva, a permanecer na Presidência apesar de ter
sofrido uma derrota no Congresso, onde seu projeto sobre a modificação de
impostos do setor rural foi derrotado. Segundo analistas locais, o forte
controle no mercado cambial também está aprofundando o clima de mal estar entre
a população.
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