De OGLOBO.COM.BR
No mesmo dia, convocação de governadores será
analisada e Demóstenes vai depor no Conselho de Ética do Senado
BRASÍLIA. As investigações sobre a conexão da construtora Delta com o esquema
do bicheiro Carlinhos Cachoeira devem avançar ao longo desta semana. Amanhã, a
CPI deve votar a quebra dos sigilos da matriz da empreiteira e analisar a
convocação dos governadores Marconi Perillo, Agnello Queiroz e Sérgio Cabral.
Quase ao mesmo tempo, o Conselho de Ética do Senado ouvirá o senador Demóstenes
Torres no processo que responde por quebra de decoro parlamentar. Na quinta, o
senador volta a depôr, desta vez na CPI. A Justiça de Goiás deverá ouvir os réus
do caso, inclusive Cachoeira.
Apesar dos diversos depoimentos, boa parte dos parlamentares acredita que as
informações efetivamente relevantes para a CPI virão de documentos. A
expectativa é que todos os réus no processo façam como Carlinhos Cachoeira,
valendo-se do direito de ficar calados. Assim, o cruzamento das informações já
recebidas é tido como o eixo central da apuração.
— Temos que trabalhar com prova técnica. O alvo agora é a Delta. O dinheiro
que saía em espécie das contas necessariamente era para propina. É coisa de
pouco tempo para chegar aos indícios de quem o recebeu — disse o deputado Miro
Teixeira (PDT-RJ).
O parlamentar reclama da falta de acesso ao cruzamentos de dados da
construtora. O cotejamento está sendo feito pela área técnica do Senado, mas
ainda não foi disponibilizado aos integrantes da CPI:
— Há dez dias eles nos prometeram uma chave para acessar essas informações,
mas ainda não entregaram. Isso é grave. Precisamos bater a data dos saques em
espécie com as datas dos pagamentos de governos por obras da Delta. Isso é
fundamental — diz Miro.
O que parece inevitável é que a CPI quebre o sigilo da matriz da Delta
Construções. O requerimento está pronto para ser votado amanhã, junto com os
pedidos de convocação dos três governadores. Marconi Perillo e Agnello Queiroz
são citados nas investigações e Sérgio Cabral é amigo do ex-presidente da Delta
Fernando Cavendish. Até a semana passada, a blindagem de aliados impediu que
qualquer pedido de convocação fosse votado, mas a situação se agravou
especialmente para o governador de Goiás, que teve sua versão para a venda de
uma casa a Cachoeira posta em dúvida por um dos depoente.
O ponto alto do dia será o depoimento de Demóstenes Torres no Conselho de
Ética do Senado. Quase três meses depois do fatídico pronunciamento em que
senador disse ter recebido de Cachoeira apenas um fogão e uma geladeira, a
expectativa é que o parlamentar enfim apresente uma longa defesa sobre o caso.
Desde que O GLOBO revelou a atuação do senador na promoção de negócios do
bicheiro, Demóstenes calou-se prometendo apresentar a defesa no Conselho.
Apesar da grande expectativa, os parlamentares são céticos quanto à
possibilidade de Demóstenes de fato apresentar argumentos sólidos que o
inocentem. A tendência é francamente favorável à condenação dele no Conselho,
onde o voto é aberto. Até por isso, o senador tem atuado para convencer os pares
a absolvê-lo no plenário do Senado, onde o voto é secreto.
Na quinta-feira, Demóstenes será ouvido pela CPI do Cachoeira, mas poderá
ficar calado, pois está sendo investigado pelo Supremo Tribunal Federal e sua
tese de defesa é de que os grampos que o relacionam ao bicheiro foram obtido de
forma ilegal. Na quarta-feira serão ouvidos Gleyb Ferreira da Cruz e Lenine
Araújo de Souza, braços direitos do bicheiro; o diretor da Delta Cláudio Abreu;
o bicheiro José Olímpio de Queiroga Neto; e o presidente da Agência Goiana de
Transportes e Obras (Agetop), Jayme Eduardo Rincón, citado por integrantes da
quadrilha de Cachoeira em grampos feitos pela Polícia
Federal.
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