quarta-feira, 2 de maio de 2012

ECONOMIA: Analistas já recomendam proteção contra alta acelerada do dólar


De OGLOBO.COM.BR
João Sorima Neto


Medida vale para empresas com dívidas na moeda e para pessoas físicas que vão viajar ao exteriorSÃO PAULO — Economistas já estão recomendando que se faça proteção (hedge) contra a valorização acelerada da moeda americana. Eles avaliam que mudou a política de intervenção cambial do Banco Central, que claramente quer fortelecer a moeda americana e enfraquecer o real. Só no mês de abril, o BC fez 16 leilões de compra de dólares, pressionando a moeda americana ao patamar de R$ 1,90. Hoje, o mercado já estima o dólar a R$ 1,92 em dezembro deste ano e calcula que a divisa americana pode fechar a R$ 1,95 ao fim de 2013.
Nesse cenário, empresas que têm dívidas em dólares podem ter problemas para saldá—las se não tiverem receita em moeda americana. Quem planeja viajar ao exterior nas férias de janeiro também pode recorrer a um fundo cambial, que acompanha a variação da moeda para proteger o capital que tem disponível para a viagem. Com a alta de 4,44% do dólar comercial em abril, os fundos cambiais foram o melhor investimento do mês, com alta de 3,23%.
O chefe de economia e estratégia para o Brasil do Bank of America Merrill Lynch, David Beker, afirma em relatório que há uma clara mudança na atual política de intervenção cambial do governo. Para ele, antes as 21 intervenções do Banco Central, no primeiro trimestre, foram utilizadas para reduzir a volatilidade da moeda americana. Agora, visam fortelecer o dólar e enfraquecer o real.— Essa forte coordenação (entre o Banco Central e o Ministério da Fazenda), agindo para desvalorizar o real, não existia no passado. Antes, enquanto o Ministério da Fazenda defendia um real mais fraco e implementava mudanças no Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) para esse objetivo, o Banco Central usava as intervenções como uma ferramenta para aliviar a volatilidade no câmbio. Agora, a percepção é que as intervenções do BC (comprando dólares) estão enfraquecendo o real — diz Beker em sua análise.
Em sua análise, o economista do Bank of America Merrill Lynch lembra que o real tem sido um veículo global de operações de 'carry trade' na última década. No jargão dos economistas, a expressão significa que os investidores de curto prazo trazem dólares para o país, trocam por real para ganhar com a alta taxa de juro do país. Trazendo moeda americana, esses investidores provocam a desvalorização do dólar e a alta do real. Agora, o governo brasileiro quer evitar isso.
— O governo brasileiro quer evitar que isso continue acontecendo no futuro. O BC quer os investidores de curto prazo parem de perseguir o real — diz o relatório do economista.
O economista diz ainda que até que nível o BC entrará no mercado comprando dólares é uma 'questão em aberto'. Para ele, a velocidade de alta do dólar é mais importante do que um nível em si. Por isso, ele revisou sua estimativa de um dólar a R$ 1,85 em dezembro deste ano para R$ 1,92. E para 2013, a previsão subiu de R$ 1,92 para R$ 1,95. No relatório, o economista recomenda inclusive que se faça proteção contra a desvalorização do real e alta do dólar, dada que esta é a tendência.
Para o gerente da mesa de operações do Banco Confidence, Felipe Pellegrini, a estratégia do BC de comprar dólares até duas vezes por dia, como aconteceu em abril, é claramente um sinal de que a autoridade monetária quer o dólar mais próximo de R$ 1,90.
— Ficou claro nas atuações do BC que a autoridade monetária quer o dólar flutuando entre R$ 1,88 e R$ 1,90. Este patamar seria mais favorável aos exportadores — diz o economista.
João Medeiros, sócio da corretora Pionner, afirma que a valorização do dólar no mercado doméstico está descolada do mercado internacional. O dólar se valoriza em relação ao real independentemente do que acontece com o euro, com a libra, moedas de países emergentes ou com o preço das commodities.
— Não vemos lá fora uma oscilação tão grande do euro ou da libra em relação ao dólar. Aqui, o dólar se valoriza mais rápido frente ao real claramente pelos movimentos de compra de moeda feitos pelo Banco Central — afirma Medeiros.
Uma das razões que indicam a tentativa do BC de fazer a cotação do dólar chegar a R$ 1,90 rapidamente é que a autoridade monetária, por diversas vezes, fez o leilão de compra numa cotação maior do que o mercado vinha praticando. Na sexta—feira passada, o BC comprou dólar pagando R$ 1,885 pela divisa, quando ela estava sendo negociada abaixo desse patamar.
— O mercado fica sem saber onde a cotação do dólar vai parar com as intervenções do BC e tenta descobrir qual a taxa que o ministro Guido Mantega está querendo — afirma Reginaldo Galhardo, gerente de câmbio da Corretora Treviso.
Galhardo lembra que muitos exportadores que haviam feito proteção (hedge) contra a alta do dólar já estão zerando suas posições. Segundo ele, os exportadores fizeram proteção para um dólar a R$ 1,87, R$ 1,88, que era a cotação esperada para o fim deste ano. Mas com a aceleração da alta da moeda americana, já começam a vender e buscar proteção num patamar mais elevado. Assim, não perdem tanto.
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