Por Gilles Lapouge - O Estado de S.Paulo
A três dias do segundo turno das eleições presidenciais, o socialista
François Hollande continua o favorito. No entanto, prudência! Numa eleição tão
passional, um imprevisto de último minuto pode sempre ocorrer.
Para vários vizinhos da França a vitória do socialista já está prevista. E é
igualmente desejada. Por que? O fato é que o candidato socialista é visto como o
antídoto de Angela Merkel. O que se espera é que ele solte a camisa de força com
a qual Merkel e Sarkozy prenderam o corpo extenuado da Europa, com o risco de
sufocá-la.
A Grécia é a primeira da fila dos partidários de Hollande. Segundo o jornal
To Ehtnos, as primeiras fissuras já aparecem no muro da retórica orçamentária
alemã. Bastou Hollande apresentar um programa econômico para se tornar o líder
da "Europa do Sul".
No jornal El País, de Madri, José Ignacio afirma estar farto de ver a França
de Sarkozy se dobrar diante dos diktats alemães. "Chegou a hora de dar um
'basta' a Berlim." Na Grã-Bretanha, Michael White, no Guardian, segue na mesma
linha. "A vitória de Hollande não será uma revolução. Se for bem gerida, ela
poderá ser um passo na boa direção para nós." Poderíamos nos alongar nessa
antologia dos partidários europeus do candidato socialista. Claro que a maior
parte inclui jornais ou políticos de esquerda. Mas o interessante não é o fato
de a esquerda europeia tomar partido de Hollande. A novidade é que essa esquerda
é unânime na crença de que o socialista poderá pôr fim aos programas de
austeridade que fazem com que a Europa enfraqueça a passos largos. Sem dúvida é
conceder ao candidato um grande poder.
O fato é que o remédio prescrito por Merkel e Sarkozy está em vias de "matar
o doente" (segundo os gregos, os espanhóis e outros) e as pessoas se agarram a
Hollande para que o Velho Continente mude de partitura. E se ofereçam meios de
"crescimento" em vez de orquestrar a "deflação".
Esse desejo de crescimento não é novo. Há vários meses uma pequena música
tenta substituir a sinfonia alemã. E o que diz essa música? Em vez de se
consagrar exclusivamente à redução do endividamento e dos déficits, a Europa
deve buscar o "crescimento" que, sozinho, alimentará as receitas fiscais e
eliminará as dívidas.
Os que são contrários a Merkel dispõem de um argumento simples. Apesar dos
planos de rigor, aplicados com heroísmo pelos europeus, a situação não melhora,
mas piora. Europa, Grécia, Itália e mesmo Irlanda ou Holanda, enfim, por todo o
lado, a austeridade tem tido efeitos medonhos.
Há cerca de dois anos, vários prêmios Nobel, dirigentes do FMI, editoriais do
Financial Times, especialistas respeitados como Joseph Stiglitz, Paul Krugman e
Dominique Strauss-Kahn vêm fazendo prognósticos. No New York Times, Paul Krugman
escreve: "Em março, os dirigentes europeus assinaram um pacto orçamentário
impondo a austeridade. Qualquer estudante de economia poderia prever o
resultado; isso somente agravará a recessão". Hollande anunciou que, se eleito,
exigirá uma renegociação desse pacto e quer completá-lo adicionando um
componente: crescimento.
Merkel e Sarkozy já rejeitaram a ideia. Se for o caso, Hollande poderá impor
mudanças, apesar de tudo? Não devemos ter ilusões: se é verdade que a
austeridade insana imposta à Grécia é uma calamidade, nada garante que uma ação
em favor do crescimento, que significa criar novos déficits, não produzirá
outros danos igualmente perniciosos.
TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO
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