Do blog o NOBLAT
Do blog do Alon
Do blog do Alon
Aqui e ali ouvem-se reclamações sobre como Luiz Inácio Lula da Silva conduz a campanha, recorrendo a categorias ditas infantilizantes pelos críticos. Ora, o presidente da República usa no discurso as armas que imagina mais eficazes para garantir a eleição de Dilma Rousseff.
Não é inteligente pedir a Lula que faça o serviço dele e também o dos adversários. Não dá para imaginar sua excelência matutando: `Puxa, esse argumento é bom para eleger a Dilma, mas se eu usar vou contribuir para a regressão da cultura política brasileira. Então é melhor não usar.”
Sobre “cultura política” tem uma cena esclarecedora em Reds, o filme, com Warren Beatty no papel de John Reed, o jornalista americano que foi cobrir e se envolveu na Revolução Russa. No processo de consolidação do poder bolchevique em todo o antigo Império dos czares, o comboio ferroviário vermelho chega a uma região islâmica e Reed começa a discursar para a multidão, noticiando o advento da nova era. Certa hora ele percebe, surpreso, ter dito “guerra santa” em vez de “luta de classes”. O discurso havia sido adaptado para ser mais bem compreendido pelas massas.
Assim é a vida. Lula descobriu-se o “pai” e vende na eleição a promessa de que Dilma o sucederá como “mãe”. Nada tem a ver com as ancestrais promessas petistas de uma nova cultura política, de mais autonomia da sociedade em relação ao Estado, de recriação do povo como sujeito de sua própria história, etc. Tais categorias repousam na prateleira à espera de intelectuais dispostos a entender e explicar mais este caso de digestão teórico-política.
No plano do frio cálculo eleitoral, “pai” e “mãe” são expressões fáceis de compreender e comunicar, e preenchem uma necessidade, pois é bem possível que a maioria do eleitorado esteja atrás desse tipo de relação.
E Lula vai em frente, sem medo de ser feliz, como escrevi aqui outro dia. Os que pretendem interromper o domínio do PT que espremam a cabeça para descobrir o que e como fazer. Política é relação de vetores, de forças. Se um vetor não enfrenta resistência eficaz, é natural que siga adiante. Como agora na eleição.
A proposta de Lula para o Brasil está clara: eleger Dilma, sustentada na aliança PT-PMDB, e abrir uma era de reformas político-institucionais que consolidem certa visão econômico-social.
Não se sabe exatamente o que seriam essas mexidas, mas eleição não é torneio de detalhismo. Nem a maioria está interessada em saber se a reforma política virá por voto em lista fechada ou distrital.
Mas é fácil de compreender quando o PT diz que quer eleger Dilma para continuar o que Lula fez, e que ela vai precisar de uma sólida maioria congressual para evitar que o governo seja atrapalhado pelos adversários.
A mensagem do PT está claríssima, a da oposição ainda não. Nem é aqui o caso de criticar, pois a tarefa da oposição está longe de ser trivial. É só uma constatação.
Inimputável
E aconteceu. O deleite do horário eleitoral, nossa ilha da fantasia eletrônica, foi bruscamente interrompido pela realidade. O Rio de Janeiro, aquele lugar com a política de segurança tão bacana (tem umas “upepês” que o pessoal cita muito em palanques), encarregou-se de dar o choque de realidade.
Num lance de imprudência, bandidos acabaram saindo dos limites geográficos em que o domínio deles é bem aceito pelo establishment carioca, foram surpreendidos pela polícia e construíram na fuga um cenário de simbolismo quase insuperável: fizeram reféns num hotel chique.
É o Rio da final da Copa de 2014. É a sede da Olimpíada de 2016. Mas o governador Sérgio Cabral não tem maiores motivos para se preocupar.
Com a quantidade de amigos e protetores que amealhou, poderá continuar vendendo a teoria de que a segurança no Rio vai bem, obrigado.
E em último caso pode acionar Lula, que não terá dificuldade para colocar a culpa em algum adversário político, ou nos que “torcem contra o Brasil”. Ou no “olho gordo” de alguém.
Inimputável mesmo, só Cabral.
Comentários:
Postar um comentário