quarta-feira, 10 de outubro de 2018

ECONOMIA: Declarações de Bolsonaro e exterior fazem Bolsa ter queda de 2,80%

OGLOBO.COM.BR
Ana Paula Ribeiro e Gabriel Martins

Candidato diz que, se eleito, não vai privatizar geração de energia e ações da Eletrobras despencam mais de 8%; dólar sobe a R$ 3,764

Moeda americana tem registrado perdas frente ao real por causa do cenário eleitoral local Foto: Haruyoshi Yamaguchi / Bloomberg News

SÃO PAULO E RIO — O dólar comercial fechou em alta de 1,40% ante o real, cotado a R$ 3,764, e o Ibovespa, principal índice do mercado de ações brasileiro, caiu 2,80%, aos 83.679 pontos, movimento puxado pelas estatais. O mal humor foi gerado por declarações do presidenciável Jair Bolsonaro (PSL) sobre privatizações e a reforma da Previdência, que desagradaram os agentes do mercado financeiro, e também por uma maior aversão ao risco no exterior - as bolsas americanas tiveram a maior queda desde fevereiro.
Em entrevista na noite de terça-feira, ao Jornal da Band, o candidato do PSL afirmou que pretende fazer a sua própria reforma da Previdência e que não usará o texto apresentado pelo governo Michel Temer, já em tramitação na Câmara dos Deputados, defendendo um modelo mais brando.
Pedro Guilherme Lima, analista da Ativa Investimentos, avalia que a entrevista dada pelo candidato causou desconforto no mercado, que tinha expectativa de aprovação da reforma já discutida e da venda de ativos públicos.
— Existia uma expectativa, pequena, de que a reforma do Temer pudesse ser colocada em votação. Mas ele afirmou que deve ser um outro formato, mais progressivo. Também falou de Eletrobras e Petrobras — disse. 
Lima reforçou, no entanto, que o candidato do PSL não foi contrário a reforma.
— Só o fato dele ser favorável já o coloca em um estágio melhor do que Fernando Haddad (PT), que ainda não definiu muito claramente a proposta — avaliou.
A realização de lucros (venda de ações para que os investidores embolsem os ganhos dos últimos pregões) e a expectativa com a divulgação de novas pesquisas eleitorais também foram outros fatores apontados por analistas para justificar a queda da Bolsa.
— A queda é uma soma de fatores. Tem a realização de lucros, expectativa com pesquisas e as declarações do Bolsonaro. É um movimento pontual — avaliou Rafael Passos, analista da Guide Investimentos, vendo que o mercado também "compra" mais o modelo do candidato do PSL.
O movimento do dólar no Brasil foi na contramão do exterior. O “Dollar Index”, índice da Bloomberg que que mede o comportamento da divisa americana frente a uma cesta de dez moedas, registrava leve variação negativa de 0,14% próximo ao horário de encerramento dos negócios no Brasil.
Queda no exterior
O pregão também foi de perdas nos mercados americanos. O Dow Jones fechou em queda de 3,15% e o S&P 500 caiu 3,19%. Já o Nasdaq registrou desvalorização de 4,08%. Essa é a maior queda para os índices americanos desde fevereiro.
O motivo é a preocupação com a guerra comercial, que pode afetar os custos de algumas empresas instaladas no Brasil. Os setores de tecnologia e industrial puxam a queda dos índices.
— Esse "boi na linha" das declarações do Bolsonaro sobre Previdência e privatização não estão ajudando. Mas também tem o efeito do exterior. O S&P tem uma queda muito forte — avaliou Luiz Otavio de Souza Leal, economista-chefe do banco ABC Brasil. 
Outro fator é a alta dos juros das "treasuries", os títulos públicos americanos. Os com vencimento em dez anos passaram dos 3,20% nessa semana, o maior patamar desde 2011. Retorno mais alta nessa aplicação, considerada uma das mais seguras do mundo, retira parte da atratividade dos investimentos em ações, que são mais arriscados.
Ações de estatais em queda
Na avaliação de Luiz Roberto Monteiro, operador de câmbio da corretora Renascença, as declarações do candidato do PSL levaram o mercado a refazer as suas expectativas em relação a um possível governo Bolsonaro.
— Quando o candidato dá declarações sobre privatizações e reforma da Previdência, os investidores que tinham uma projeção sobre quanto o governo economizaria, começam a refazer suas contas. Isso leva volatilidade para o mercado — diz Monteiro. — Por ser uma questão política, ações de estatais como Eletrobras e Petrobras devem ser afetadas neste pregão.
As ações das empresas estatais fecharam com perdas expressivas. Os papéis ordinários (ON, com direito a voto) e preferenciais (PN, sem direito a voto) da Petrobras recuaram 2,76% e 3,70%, respectivamente, seguindo o mercado internacional do petróleo - o barril do tipo Brent recuava 2,67%, a US$ 82,73 o barril.
As maiores perdas, no entanto, foram registradas na Eletrobras. As ações ON despencaram 9,21%; as PN, 8,36%.
Os bancos, de maior peso na composição do Ibovespa, também operaram no vermelho. Os papéis do Banco do Brasil recuaram 4,23%. Já as preferenciais do Itaú Unibanco e do Bradesco caíram, respectivamente, 3,45% e 3,25%. 
Na outra ponta, os maiores ganhos foram das empresas exportadoras, que se beneficiam da valorização do dólar. Os papéis da Suzano subiram 2,22% e os da Fibria, 1,47%.

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