terça-feira, 6 de março de 2018

ANÁLISE: Decisão do STF traz de volta pesadelos de Temer

OGLOBO.COM.BR
POR FRANCISCO LEALI

Fantasma que perturba a agenda positiva governamental responde pelo número 4621

O presidente Michel Temer ajeita o cabelo antes de reunião do Conselho Militar de Defesa - Montagem sobre fotos de Jorge William/Arquivo

BRASÍLIA - O presidente Michel Temer gestou um golpe de mestre, como ele mesmo deixou escapar dia desses. Mandou as Forças Armadas tomarem conta da Segurança Pública do Rio. O gesto ocupa cabeças e mentes desde então. Eis que o esqueleto que Temer vinha tentando manter no armário nos porões do Palácio do Jaburu - talvez na mesma sala onde uma noite recebeu o empresário Joesley Batista da J&F - insiste em atrapalhar os planos presidenciais.
Na burocracia estatal, o fantasma que perturba a agenda positiva governamental responde pelo número 4621. É assim que está registrado o inquérito, aberto para investigar o suposto envolvimento do presidente na edição de decreto que beneficiaria empresas do setor portuário. Popularmente, a investigação virou "o caso Rodrimar", nome da empresa supostamente beneficiada.
A defesa de Temer insiste que o decreto editado pelo presidente não favoreceu a Rodrimar e, portanto, não há crime a ser investigado. O argumento é da defesa. Já os investigadores, esses, ainda estão investigando. Ontem, o relator do caso, ministro Luís Roberto Barroso, mandou quebrar o sigilo bancário do presidente da República e pessoas próximas. Temos, então, o grave fato de um presidente da República que precisa conviver com a polícia nos seus calcanhares, botando lupa em sua conta corrente.
Se o despacho de Barroso traz de volta às manchetes o maior pesadelo de Temer, aquele que começou na noite em que foi gravado por Joesley, o real estrago da investigação à nova imagem do presidente está para ser medido. Não se pode esquecer do ex-deputado Rocha Loures em desabalada carreira puxando mala cheia de dinheiro. A cena nos ensina que, entre profissionais do ramo, o dinheiro não costuma transitar por contas com CPF e endereço próprio.
O presidente, que domina as armas do mundo político, já conseguiu exorcizar as primeiras aparições do bicho-papão. Arquivou-se parte das denúncias com apoio da maioria da Câmara dos Deputados. Mas restou o caso Rodrimar.
Quando os primeiros extratos do correntista Temer vierem a público - e sua assessoria já prometeu franqueá-los à imprensa _ o barulho que se fará pode não ser tão grande assim. O Palácio do Planalto deve insistir que precisamos só falar do Rio; que essa deve ser a agenda do país; e que os brasileiros não podem ter medo de sair de casa.
Há quem cogite que a intervenção federal no Rio será capaz de contaminar o senso comum a ponto de se enxergar o presidente apenas como um estadista em busca de uma solução para o maior de nossos medos. Urdido para aderir à consensual certeza de que o estado fluminense está falido não só em sua economia, o plano foi um tiro curto com projeção de efeito retardado nas eleições. Um presidente diligente, apostando suas últimas fichas na repressão ao crime, parece mesmo afinado com clamores populares em 2018. Mas o que fazer com outro Temer? Aquele que também habita o subsolo do Jaburu e ainda insiste em aparecer.

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