terça-feira, 11 de abril de 2017

FRAUDE: GRAVAÇÃO DE DELATOR COMPLICA CÔRTES

OGLOBO.COM.BR
Sérgio Côrtes é acusado de pagar desnecessariamente serviços - Fábio Guimarães / Agência O Globo

Três gravações de conteúdo comprometedor entregues à força-tarefa da Lava-Jato no Rio reforçaram as investigações contra o esquema. As gravações que Romero repassou ao MPF - uma com Sergio Côrtes e duas com Sérgio Vianna Júnior, irmão de Verônica - também mostram como o esquema funcionava. Elas revelam que Côrtes tentou acertar uma delação combinada com Romero, escondendo informações relevantes, e que Sérgio Vianna teria feito uma oferta em dinheiro para o delator, em nome do empresário Miguel Iskin, para que ficasse de boca fechada.
Côrtes procurou Romero em março, no escritório do ex-aliado, no Centro do Rio, após desconfiar que ele estava delatando. A conversa de 10 minutos foi gravada no local. O ex-secretário também tentou negociar com o MPF, mas a oferta foi rechaçada. Em ums dos trechos da gravação, Côrtes propõe a Romero que ambos poupassem o empresário Miguel Iskin nas delações, dando destaque para Arthur Soares, o "Rei Arthur", outro empresário envolvido nos esquemas da Saúde. Também propôs que os dois denunciassem um contrato da Oi, empresa telefônica, com o governo Cabral.
Romero tem duas conversas gravadas. Na primeira, diz que Sérgio Côrtes já sabia da delação de Romero e que pretendia procurá-lo, colocando fim a um afastamento de quase sete anos, desde que romperam. Na segunda, Côrtes ofereceu dinheiro para Romero ficar de boca fechada.

LICITAÇÕES ERAM VICIADAS
Fachada do prédio da Oscar Iskin, no Humaitá, zona sul do Rio - Ana Branco / O Globo

O delator garantiu que as licitações na compra de equipamentos, entre os quais tomógrafos, aparelhos de Raio-X, órteses, próteses e outros produtos médicos, eram viciadas. Os vencedores eram previamente escolhidos pelo cartel liderado por Miguel Iskin, que também coordenava a caixinha da propina. De acordo com a delação, os pagamentos eram feitos pelo sócio de Miguel, Gustavo Estellita, a Carlos Miranda (em nome de Cabral), Côrtes e Romero. A cada dois meses, Romero se encontrava com Miranda para checar a planilha de repasses.
Romero contou que o ex-secretário de Saúde é sócio oculto do empresário Miguel Iskin. O delator confessou que tinha uma conta conjunta com Sérgio Côrtes na Europa, vinculada a uma das empresas de Iskin, na qual ambos guardariam US$ 16 milhões, mas Romero garantiu que depois do rompimento com Côrtes não soube mais do destino desse dinheiro. A força-tarefa já rastreou mais de uma conta secreta no exterior pertencente a Iskin.
Cesar Romero também denunciou o pagamento de propina nas prestação de serviços continuados (alimentação, limpeza, vigilância, laboratórios, transportes, coleta e tratamento de lixo), estimadas em R$ 300 milhões mensais e na construção de 264 mil metros quadrados de UPAS, no valor de R$ 631 milhões.
Parte do dinheiro desviado, segundo o delator, era entregue a Carlos Miranda, apontado como o coletor de propinas do ex-governador Sérgio Cabral. Outra parte seria rateada entre Côrtes e Cesar Romero, que agora irá devolver o dinheiro.
Romero, na condição de subsecretário executivo, foi braço-direito de Sérgio Côrtes até ambos romperem em 2010, quando a Justiça do Rio abriu processo para julgar por improbidade administrativa o ex-subsecretário executivo, além de dois funcionários da secretaria e as empresas Toesa Service, Scar Rio e Multi Service. Eles foram acusados pelo Ministério Público estadual de fraudar a licitação que contratou, em 2009, a Toesa para a manutenção de 111 ambulâncias.
O delator garantiu que as licitações na compra de equipamentos, entre os quais tomógrafos, aparelhos de Raio-X, órteses, próteses e outros produtos médicos, eram viciadas. Os vencedores eram previamente escolhidos pelo cartel liderado por Miguel Iskin, que também coordenava a caixinha da propina. De acordo com a delação, os pagamentos eram feitos pelo sócio de Miguel, Gustavo Estellita, a Carlos Miranda (em nome de Cabral), Côrtes e Romero. A cada dois meses, Romero se encontrava com Miranda para checar a planilha de repasses.

SOCIEDADE OCULTA
Romero contou que o ex-secretário de Saúde é sócio oculto do empresário Miguel Iskin. O delator confessou que tinha uma conta conjunta com Sérgio Côrtes na Europa, vinculada a uma das empresas de Iskin, na qual ambos guardariam US$ 16 milhões, mas Romero garantiu que depois do rompimento com Côrtes não soube mais do destino desse dinheiro.
A força-tarefa já rastreou mais de uma conta secreta no exterior pertencente a Iskin. Romero citou ainda o nome de uma agência de turismo usada por Iskin para a compra de passagens aéreas, reservas de hotéis e outras despesas de viagens internacionanis para membros da equipe de Côrtes na Secretaria de Saúde. As despesas seriam pagas por Iskin.
A convite de uma empresa fabricante de mamógrafos e tomógrafos móveis interessada em vender aparealhos médicos, os casais Sérgio Côrtes e Verônica Vianna e Miguel Iskin e mulher viajaram para a cidade de Oneonta, em Nova York, em 2010.
A delação também cita o nome de Pedro Henrique Di Masi Palheiro, ex-subsecretário Jurídico da Saúde. Ele teria viajado com a mulher para Nova York com todas as despesas pagas por Miguel Iskin. Pedro é filho do ministro Antonio Saldanha Palheiro, do Superior Tribunal de Justiça.

Ascensão e queda de Côrtes
Sérgio Côrtes (primeiro à esquerda), ao lado de Georges Sadala, Wilson Carlos e Fernando Cavendish - Reprodução

Indicado por Cabral (PMDB), na época um forte aliado do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o médico e ex-secretário estadual de Saúde do Rio Sérgio Côrtes não é filiado a partido político e iniciou sua carreira como cirurgião ortopedista do Into, onde se tornou diretor-geral em 2002. Ganhou notoriedade ao assumir o cargo de interventor federal nos hospitais federais do Rio na gestão do ex-prefeito Cesar Maia, rival político do PMDB, começando assim a sua escalada na vida pública.
Nessa época, em 2005, Côrtes teve como principal missão colocar ordem na rede pública, o que teria lhe rendido ameaças e supostos atentados por conta das ações promovidas na saúde justamente contra fornecedores que fraudavam licitações e pagamentos superfaturados nas secretarias de saúde. Depois de pedir reforço em sua segurança, ele passou a receber escolta constante da Polícia Federal. Já Romero diz, em sua delação, que os atentados foram forjados.
A indicação de Côrtes para se tornar o interventor federal em hospitais municipais do Rio partiu do ex-ministro sa Saúde Humberto Costa (PT-PE) por lobby dos irmãos Tião e Jorge Viana, tios de sua mulher, Verônica Viana. Tião hoje é governador do Acre pelo PT, e Jorge, senador no estado pelo mesmo partido.
Por ser o idealizador das Unidades de Pronto-Atendimento (UPAs) na primeira campanha de Cabral ao governo do Estado, em 2006, Côrtes foi convidado para assumir a Secretaria de Saúde, tornando-se homem de confiança de Cabral. Seu projeto foi ainda estendido para o Ministério da Saúde na gestão de José Gomes Temporão e usado por Eduardo Paes (PMDB) em sua primeira campanha para prefeito.
Meses após a eleição de Dilma Rousseff para presidente da República, Cabral chegou a participar de uma reunião na Granja do Torto que teria tratado do nome de Côrtes para o Ministério da Saúde. Durante uma viagem à Argentina, Cabral chegou a dizer aos repórterees que ele seria o ministro da Saúde do próximo governo. O ex-governador viajou para Buenos Aires para inaugurar, ao lado de Côrtes, a primeira Unidade de Pronto Atendimento (UPA) da Argentina.
A escolha de Sérgio Côrtes causou polêmica no PMDB. O presidente do partido e então vice-presidente eleito, Michel Temer, chegou a dizer que a escolha de Côrtes era da cota pessoal de Dilma e que não entraria na cota de cinco ministérios do partido.
Com o fortalecimento do nome de Côrtes na gestão Cabral também vieram as primeiras denúncias. O ex-secretário passou a ser alvo de uma série de investigações e acusações nos contratos de manutenção de ambulâncias suspeitos de superfaturamento no valor de de R$ 2,6 milhões. A denúncia envolvia também Romero. Em 2013, o então secretário de Saúde do Rio chegou a ser condenado pela Justiça por desvio de verba pública. A sentença da juíza Simone Lopes da Costa, da 8ª Vara de Fazenda Pública, teve como objeto a ação pública movida pelo Sindicato dos Médicos do Rio e citava movimentações de R$ 100 milhões.
A Polícia Federal chegou a indiciar Côrtes e outras três pessoas, após encontrar falhas em contrato do Into com a empresa Toesa Service, celebrado em 2005. O contrato sofreu dois aditivos em setembro. No total, o Into pagou R$ 2 milhões à Toesa. As acusações encaminhadas ao Ministério Público Federal incluem peculato (desvio por servidor público), concurso de pessoas (cometimento da infração penal por mais de um pessoa) e comunicação ao particular da elementar do crime (quando as circunstâncias do crime são atribuídas a todos os envolvidos) no contrato para manutenção de 72 ambulâncias do Samu, que, segundo a PF, custou R$ 1 milhão a mais do que deveria.
Atualmente Côrtes exerce o cargo de vice-presidente Médico da Rede D´Or.

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