quinta-feira, 10 de dezembro de 2015

IMPEACHMENT: STF deve adiar decisão sobre rito do processo do impeachment

OGLOBO.COM.BR
POR JOSÉ CASADO

Fachin discutiu com ministros do Supremo decisão que suspendeu tramitação

Deputados comemoram resultado da sessão de anteontem. Processo foi suspenso pelo ministro Fachin - Jorge William/8-12-2015

RIO — O relógio do computador do juiz Edson Fachin marcava 22h28m de terça-feira quando pôs a assinatura digital no documento: “Publique-se. Intime-se” — ordenou, seguindo o léxico protocolar.
Assim, com um despacho de 642 palavras, o professor de Direito da Universidade Federal do Paraná, especializado em sucessão familiar, deteve a guerra do impeachment na Câmara dos Deputados logo depois do primeiro lance: a eleição da comissão especial que decidirá sobre a abertura, ou não, de um processo por crime de responsabilidade contra a presidente Dilma Rousseff.
Gaúcho de Rondinha, vilarejo de seis mil habitantes onde paciência é sinônimo de conversa em torno de um porco assando no rolete, Fachin usou o poder monocrático para congelar governo e oposição com uma resolução “em caráter excepcional” — como ressalvou —, válida até a próxima reunião plenária do Supremo Tribunal Federal (STF,) marcada para quarta-feira, dia 16, dois dias antes do início do recesso judiciário e parlamentar.
Ele negociou com os outros ministros do STF cada vírgula da sua deliberação sobre o assunto que nada tem de trivial, apear um presidente do poder usando-se as normas legais.
Teve tempo. Há uma semana, analisava 74 páginas de indagações sobre o rito constitucional do impeachment apresentadas pelo Partido Comunista do Brasil (PCdoB), na quinta-feira passada.
Quando o deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), presidente da Câmara, avançou o sinal, sem esperar pela decisão do STF, Fachin suspendeu o jogo e remeteu o caso ao plenário de 11 ministros.
SESSÃO NA QUARTA-FEIRA
Em tese, na próxima quarta-feira o tribunal ditaria o ritual correto para tramitação legislativa do caso. Porém, como sobram dúvidas a respeito do que é permitido pela Constituição, pela lei específica e pelo regimento interno do Congresso Nacional, mais provável é o adiamento da deliberação até à volta do recesso, em fevereiro. Poderá acontecer por iniciativa unânime do plenário ou pela ação de qualquer ministro, numa requisição dos autos para análise.
O resultado prático seria uma virtual aproximação do cronograma do STF, na decisão sobre o ritual do impeachment, do calendário do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) na deliberação do processo de cassação da chapa Dilma Rousseff (PT)/Michel Temer (PMDB), por suposto crime eleitoral na campanha do ano passado.
Sem o impeachment na agenda imediata do Legislativo, e com as sucessivas manobras para adiamento do processo de cassação de Cunha no Conselho de Ética da Câmara, não restariam motivos para o Congresso suspender o recesso a partir da próxima semana. Confirmando-se, as férias parlamentares desta vez tendem a ser diferentes: em lugar do ócio, o tempo vai ser gasto em negociação, atualmente a mercadoria mais escassa no mercado político.
Nos tribunais, o efeito tende a ser a garantia de um interlúdio para decisões em múltiplos inquéritos sobre pagamentos já comprovados de R$ 6,4 bilhões em propinas sobre contratos da Petrobras.
Neles, se destacam 49 autoridades com foro privilegiado e vinculadas a PMDB, PT e PP — entre eles Eduardo Cunha.
Nessa etapa da crise brasileira, o mais evidente é o protagonismo crescente do Judiciário, circunstância que justifica uma pergunta recorrente na Praça dos Três Poderes, em Brasília: o país estaria avançando para uma “judicialização da política”?
Ministros do Supremo, como os professores de Direito Constitucional Luis Roberto Barroso e Cármen Lúcia Antunes Rocha, discordam. Faz parte da configuração do Estado moderno, repetem.
Futura presidente da Corte, Cármen Lúcia pesquisou a origem das ações diretas de inconstitucionalidade, porta pela qual o STF ganha proeminência em temas que afetam diretamente a vida política, como fidelidade partidária, propaganda eleitoral, número de vereadores, entre outros.
Constatou que, nos últimos 27 anos, uma de cada cinco ações foi protocolada por partidos políticos — como fez o PCdoB no processo que levou ao despacho de Fachin.
Por onde passa, ela se esforça para explicar: o acréscimo no fluxo de direitos, uma característica do mundo pós-Segunda Guerra, levou a uma situação no final do século XX em que não basta ter o direito positivado na Constituição, é preciso ter a garantia do cumprimento. Por isso o crescimento do Judiciário no mundo todo, com um protagonismo inédito no Estado moderno.
DEPUTADO VÊ AVANÇO
Num país cuja história republicana está entrecortada por uma sucessão de golpes e conspirações, a novidade no centro do poder é que até a discussão sobre a derrubada de um presidente acabou constitucionalizada.
— É um avanço enorme — diz o deputado Miro Teixeira (Rede-RJ), autor de algumas das principais ações diretas de inconstitucionalidade julgadas pelo Supremo.
— Antes, articulava-se golpe, decretava-se estado de sítio... Isso acabou. A democracia brasileira chegou ao civilizado estágio de recorrer à Justiça para resolver seus impasses políticos.

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