quarta-feira, 2 de julho de 2014

COMENTÁRIO: Resultado fraco

Por Celso Ming -ESTADAO.COM.BR

Atribuir apenas à fraca recuperação econômica mundial o desempenho insatisfatório da balança comercial (exportações menos importações) do primeiro semestre do ano é ignorar ou esconder os fatores igualmente verdadeiros e possivelmente mais relevantes. Foi o que fez ontem o ministro do Desenvolvimento, Mauro Borges, ao comentar as estatísticas de junho.
Não dá para negar que a crise global continua contendo as encomendas de produtos brasileiros. E tem a prostração da Argentina que derrubou nada menos que 19,8% das suas importações do Brasil (veja o Confira), em comparação ao mesmo período do ano passado. E a Argentina conta porque em 2013 foi o destino de 8,0% das exportações brasileiras. Neste primeiro semestre foi de apenas 6,7%.
Mas o emperramento global é um fator que não pode ser exagerado. A crise mundial começou em 2007 e a asfixia do comércio exterior produzida por ela já foi maior. Agora, a recuperação só é menor do que a esperada. Mas, ainda assim, as exportações brasileiras para os Estados Unidos cresceram no período 11,4%.
Há outros fatores prejudicando os resultados da balança comercial brasileira. O primeiro tem a ver com a crescente perda de competitividade da indústria. As exportações de produtos industrializados caíram 9,8% nestes primeiros seis meses do ano. A participação dos manufaturados na pauta brasileira de exportações do primeiro semestre caiu para 34,4%, a mais baixa em 24 anos.
É verdade que o encolhimento do mercado argentino pesou muito nesse resultado. Mas isso não é tudo. As mercadorias industrializadas não vêm conseguindo mercado externo porque seguem caras demais em moeda estrangeira e, por isso, são alijadas pela concorrência. O câmbio fora de lugar (dólar barato) é apenas parte da verdade. Outras razões ajudam a explicar a baixa capacidade de vendas de produtos industrializados: o alto custo Brasil (especialmente a carga tributária), a precariedade da infraestrutura e o excesso de burocracia.
Mas não dá para excluir a falta de acordos comerciais do Brasil com outros mercados. O governo engavetou grande número de propostas de acordo que dariam preferência para o produto brasileiro. Em vez disso, optou para dar curso a aproximações mais políticas do que comerciais com seus vizinhos e, por isso, transformou o Mercosul, que deveria ser uma união aduaneira e mola de negócios, em clube bolivariano.
O saldo comercial de 2013 foi um superávit de US$ 2,4 bilhões. O de 2014 deve ser da mesma magnitude. O Banco Central (BC), sempre tão otimista, projeta US$ 5 bilhões. O mercado financeiro, que deixa suas estimativas na Pesquisa Focus (feita pelo BC) aponta para US$ 2,1 bilhões. As exportações de commodities (minérios e grãos) continuam subindo em volume, mas enfrentam preços mais baixos no mercado internacional.
Uma observação final. As importações perdem ímpeto. No primeiro trimestre ainda cresciam a um ritmo de 3,1% em 12 meses. Agora crescem apenas 0,8%. Isso indica que a redução de poder aquisitivo do consumidor brasileiro em consequência da inflação também está contendo as importações.

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