quinta-feira, 8 de novembro de 2012

MUNDO: Republicanos, à beira de guerra civil, após fracasso eleitoral

De OGLOBO.COM.BR
Enviada especial 

Mitt Romney deve sair da cena política, e partido avalia erros da campanha 
Lágrimas conservadoras. Em Las Vegas, eleitoras republicanas choram após o anúncio da reeleição de Barack Obama - David Becker/Getty Images/AFP 

BOSTON, EUA — Durou apenas cinco minutos o discurso do republicano Mitt Romney reconhecendo a derrota na eleição presidencial. Sem sequer sinalizar um caminho para o futuro de seu partido ou uma mínima agenda de oposição, como geralmente fazem os líderes partidários derrotados, Romney deixou no ar a sensação de que está se retirando da política eleitoral, como sua mulher, Ann, já havia antecipado que ele faria em caso de derrota. Mitt Romney deu apenas um recado com teor político significativo, em favor da negociação de acordos entre republicanos e democratas, com a superação do impasse permanente que marcou a relação do presidente reeleito Barack Obama com a Câmara, dominada pelos republicanos, nos últimos dois anos. 
- A nação está num momento crítico. Não podemos arriscar brigas partidárias e mesquinharias políticas - afirmou. 
As divisões dentro do Partido Republicano começaram pelas explicações conflitantes para o fracasso nas urnas, o primeiro passo no que muitos analistas imaginam que será uma “guerra civil” dentro da legenda. 
Romney parece ter confiado excessivamente em suas credenciais como executivo para, diante de uma situação econômica complicada, com a taxa de desemprego em torno de 8% ao longo de toda a campanha, derrotar Barack Obama. Ontem de manhã, na Fox News, Karl Rove, ex-assessor do presidente George W. Bush e ainda hoje um dos principais estrategistas republicanos, reconhecia que a campanha de Romney não havia sido suficientemente convincente na argumentação de por que o republicano seria melhor para a economia. 
Os problemas do candidato opositor remontam a 2008, quando assinou um artigo no “New York Times” intitulado “Let Detroit go bankrupt” (“Deixem Detroit ir à bancarrota”), opondo-se à proposta de resgate da General Motors e da Chrysler com dinheiro público. O resgate de Detroit foi feito, salvando 1,1 milhão de empregos, a maioria deles nos estados do Meio-Oeste, assegurando a Obama as vitórias nos cruciais Ohio, Michigan e Wisconsin, uma barreira que serviu como dique de contenção quando a campanha democrata se viu à beira do precipício, após a derrota do presidente no primeiro debate na TV, dia 3 de outubro. 
Busca do voto latino é consenso 
O caso Detroit foi decisivo para o sucesso dos esforços da campanha de Obama em pintar Romney como um líder corporativo interessado apenas em números e balancetes, sem solidariedade com as pessoas comuns. Nas pesquisas de boca de urna, 81% dos eleitores apontaram Obama como o mais capaz de entender os problemas da classe média, enquanto 18% citaram Romney. 
No terreno das percepções, o vídeo garimpado por um neto do ex-presidente democrata Jimmy Carter (1977-1981) no YouTube mostrando Romney dizendo a um grupo de doadores de campanha que “47% dos americanos dependem do governo e se recusam a assumir responsabilidade sobre suas próprias vidas” foi um elemento-chave. Pesquisas apontam que o impacto da frase dos 47% reduziu as chances de Romney em Ohio. 
O segundo maior erro de Romney foi ter virado as costas ao eleitorado hispânico, que pela primeira vez passou a representar 10% do total e que optou por Obama em uma proporção ainda maior que em 2008. Na última derrota, com John McCain, os republicanos haviam obtido 31% dos votos dos latinos. Com Romney, essa marca foi para 27%. Como governador de Massachusetts, entre 2003 e 2007, Romney foi ativo na adoção de políticas anti-imigração. Talvez essa tenha sido a única área na qual não mudou de opinião. Mas ele poderia ter se poupado de falar em “autodeportação” em debates transmitidos por emissoras nacionais de TV. 
Ontem, no debate aberto sobre o futuro do partido, a necessidade de mudar de atitude em relação aos latinos, e rápido, parecia ser o único consenso. Os números das pesquisas com os eleitores que votaram ontem apontaram também que 65% dos americanos hoje acreditam que deve haver um caminho para a legalização dos imigrantes que entraram no país sem visto. 
- O movimento conservador deve ter um apelo especial para as pessoas das minorias e das comunidades imigrantes que estão tentando subir na vida, e os republicanos precisam trabalhar mais para comunicar nossas crenças a elas - disse o senador republicano Marco Rubio, cubano-americano da Flórida, considerado a maior estrela em ascensão entre os latinos filiados ao partido e que esteve cotado para ser candidato a vice. 
O último dos grandes erros de Romney foi abraçar toda a agenda conservadora, muitas vezes à custa de contorcionismos verbais para se ajustar a posições defendidas no passado. Romney endossou posições extremas do partido - ou se calou - no combate à legalidade do aborto em qualquer circunstância, a recusa ao financiamento público para o planejamento familiar, a rejeição dos direitos dos homossexuais, a negação das mudanças climáticas e a oposição ao investimento em energias renováveis. Um comportamento que fez os republicanos parecerem “o partido de ‘Mad Men’ no país de ‘Modern Family’, na definição de Matthew Dowd, estrategista da reeleição de Bush, em entrevista ontem no programa “Good Morning, America”, da ABC. 
Na corrida para 2016, Romney, derrotado nas primárias em 2008 e na eleição de terça-feira, é carta fora do baralho. O candidato a vice em sua chapa, o deputado reeleito Paul Ryan, líder da ala fiscalmente conservadora do partido, será um nome comentado, assim como Marco Rubio. E o governador de Nova Jersey, Chris Christie, é o primeiro na fila de governantes e ex-governantes, que inclui ainda um sobrenome famoso: Bush, Jeb Bush, ex-governador da Flórida e um dos primeiros a entender o desafio latino colocado diante do partido.

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