Da FOLHA.COM
BRENO COSTA
FILIPE COUTINHO
DE BRASÍLIA
O governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz (PT), pagou R$ 7.500 para o
policial militar João Dias Ferreira na mesma época em que o PM ameaçava delatar
um esquema de desvio de recursos em convênios do Ministério do Esporte, quando o
órgão era comandado por Agnelo (2003-2006).
As transferências - três depósitos de R$ 2.500, com intervalo de cerca de 30
dias entre cada um - constam dos extratos bancários de Agnelo remetidos pelo BRB
(Banco de Brasília) à CPI do Cachoeira esta semana, e aos quais a Folha
teve acesso.
A assessoria do governador, procurada na manhã desta quinta-feira (23), ainda
não se manifestou sobre o caso.
Os pagamentos ocorreram nos 1º de fevereiro, 4 de março e 31 de março de
2008. Na época, Agnelo, então no PC do B, era diretor da Anvisa (Agência
Nacional de Vigilância Sanitária). Em dezembro de 2007, dois meses antes do
início dos pagamentos, uma auditoria do ministério identificou fraudes em
convênios firmados com ONGs de João Dias.
Lula Marques-13.jun.12/Folhapress |
Agnelo Queiroz (PT-DF) em depoimento à CPI do Cachoeira |
Com a auditoria, a Polícia Militar do DF abriu uma sindicância para
investigar João Dias, que passou, então, a pressionar o ministério a recuar e,
segundo o próprio, ameaçou revelar à imprensa as irregularidades ocorridas na
gestão Agnelo.
Em abril daquele ano, o ministério, já comandado por Orlando Silva (à época,
do mesmo partido de Agnelo Queiroz), esvaziou a apuração contra a ONG de João
Dias. Na ocasião, o ministério havia enviado um ofício em resposta à Polícia
Militar relatando irregularidades nos convênios e afirmando que eles estavam
inadimplentes. No entanto, cinco dias depois, o ministério enviou um novo ofício
pedindo que o parecer anterior fosse desconsiderado.
Em outubro passado, o policial afirmou à Folha que o recuo ocorreu "pouco
depois de fazer ameaças de denunciar à imprensa irregularidades no ministério".
O sigilo bancário de Agnelo só foi enviado à CPI do Cachoeira pelo BRB,
controlado pelo governo do DF, quase dois meses depois do prazo estipulado e
gerou reclamação formal da comissão ao banco.
OPERAÇÃO SHAOLIN
O policial João Dias Ferreira chegou a ser preso em abril de 2010, numa
operação da Polícia Civil do DF, batizada de Operação Shaolin - uma referência
às ONGs do policial, ligadas à prática de artes marciais. A acusação era
relativa aos desvios ocorridos, segundo a polícia, no Programa Segundo Tempo, na
época em que Agnelo Queiroz era o ministro do Esporte.
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