De OGLOBO.COM.BR
João Sorima Neto
BC diz que câmbio continua flutuante, mas operadores lembram que instituição atua sempre que cotação oscila
SÃO PAULO — A volatilidade da moeda americana caiu ao nível mais baixo em um
ano, segundo operadores de câmbio. Eles dizem que isso acontece porque o Brasil
tem hoje uma banda informal para a flutuação da moeda americana, com piso de R$
2,00 e teto de R$ 2,10. Desde julho, o dólar comercial tem oscilado pouco, entre
R$ 2,02 e R$ 2,01, com pico de R$ 2,04 no dia 1 de agosto.
Nas corretoras de câmbio, há um indicador de volatilidade que mostra essa
calmaria em relação às oscilações da moeda americana. Esse indicador, calculado
com base nas opções de compra e venda de dólar para 30 dias à frente, mostra que
os investidores esperam uma oscilação diária média de apenas 0,6%. No segundo
semestre do ano passado, a oscilação esperada era de 2,2% ao dia.
Para João Medeiros, sócio-diretor da corretora Pionner, na prática o câmbio
está sendo administrado pelo Banco Central e deixou de ser flutuante. Na
terça-feira, houve uma indicação muito clara disso. Bastou o dólar chegar a R$
2,007 para que o BC interviesse vendendo contratos de swap cambial reverso, uma
operação que equivale a vender dólares no mercado futuro.
— Ficou claro para o mercado que a banda informal está entre R$ 2,00 e R$
2,10. O BC mantém a moeda acima de R$ 2,00 com o argumento de ajudar a indústria
exportadora. E abaixo de R$ 2,10 para evitar pressões inflacionárias — diz
Medeiros.
Segundo o Banco Central, o regime de câmbio continua sendo o flutuante. Mas
na prática, desde maio o dólar oscila dentro da banda, e sob atuação do BC. No
dia 23 de maio, a moeda chegou a operar a R$ 2,10 e o BC anunciou uma oferta de
swap cambial tradicional, operação que equivale à venda de dólar no mercado
futuro. A cotação caiu para R$ 2,05 após o leilão.
De acordo com operadores de câmbio, na semana passada, um grande banco suíço
trouxe cerca de US$ 3,5 bilhões ao Brasil. O resultado é que a cotação começou a
recuar até chegar aos R$ 2,007 na terça-feira.
— Imediatamente, o BC atuou para evitar que o dólar caísse abaixo de R$ 2,00.
O problema é que se a situação no exterior melhorar e o dólar começar a ceder,
será muito oneroso para a autoridade monetária brasileira manter a moeda
americana dentro da banda informal — afirma Alfredo Barbutti, economista-chefe
do BGC Liquidez.
Além da vigilância do BC, o mercado de câmbio está fraco neste mês, o que
contribui para redução da volatilidade. O próprio leilão de swap reverso feito
pelo BC mostrou menor apetite do mercado. Foram ofertados 50 mil contratos, o
equivalente a US$ 2,5 bilhões, e vendidos apenas 7 mil, ou US$ 350 milhões.
— Não existem grandes negócios que justifiquem uma mudança de patamar do
dólar em breve. O mercado de câmbio está com pouca liquidez. Há cautela dos
investidores em tomarem posições no mercado de câmbio já que existe o risco de
um calapso na Espanha e Itália, que poderia trazer prejuízos — diz Reginaldo
Galhardo, gerente de câmbio da corretora Treviso.
Para João Medeiros, da corretora Pionner, nesse cenário de câmbio controlado
ficou mais difícil fazer previsões sobre a cotação da moeda no fim do ano. Ele
diz que a vontade do BC deve prevalecer e o dólar tanto pode estar mais próximo
de R$ 2,00 ou R$ 2,10. Já o sócio da corretora de câmbio NGO, Sidney Nehme,
estima que a moeda americana deve chegar a dezembro mais próxima de R$ 2,10.
— O fluxo cambial está negativo. E há um saldo elevado de importações a
resgatar, cerca de US$ 15 bilhões. Mesmo com um saldo positivo na balança
comercial, o fluxo financeiro ficará negativo. Além disso, acredito que haverá
um aprofundamento da crise na Europa, que pode levar o dólar a um patamar mais
alto — avalia Nehme.
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