Lucianne Carneiro
Em bancos, incluindo a Caixa, aplicação mínima pode ser de até mil reais para abrir poupança
RIO - Ícone de aplicação simples e ao alcance do pequeno investidor, a
poupança está se tornando menos acessível: bancos estão exigindo depósito mínimo
entre R$ 50 e R$ 1 mil de quem pretende abrir uma caderneta. Os valores mínimos
foram encontrados pelo GLOBO em dezenove de 35 agências no Rio dos cinco maiores
bancos do país — Caixa Econômica Federal, Banco do Brasil, Itaú Unibanco,
Bradesco e Santander.
Para especialistas no setor bancário, com a redução das taxas de juros no
país ao seu menor patamar histórico, as instituições financeiras viram seus
ganhos com empréstimos reduzirem, o que pressionou as margens de lucro e levou
as empresas a direcionarem ainda mais o foco para produtos com maior retorno,
como os fundos de investimentos. Além disso, a preocupação com os custos
aumenta, tornando mais rígidas as metas para o desempenho das agências.
— Os bancos querem vender outros produtos, que deem mais margem financeira
que a poupança — diz o economista.
Nas sete agências da Caixa consultadas pelo GLOBO, foi exigido mínimo de
aplicação de até R$ 100. Entre todos os bancos, o maior valor (mil reais) foi
encontrado numa agência do Itaú Unibanco no Leblon. Nas demais agências do banco
consultadas, o valor era de R$ 200 ou R$ 250. Quatro agências do Santander
pediram entre R$ 50 e R$ 100, enquanto outras três não exigiam depósito mínimo.
Em cinco agências do Bradesco, a abertura de poupança é franqueada a todos, mas
duas solicitaram valores mínimos de R$ 50 e R$ 70. No Banco do Brasil, não há
piso para depósito, mas três de sete unidades pediram apresentação de
comprovante de renda.
Não há regulamentação nem do Banco Central (BC) nem do Conselho Monetário
Nacional (CMN) sobre o tema, mas tradicionalmente não existia aplicação mínima
na poupança.
— A poupança é um produto popular e não deveria ter valor mínimo de
investimento. Os bancos estão sentindo a pressão das taxas de juros em suas
margens financeiras e querem ganhar com outras receitas — afirma João Augusto
Salles, analista da Lopes Filho & Associados.
Instituições selecionam cliente, diz analista
Para Luis Miguel Santacreu, da agência classificadora de risco Austin Rating,
algumas instituições já são naturalmente mais seletivas em relação a novos
clientes, mas o novo cenário aumentou a atenção dos bancos para seus custos:
— Juros menores tornam maiores os desafios das despesas e o gerente é muito
cobrado. Os bancos talvez não queiram que qualquer um seja correntista porque
talvez não seja interessante nem operacionalmente, porque sobrecarrega as
agências, nem financeiramente, porque esse cliente de poupança não usa todos os
produtos e serviços da instituição.
Na avaliação do presidente do Sindicato dos Bancários do Rio, Almir Aguiar, a
exigência de valores mínimos de aplicação da poupança está ligada às metas das
instituições financeiras.
A manicure Rejane de Souza Santos foi uma das candidatas a clientes
prejudicadas. Com R$ 50 nas mãos, foi à Caixa com o objetivo de abrir uma
caderneta, mas não conseguiu:
— Disseram que eu precisava de R$ 500 para abrir a poupança. Cheguei a ligar
para a Ouvidoria da Caixa, mas disseram que cada agência pode determinar o
valor.
O GLOBO esteve na agência indicada por Rejane, mas o funcionário não
confirmou a exigência de R$ 500 para a abertura da caderneta. Mas, no Serviço de
Atendimento ao Consumidor (SAC), informaram que cada agência tem liberdade para
fixar o valor mínimo.
Bancos dizem que casos são pontuais
A aplicação financeira mais tradicional do país vem recebendo grande volume
de recursos desde que o BC começou a baixar os juros básicos da economia,
reduzindo a rentabilidade de fundos. Como não tem cobrança de taxa de
administração ou Imposto de Renda, a caderneta oferecia ganhos mais altos, já
que tinha garantido rendimento de TR mais 0,5% ao mês. Para contornar a
situação, o governo alterou o cálculo de remuneração para 70% da taxa básica,
quando esta atingir 8,5% ao ano ou ficar abaixo disso, o que aconteceu em junho.
Em julho, a captação líquida (depósitos menos retiradas) foi de R$ 6,048
bilhões, um recorde.
Procurados, Caixa, Bradesco e Santander informaram que foram casos pontuais e
que não há investimento mínimo para quem quer abrir uma poupança. O Itaú
Unibanco afirmou que a aplicação inicial para a modalidade é de R$ 50. Já o
Banco do Brasil disse que segue circular do BC para evitar lavagem de dinheiro
no que se refere à comprovação de
renda.
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