Do BAHIA NOTÍCIAS
Por SAMUEL CELESTINO - A TARDE
Temor sobre o que virá em termos de revelações da CPI Mista de Cachoeira se
generaliza tanto no governo quanto na oposição. Em conseqüência, “balança o chão
da praça” dos Três Poderes e isso poderá acontecer logo no início, com o
depoimento de Antônio Pagot, que comandou o Dnit, e, logo depois, descontrolado
com os acontecimentos, se desligou do PR, que detinha como se fosse seu o
Ministério dos Transportes. Informa-se que ele estaria disposto a não deixar
pedra sobre pedra e revelar tudo o que sabe sobre a influência de Carlinhos
Cachoeira na área que comandava.
Uma matéria do jornal “O Globo”, na sua
edição de ontem, relatava justo a apreensão acima referida de uma forma bem
brasiliense: “alguns parlamentares davam, nesta terça-feira, novo apelido à
investigação: CPI Jim Jones, porque vai morrer todo mundo abraçado, numa
referência ao suicídio coletivo em 1978, na Guiana, que tinha à frente um líder
de uma seita americana”.
Enquanto de um lado há a suposição de que a CPI
vai apenas colocar à luz o que já foi apurado pelo Ministério Público e pela
Polícia Federal, outros acham que não, como é o caso do pessoal do PR. O
deputado Blairo Maggi, um dos mais destacados do partido, teria advertido a
ministra de Relações Institucionais, Ideli Salvatti, sobre o estado
descontrolado de Pagot.
Maggi usou o termo “fio desencapado” para relatar
o desvario do ex-diretor geral do Dnit, que pretenderia falar, ao depor, “de
tudo quanto é obra de rodovia e quem ordenou os contratos bichados em cada
estado”. Se assim for, é exatamente o contrário do que pensa Maggi sobre Pagot,
porque relatar o que se sabe é tudo o que se pretende e espera desta CPI, que
nasceu estranha, por iniciativa do PT, e mais estranha ainda porque com as
bênçãos de Lula em desacordo com o pensamento da presidente Dilma
Rousseff.
Esta Comissão Parlamentar de Inquérito é muito diferente das
outras já feitas nesta torta República. A princípio, não deveria interessar nem
ao governo nem à oposição, ambos pecadores, mas o PT preferiu seguir a voz rouca
de Lula e não seria a oposição que assumiria o ônus de dizer não. Poderá
acontecer de tudo se surgirem “fios desencapados” nos depoimentos ou, quem sabe,
se Carlinhos Cachoeira deixar de lado o silêncio e revelar o que foi por ele
plantado. Nesse caso, como aqui na Bahia, para lembrar a trilha musical de “Deus
e o Diabo na Terra do Sol”, de Glauber, a seca no semiárido não permitirá que se
materialize o verso “o sertão vai virar mar”, é possível que o mar se desloque
para o Planalto Central e inunde o Centro-Oeste com um tsunami de corruptos
afogados.
A CPI nasceu na suposição de que ela tiraria o foco da opinião
pública voltada para o Supremo Tribunal Federal e o julgamento do mensalão.
Deu-se justo o contrário: a pressão aumentou, inflamou os ministros do STF,
acendeu, mais ainda, os holofotes da imprensa e o início do julgamento deverá
acontecer ainda neste primeiro semestre, para o desespero dos 38 mensaleiros
transformados em réus, dentre eles José Dirceu, segunda estrela do PT
nacional.
Enfim, deu tudo errado para os petistas. A CPI está instalada e
já começa a funcionar. Nesse início, servirá para esquentar o clima de
expectativa que estará nervosamente à flor da pele quando o ministro presidente
do Supremo, Carlos Ayres Britto, abrir a primeira sessão de uma série, para
julgamento de um dos maiores escândalos da história republicana.
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